A China exortou o Reino Unido a manter suas mãos longe de Hong Kong nesta quarta-feira, enquanto Londres conclamou Pequim a honrar os compromissos que assumiu quando a cidade foi devolvida em 1997, agravando uma crise diplomática a respeito da ex-colônia britânica.
A China atacou o secretário das Relações Exteriores britânico, Jeremy Hunt, como “desavergonhado”, e disse que fez uma queixa diplomática a Londres depois que o chanceler alertou para as consequências de a China negligenciar seus compromissos de garantir liberdades básicas.
“Nas mentes de algumas pessoas, elas veem Hong Kong como ainda sob o comando britânico. Elas esquecem… que Hong Kong agora voltou aos braços da pátria-mãe”, disse o embaixador chinês em Londres, Liu Xiaoming. “Eu lhes digo: mantenha suas mãos longe de Hong Kong e mostrem respeito. Esta mentalidade colonial ainda está assombrando as mentes de algumas autoridades ou políticos”, disse Liu a repórteres. A guerra de palavras crescente entre China e Reino Unido vem na esteira de protestos em massa em Hong Kong contra um projeto de lei, agora suspenso, que permitiria extradições à China continental. Na segunda-feira, centenas de manifestantes do território sitiaram e invadiram o Legislativo local após uma manifestação que lembrou o aniversário de sua devolução ao controle chinês em 1997. A China classificou os episódios de violência como um “desafio patente” à fórmula “um país, dois sistemas” mediante a qual Hong Kong vem sendo governada há 22 anos. Na terça-feira, Hunt avisou que haverá consequências se a China não respeitar a Declaração Sino-Britânica Conjunta de 1984 no tocante aos termos da devolução de Hong Kong, que permite liberdades inexistentes na China continental, como o direito de protestar. Hunt é um dos dois candidatos que disputam o lugar da primeira-ministra, Theresa May, e seu rival Boris Johnson disse à Reuters nesta quarta-feira que também apoia o povo de Hong Kong “a cada passo do caminho”. Os comentários irritaram claramente Pequim. O embaixador chinês em Londres repreendeu o Reino Unido e disse que uma intromissão em Hong Kong causaria um “problema no relacionamento” entre os dois países. “O governo do Reino Unido escolheu ficar do lado errado: fez comentários inadequados não somente para interferir nos assuntos internos de Hong Kong, mas também para apoiar os fora da lei violentos”, afirmou Liu. A turbulência foi desencadeada por um projeto de lei de extradição que, segundo oponentes, minaria o tão valorizado Estado de Direito de Hong Kong e daria a Pequim o poder de processar ativistas em tribunais da China continental, que são controlados pelo Partido Comunista. (Reportagem adicional de David Stanway, em Xangai, e Andrew MacAskill, Kate Holton e Guy Faulconbridge, em Londres)