Liz Elaine Lôbo
Produção: Elna Souza
No dia 18, no entanto, o ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, informou que das 40 mil escolas da França, 70 foram fechadas novamente por surgimentos de novos casos da Covid-19. O governo francês também informou que realizará segundo turno de eleições municipais em 28 de junho, mas o Primeiro-ministro acrescentou que essa decisão é ‘reversível’, dependendo da evolução da epidemia no país.
França e Alemanha, os dois maiores países da União Europeia, propuseram, esta semana, a criação de um fundo de recuperação de € 500 bilhões (cerca de R$ 3,12 trilhões) para oferecer ajuda aos setores e regiões mais atingidos pelo impacto econômico da pandemia do novo coronvírus. Em entrevista exclusiva à revista Embassy, Gilles Pecassou, Encarregado de Negócios da Embaixada da França no Brasil, fala da situação do país e das medidas do governo francês para “salvar” o setor de turismo. Segundo o diplomata, foi lançado um plano de 18 bilhões de euros para o setor. Pecassou garante ainda não ter havido interrupção do fluxo de exportação da França para países da Europa , nem para o Brasil. Leia agora a entrevista completa.
Embassy – Como está sendo feito o plano de desconfinamento na França? Vai-se estender o estado de emergência?
O confinamento na França foi suspenso no dia 11 de maio. O processo está ocorrendo de maneira gradual, local (em cada departamento), reversível (caso seja observado um aumento de casos) e com base em dados científicos. Seu sucesso dependerá do senso de responsabilidade da população. Os franceses foram convidados a limitar suas saídas e contatos com outras pessoas para evitar a contaminação. Também pedimos que os deslocamentos sejam feitos só quando realmente necessário e que as empresas privilegiem o teletrabalho. A máscara é obrigatória para maiores de 11 anos em todos os transportes públicos. Nos primeiros dias, a abordagem está sendo didática, mas em caso de recusa, a pessoa pode receber uma multa de 135 euros. Outro exemplo: os deslocamentos de mais de 100 km estão autorizados apenas por razões familiares ou profissionais estritamente necessárias e exigem a apresentação de uma autorização. O estado de emergência foi prorrogado até julho.
Embassy – Quais são os maiores desafios no país para a volta à normalidade após a pandemia?
A reabertura do país foi possível porque o confinamento imposto à população francesa desde o dia 18 de março produziu os efeitos esperados. A situação está melhorando na França. Nas últimas semanas, os números indicaram uma diminuição, lenta mas regular, de pacientes hospitalizados e de pacientes em terapia intensiva. No entanto, devemos continuar nossos esforços para conter a pandemia. O país soma mais de 140 mil casos confirmados de coronavírus e 28 mil mortes desde o início da crise. A diminuição da pressão da epidemia no sistema de saúde e a nossa capacidade de testar a população permitiram uma retomada parcial da atividades em algumas regiões, enquanto outras continuam submetidas a regras mais rígidas.
Embassy – A França deve modernizar sua política migratória?
Neste momento, a prioridade da França em termos de política de migração é conter a pandemia para a proteção de todos. É por esse motivo que as fronteiras francesas permanecerão fechadas:
– as restrições nas fronteiras francesas serão mantidas pelo menos até 15 de junho com os países europeus, com exceção de casos específicos ;
– as fronteiras do espaço Schengen permanecem fechadas até nova determinação;
– uma quarentena está sendo estudada para franceses que vivem no exterior, o que afetará diretamente nossos compatriotas que moram no Brasil
Embassy – Quais foram os impactos econômicos no país, principalmente no setor de turismo?
Por enquanto, viagens na França, tanto para os franceses quanto para os estrangeiros, permanecem restritas para a proteção de todos. Entretanto, como lembrou nosso presidente Emmanuel Macron, o setor de restaurantes, hotéis, turismo e lazer, contribuem com a “arte de ser francês”. Um plano de 18 bilhões de euros foi lançado para salvar o setor do turismo, que representa quase dois milhões de empregos diretos e indiretos e quase 8% do PIB. As empresas do setor já se beneficiaram de inúmeras medidas:
– 6,2 bilhões de euros em empréstimos garantidos pelo Estado foram pré-concedidos a 50 mil empresas do setor, o equivalente a quase 10% do total de empréstimos garantidos pelo Estado;
– 1,4 milhão de trabalhadores foram beneficiados com medidas que permitem a redução da carga de trabalho e a manutenção dos salários.
– Medidas específicas de adiamento do pagamento de impostos e encargos sociais e acesso ao Fundo de solidariedade, específico a pequenas e médias empresas, também se aplicam ao setor do turismo.
No intuito de ir além, o governo elaborou um conjunto de medidas de apoio que permitem, por exemplo, que empresas do setor hoteleiro, de restaurantes e turismo tenham acesso facilitado a empréstimos.
Embassy – Quais são as políticas públicas implementadas para os pequenos e médios empresários?
O governo criou um plano econômico de apoio emergencial de 110 bilhões de euros (660 bilhões de reais), no qual:
– 42 bilhões visam permitir o adiamento do pagamento de encargos sociais e fiscais pelas empresas, no intuito de reduzir suas despesas imediatas;
– 24 bilhões são destinados à viabilização da « atividade parcial », um dispositivo que permite reduzir ou suspender temporariamente a atividade dos trabalhadores, dando-lhes direito a receber uma indenização paga pelo empregador e pelo Estado;
– 7 bilhões são destinados ao Fundo de Solidariedade para ajudar empresas de pequeno porte, trabalhadores autônomos, microempreendedores e profissionais liberais particularmente afetados pelas consequências da epidemia;
Além disso, o Estado francês se compromete a garantir 300 bilhões de euros em empréstimos bancários às empresas; no final de abril, 50 bilhões de empréstimos garantidos foram concedidos pelos bancos, empréstimos esses que beneficiaram, em sua grande parte, médias, pequenas e microempresas.
Embassy – A expectativa é de que eventos culturais e desportivos, como a Volta da França, retornem só a partir do início de setembro. Foram dadas opções de acesso à cultura francesa online a exemplo de passeios virtuais em museus?
O Ministério da Cultura se mobilizou imediatamente para oferecer aos franceses, bem como a todos os amantes da nossa cultura, uma plataforma que permite a todos visitar um museu, assistir a um concerto ou uma peça de teatro, ler um livro ou ainda participar de um debate, tudo de forma virtual e gratuita. A Embaixada também montou uma agenda personalizada que reúne recursos culturais digitais gratuitos e bem variados, destinados a todos os públicos, tais como exposições on-line, concertos e shows. São muitas opções que nos aproximam da França, da língua francesa e das novidades culturais. Além disso, o governo francês tomou várias medidas para apoiar financeiramente os agentes e profissionais do setor cultural (extensão dos direitos dos trabalhadores temporários até agosto de 2021, fundo de compensação para produções de filmes e séries, etc.).
Embassy – A França é uma grande exportadora de trigo, houve alguma grande queda nessa área? Como ficam as importações e exportações para o Brasil nesse tempo de coronavírus?
As exportações francesas de cereais permaneceram dinâmicas no primeiro trimestre – principalmente as de trigo – apesar das dificuldades logísticas ligadas à aplicação de medidas de proteção para os funcionários das empresas. Seus clientes europeus e, sobretudo, os não pertencentes ao bloco continuaram apresentando uma alta demanda, a qual se justifica por uma estratégia de formação de estoques com vistas ao enfrentamento dos riscos de abastecimento durante a crise.
As exportações agrícolas e agroalimentares para o Brasil seguem um ritmo normal neste período de Coronavirus. Não houve interrupção do fluxo. Os agentes de exportação franceses tiveram que adaptar as suas atividades e implementar medidas de gestão da contaminação a fim de garantir a segurança de seus empregados, mas isso não afetou as exportações. A França continua sendo um parceiro de confiança e deseja assim dar continuidade ao comércio mundial durante a pandemia, evitando restrições que poderiam ser prejudiciais. Os ministros da Agricultura dos países do G20 estabeleceram no final de abril uma declaração reiterando esses princípios. Um comunicado do mesmo tipo foi assinado por vários outros países, inclusive o Brasil, e entregue à OMC no final de abril.