Eliane Oliveira
BRASÍLIA — Mudanças à vista na embaixada do Brasil na Argentina. O atual secretário de Negociações Bilaterais na Ásia, Pacífico e Rússia do Itamaraty, Reinaldo Salgado, assumirá o posto em Buenos Aires no lugar de Sérgio Danese, embaixador naquele país desde o governo do ex-presidente Michel Temer.
Reinaldo Salgado tem ampla experiência em temas relacionados à integração, incluindo o Mercosul. Devido ao cargo que ocupa atualmente, Salgado se aproximou do presidente Jair Bolsonaro nas viagens presidenciais feitas à Ásia em 2019 e neste ano, com destaque para Índia, China e Japão. Salgado foi um dos escolhidos pelo chanceler Ernesto Araújo para ajudar na reformulação da política externa brasileira.
Segundo fontes do Ministério das Relações Exteriores, a troca de embaixador faz parte da rotina da diplomacia. Embora Danese tenha ido para o posto no governo anterior, ele tem tido um papel importante na convivência entre autoridades dos dois países e seu nome sempre foi respeitado entre os colegas de carreira. Danese é autor de vários livros sobre política externa e diplomacia, incluindo “Diplomacia presidencial”.
A alteração do titular da embaixada do Brasil em Buenos Aires ocorrerá em um momento delicado nas relações entre Brasil e Argentina. Os presidentes dos respectivos países, Jair Bolsonaro e Alberto Fernández, não se dão desde a campanha presidencial argentina, no ano passado. Bolsonaro defendia, publicamente, a reeleição de Maurício Macri para a Presidência do país vizinho. Chegou a dizer que os argentinos fugiriam para o Brasil se a “esquerdalha” vencesse em seu país. Desde então, as trocas de farpas acontecem de tempos em tempos.
Na campanha, Fernández defendeu a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que na época estava preso na Polícia Federal em Curitiba. O presidente brasileiro se recusou a ir à posse de Fernández, em dezembro de 2019. Com isso, quebrou uma tradição nas relações entre os dois vizinhos.
As tensões diminuíram em fevereiro deste ano, quando Bolsonaro, durante uma visita a Brasília do chanceler da Argentina, Felipe Solá, sugeriu uma reunião bilateral com Fernández no Uruguai, na posse do novo presidente Luis Lacalle Pou. A reunião não ocorreu porque a posse aconteceu no mesmo dia do discurso anual do presidente argentino ao Congresso.
A pandemia de coronavírus também motivou mais um arranhão nas relações bilaterais. Fernández, que se antecipou ao declarar quarentena total e conseguiu até agora evitar uma explosão de casos da Covid-19 na Argentina, criticou o comportamento de Bolsonaro frente à doença. Disse que o Brasil poderia entrar na mesma espiral da Itália.
A Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, mas as trocas comerciais têm sido fortemente afetadas pelas crises econômicas nos dois países. No final do governo Macri, que havia obtido um empréstimo de US$ 50 bilhões do FMI, a Argentina entrou em um virtual défault. Na semana passada, o governo Fernández apresentou aos credores externos sua proposta de renegociação da dívida.