Rachel Alves Nariyoshi
A primeira menção à variedade é de 1783 com a grafia Carmeyere. Depois surgiram outras como Cabernelle, Caremenelle, Carmenénègre e Carmeneyre. Em 1866, a grafia Carménère foi citada por André Jullien em seu livro Topographie de tous les vignobles connus.
É originária de Gironde/França e estava desaparecida desde o século XIX por conta do inseto Filoxera (Phylloxera vastatrix), uma praga que assolou quase todos os vinhedos europeus no período de 1865-1890.
Um século depois da devastação causada pelo filoxera, em 24 de novembro de 1994, no Chile, o ampelógrafo francês Jean Michel Boursiquot que estava participando de congresso sobre Viticultura naquele país, foi convidado a visitar os vinhedos da Viña Carmen para conhecer uma parreira que seria uma mutação da Merlot, conhecida por Chilean Merlot ou Merlot Noir. Esta parreira apresentava características particulares como: folhas com coloração avermelhada e amadurecimento em algumas semanas depois das demais variedades viníferas. Acreditavam os chilenos que era uma variedade autóctone do Chile, já que era o único país que a cultivava.
Após estudos e análise de parentesco do DNA, Boursiquot descobriu que se tratava de uma outra uva diferente da Merlot, identificada como sendo a Carménère, uva extinta no mundo. Ainda pelo DNA, descobriu-se que a Carménère é filha de Cabernet Franc em cruzamento com a Gros Cabernet e meia-irmã da Cabernet Sauvignon e da Merlot. Possivelmente mudas da Carménère foram levadas para o Chile por imigrantes europeus, junto com outras variedades francesas, no século XIX.
Em 1998 o Ministério da Agricultura do Chile reconheceu a variedade e a partir de daí, liberou o nome Carménère para ser impresso nos rótulos das garrafas dos vinhos elaborados a partir desta variedade. Desde então, a Carménère foi repatriada no Chile e tornou-se a uva emblemática desse país, atualmente responsável por boa parte dos vinhos chilenos de excelente qualidade.
Mas como a Carménère sobreviveu ao filoxera? Graças ao isolamento geográfico do Chile: é um país cercado pela Cordilheira dos Andes a leste, pelo Oceano Pacífico a oeste, pelo deserto de Atacama ao norte e pelo gelo da Antártica ao sul. Com toda essa proteção, os parreirais são protegidos naturalmente, livres de pragas, inclusive da praga filoxera.
E seus vinhos? De modo geral, os vinhos varietais de Carménère são profundamente coloridos, elegantes, bem estruturados, com taninos sedosos e aveludados. Apresentam aromas que remetem a frutas negras maduras. São fáceis de serem apreciados e harmonizados.
O Carménère Day é organizado pela Wine Of Chile. Salud!
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Marco na Viña Carmen onde a variedade Carmenère foi redescoberta.