Cofundador e curador Casa Árabe, Rubens Hannun escreve artigo sobre a missão da entidade. A iniciativa tem entre os seus nortes a promoção da união da coletividade árabe e o fortalecimento da imagem árabe no Brasil, indo além das fronteiras da cultura.
Passado mais de um século e meio do início da imigração árabe ao Brasil, seu contingente cientificamente conhecido compreende 6% da população brasileira. Esse percentual representa praticamente o mesmo número de habitantes de São Paulo, a maior cidade do País, espalhados por todo o território brasileiro. Estamos falando de imigrantes e de várias gerações de descendentes árabes, perfeitamente integrados ao país e com posição de protagonismo e liderança na sociedade civil, como nos segmentos empresarial, político, cultural, econômico, de comunicação, entre outros.
Por este motivo, a Casa Árabe, fundada no final de 2020, veio preencher um espaço que estava vago, com necessidade premente de ser preenchido.
A população brasileira-árabe ou árabe-brasileira demonstra uma ligação com suas origens que engloba orgulho, identificação, manutenção de hábitos e comportamentos, entre outros. A contribuição ao desenvolvimento do Brasil e a integração à sociedade brasileira são perfeitas e devem ser utilizadas ainda mais para a união e fortalecimento da comunidade.
Também a população brasileira de outras origens – que não a árabe – tem nítida e declarada admiração pelos árabes que moram no Brasil. Essas constatações deixam claro que as bases para o fortalecimento destes sentimentos estão bem construídas.
O fortalecimento é necessário uma vez que, dispersa no território nacional, a comunidade árabe no Brasil pode ir perdendo sua ligação com as origens, não só pelo tempo, mas também pela falta de convívio entre si, pela carência de informações atualizadas e, por inúmeras vezes, enviesadas notícias veiculadas pelas mídias nacional e internacional, que decorrem de desconhecimento e pouco contato com a cultura.
Assim também pode ocorrer com a população brasileira, impregnada de pouco conhecimento ou de conhecimento superficial e influenciada por campanhas errôneas e míopes.
Desta forma, a Casa Árabe pode e deve trabalhar no caminho de promover o convívio e a união da coletividade árabe no Brasil através de instrumentos planejados e utilizados estrategicamente, envolvendo cultura, formação, comunicação e informação/inteligência de mercado.
Acrescente-se a seu público os brasileiros de outras origens, agregando a seu conteúdo o conhecimento completo, real e profundo da cultura, valores, princípios, hábitos, atitudes e comportamentos com uma visão histórica e contemporânea.
Ela pode se transformar no “Centro de desenvolvimento institucional das relações entre Árabes e Brasileiros” e cumprir seu propósito de “Administrar e promover a imagem Árabe para obtenção do real valor de sua contribuição, seus valores e seus princípios”.
Com isto a Casa Árabe será capaz de gerar ainda mais entrosamento, engajamento e valorização, seguindo no caminho de seu objetivo: “…exercer o papel de um polo de valorização e difusão do patrimônio material e imaterial dos povos árabes e de seu entorno brasileiro, respeitando as diferentes temporalidades históricas, a diversidade e a pluralidade cultural. Ao mesmo tempo o projeto visa contribuir para o diálogo entre esses valores e os princípios universais para a construção efetiva de uma cultura de paz.”
O protagonismo e a liderança da Casa Árabe no Brasil será efetivo com a conquista da Licença Social para Operar (LSO), termo que empresarialmente se utiliza para explicar quando uma empresa tem a outorga informal da comunidade em que está inserida.
Para a conquista da LSO plena, será preciso subir os degraus da Legitimidade, Credibilidade e Confiança. Um degrau alimentando o outro em uma escada dinâmica, sem fim. A cada degrau, uma vitória. E assim será se, a cada novo acontecimento envolvendo árabes, as reflexões, discussões, ações e reações forem, além de imediatas, abrangentes, não carregadas de preconceitos, esclarecedoras e imparciais do ponto de vista político e religioso.
Com atuação unificada e colaborativa de todas as lideranças, sejam elas pessoas físicas, ONGs, empresas e profissionais, sua atuação pode e deve ir assumindo um papel e alcance com potencial de extrapolar as fronteiras da cultura e de seu próprio país de origem, o Brasil.
Os dados sobre a comunidade árabe no Brasil citados acima fazem parte das pesquisas “A Imigração Árabe ao Brasil” etapa Projeções e “A Imigração Árabe ao Brasil” etapa Trajetórias, feitas pelos institutos IBOPE e H2R Pesquisas Avançadas em 2020 a pedido da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, e da pesquisa “Laços de Amizade”, feita pela H2R Pesquisas Avançadas para a Embaixada do Sultanato de Omã em 2015.
*Rubens Hannun é cofundador e curador da Casa Árabe, e ex-presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira