| Oda Paula Fernandes
O Chile é país na América Latina com maior extensão geográfica. A diversidade daquela nação pode ser apreciada com a flora e a fauna ricas, além de uma geografia impressionante. De clima subtropical, há neve nas montanhas das cordilheiras, deserto, campos e praias. As cidades, históricas guardam os traços dos colonizadores espanhóis.
Desde o império, Chile e Brasil são parceiros na política, na economia e fazem negócios bilionários. O embaixador chileno no Brasil, Jaime Guzmari, recebeu a equipe da Embassy Brasília e falou, com exclusividade, sobre a importância dessa relação bilateral, da história do seu país e das perspectivas econômicas para o futuro. Guzmari também apontou os entraves que permeiam a realidade na America Latina, no tocante a logística. Acompanhe a entrevista.
Embassy Brasília – O Chile comemorou recentemente o aniversário da independência. O que essa data representa ao povo chileno?
Jaime Guzmari – A data Nacional é a nossa maior festa, muito popular que eu comparo com o carnaval, todo mundo sai e vai às ruas festejar. Em 18 de setembro comemoramos o início do processo independentista, ou seja, a instalação do que se chamou de Primeira Junta Nacional de Governo, que foi o primeiro governo decretado no Chile. Para contagens históricas, comuns em países da América Latina, tivemos a invasão Napoleônica no governo da Espanha. A diferença, entre o Brasil, é que o rei de Portugal escapou de Napoleão e veio parar aqui nas Américas, no Rio de Janeiro. De modo que o governo espanhol entregou a coroa para os franceses e isso provocou uma rebelião, tanto na Espanha quanto nas colônias da América do Sul. E surgiu o primeiro movimento, de criar um governo independente, que o Chile se deu. Isto aconteceu, mais ou menos na mesma data, em todas as colônias da America Latina. Mas esse processo de independência do Chile foi longo e muito disputado. O reinado do Peru enviou o exército para uma reconquista para os espanhóis, foi uma guerra muito longa. O processo de independência desses países da America Latina foram também político e militar, e os povos participaram, como a expedição San Martin, reconquistou Lima.
Embassy Brasília – Diante dessa trajetória histórica, como o Senhor define os Chilenos?
Jaime Guzmari – Persistentes e resistentes. Houve um empenho do governo espanhol em manter as colônias, em especial as mais fortes, que era Peru e Lima e então o vice-rei reorganizou a conquista do Chile. Nós, da América Latina, temos isso em comum com as independências, com os dois nomes importantes, San Matin no Sul e Simon Bolívar no Norte, na Venezuela.
Embassy Brasília – Quais são as relações entre Brasil e Chile, nas cooperações bilaterais?
Jaime Guzmari – Nossas relações são muito amigáveis, começou desde o império. A última grande festa que Dom Pedro II deu foi em honra a um navio de guerra chileno que fazia uma visita oficial ao Rio de Janeiro. Como você pode perceber, nossas ligações são estreitas e desde o começo criamos uma corrente de simpatia mútua, não tivemos conflitos ao longo da história. Facilita por não termos limites territoriais, então não temos problemas de demarcação das fronteiras. No comércio, para nós o Brasil é o primeiro parceiro na América Latina, e para o Brasil, Chile é o segundo – o primeiro é a Argentina – Chile importa petróleo, produtos industriais e carne do Brasil. E nossa exportação para o Brasil é o cobre, e basicamente agroalimentares, frutas – seca, frescas e em conserva –, vinho e pescados, como é o caso do Salmão. De todo salmão consumido no Brasil, 95% vem do Chile. Além disso, exportamos adubos químicos para agriculturas. Algumas peças para mineração. Temos uma área de cooperação na Antártida, com o Brasil.
Embassy Brasília – Nesta relação comercial, em média, quanto é o faturamento anual?
Jaime Guzmari – Temos um comércio bastante ativo. Nós fazemos negócios na casa de US$ 8 bilhões por ano e a balança está favorável ao Brasil. Há uma corrente muito forte de investimentos chileno no Brasil e o estoque dessas inversões atinge US$ 30 bilhões. Em uma economia média, como é a nossa, é muito importante, é maior que o investimento da Itália, por exemplo. Invisível porque está espalhada em muitos estados do Brasil em diferentes setores – varejo, bebidas, celulose, supermercados. Há uma diversidade grande, em um país que é muito grande. Agora, estamos interessados em desenvolver essa corrente do Brasil com o Chile, porque o balanço, na área de investimentos, está muito desigual, apesar de o Brasil ter uma economia nove vezes maior que a chilena.
Embassy Brasília – Há programas específicos de apoio para investidores internacionais?
Jaime Guzmari – A BestChile apóia empresas estrangeiras, nesse caso as brasileiras. Temos algumas condições, como país, que podem ser atraentes para os investidores. A nossa economia é sólida, com boas regulações na área financeira e ambiental, sem dívidas, sem inflação. Além disso, temos acordos e tratados de livre comércio com as maiores economias do mundo. O Chile tem uma economia muito aberta e seria interessante para o Brasil investir não só olhando o mercado chileno – que é um mercado médio de 8 milhões de habitantes e com a renda per capta maior na América Latina – mas também podemos ser uma base de cadeia de valor, para aproveitar as vantagens que tem a produção chilena com co-produção brasileira para entrar nos grandes mercados da Ásia e da America do Norte sem tarifas.
Embassy Brasília – Quais os principais entraves e gargalos que o Chile enfrenta?
Jaime Guzmari – Estamos negociando um acordo de mercado de capitais de serviços financeiros, compras públicas. Tentamos passar de uma realidade de acordos de livre comércio de bens, um nível superior, porque o comércio exterior já não é só um comércio de bens. A dupla tributação é u desafio. Estamos numa política que chamamos de Convergência na Diversidade, para fazer convergir mais negócios no MERCOSUL e com o Brasil. Precisamos avançar muito ainda. Se comparar com nosso comércio global, o que temos aqui é muito baixo o valor. E queremos exportar mais produtos de maior valor agregado. No Brasil, não temos livre circulação, não temos infraestrutura para o transporte, nas alfândegas há muito tráfego e encargos. Precisamos gerar um conjunto de iniciativas para integrar mais nossas economias. Se olhar o mapa, uma parte das economias vai para o atlântico e outra, para o pacífico. Podíamos explorar as duas costas. Já está em andamento um projeto bem importante, um projeto para as rodovias, mas ainda está longe de ser o que precisamos.