Súsan Faria
Fotos: Eliane Loin
O projeto tem apoio do deputado Joe do Vale e deve ser apresentado ao governador Rodrigo Rollemberg. O assunto foi falado durante a cerimônia Vesak que reuniu representações diplomáticas de nove países asiáticos e convidados no Templo Budista.
A lua cheia de todo mês de maio é uma ocasião especial para os países do Sudeste Asiático. Eles comemoram o Vesak – o dia do nascimento, iluminação e morte do Buda, ou a festa das luzes.
Em Brasília, a comemoração – reconhecida pela Organização das Nações Unidas em 1999 – foi realizada sábado, 26, no Templo Budista, na quadra 315/316 Sul. Na ocasião, o líder do Templo, o monge Shojo Sato falou sobre a cerimônia e também a respeito do Jardim-Museu Oriental-Candango, que pode ser construído no amplo terreno vazio nos fundos da instituição. Veja detalhes na entrevista exclusiva do monge à Revista Embassy Brasília.
O deputado Joe do Vale (PDT), presidente da Câmara Legislativa do DF, se colocou a disposição para ajudar a aprovar a liberação do terreno junto ao templo para construir o museu, segundo ele, um espaço para o conhecimento e visitas. “É um sonho que temos para que essas cerimônias também possam ser engradecidas com esse espaço”, disse. O deputado afirmou que sua agenda está à disposição do monge e do governador Rodrigo Rollemberg para discutir o projeto e fazer uma visita conjunta ao espaço, ainda esta semana. Por fim, afirmou que “esse é um momento importante de transição, que precisa de ajuda espiritual. É um momento de dificuldades, de autocrítica, de sair do individual para o coletivo”.
Embaixadores e representantes do corpo diplomático de países do Sudeste Asiático, parlamentares e convidados prestigiaram o Vesak, que começou com a batida do sino grande pelos monges e o cortejo de meditação silenciosa ao redor do templo, com as velas acesas.
Em seguida, foi realizada a cerimônia religiosa na nave do templo e confraternização. Depois, houve apresentações de Yoga e Tai Chi Chuan. A cerimônia religiosa foi conduzida pelo monge Shojo Sato, da Escola Mahayana, juntamente com o monge Ajahn Mudito da tradição Theravada.
“Esse é um evento religioso, social e cultural significativo”, disse o monge Sato. Na ocasião, ele citou a capacidade sonhadora e executora de Juscelino Kubistcheck e sua equipe, “sem a qual não estaríamos aqui”; e lembrou os candangos e os pioneiros japoneses budistas que levantam o Templo Budista. “Tivemos a Novacap, que doou o terreno, e depois o Governo de Brasília, que reconheceu o Templo como Patrimônio Histórico do Distrito Federal, até regulando a urbanização ao seu redor”, comentou, destacando a necessidade de uma sociedade mais humana, equitativa e solidária.
O monge Sato disse que já encaminhou ao governador Rodrigo Rollemberg e à primeira Dama, Márcia Rollemberg, o requerimento para conceder licença para implantar no terreno adjacente ao Templo, o Projeto Conceitual de Jardim-Museu Oriental-Candango.
O monge Ajahn Mudito, nascido em São Paulo (SP) e radicado em São Lourenço, no Vale Caxambu, no Sul de Minas Gerais – onde está construindo um mosteiro, em área de 26 hectares -lembrou que a tradição budista tem 3.600 anos, se originou na Índia e se desenvolveu em outras vertentes. “A cultura budista é rica e se diversificou. É uma religião peculiar que ensina como melhorar a si mesmo e ter uma mente saudável”, disse. Explicou que o budismo ensina como enxergar o mundo de maneira mais inteligente, criar uma energia espiritual e uma mente eficiente. Buda, segundo ele, “aponta esse caminho com maestria”.
Diplomatas – Os embaixadores da Índia, Nepal, Vietnã, Myanmar e Sri Lanka participaram da cerimônia, que reuniu as representações diplomáticas de nove países. Também estavam representantes da Coreia, da Indonésia, da Malásia e da Tailândia, embaixada responsável pela coordenação do evento. O Templo foi todo enfeitado com lanternas coloridas. O público apreciou uma mostra dos grandes templos budistas no mundo, chá cingalês e pratos típicos dos países asiáticos, como samosa (fritos triangulares recheados com uma mistura condimentada de feijão), rolinho primavera e lampreia (springroll com legumes e frango), servidos gratuitamente pelas embaixadas.
ENTREVISTA COM O MONGE SHOJOSATO:
Qual a importância desse projeto do Jardim-Museu Oriental Candango?
O Templo Budista é patrimônio histórico de Brasília e tem todo o passado inclusive dos pioneiros que fundaram o templo, mas é histórico também para apontar um futuro ecumênico.
Na prática, o que se pretende construir?
É um jardim-museu. Porquê? Porque não vamos encher de prédio esse terreno atrás. Não pode haver construção que prejudique a visão do templo, essa visão não pode ser perturbada. Jardim porque queremos uma área aberta, se possível, sem cerca.
O que falta para construir? A terra é de vocês?
Está faltando uma autorização oficial, uma concessão, para que possamos trabalhar essa ideia, esse projeto que tem uma proposta educacional-cultural.
Além da autorização, é preciso recursos do GDF para construir e administrar o jardim-museu?
Se o GDF ajudar, tudo bem, mas vamos buscar esses recursos. Esses países todos asiáticos certamente têm interesse em fazer parte desse museu. Essas culturas orientais podem estar representadas e é importante que seja em convênio com o GDF para, por exemplo, as crianças da rede pública possam visitar o museu e tomar conhecimento de uma cultura ainda é exótica para nós.
Então, a própria administração do templo administraria o Jardim-Museu?
Sim, essa seria sob a nossa responsabilidade. E para começarmos a conversa com as embaixadas e possíveis patrocinadores precisamos ter uma garantia de que podemos desenvolver esse projeto.