SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto tateia em sua conflituosa relação com a China e a Rússia, o novo governo americano de Joe Biden envia sinais de prontidão militar para os rivais, visando demarcar território.
Não que haja qualquer perspectiva de confronto no curto prazo. Mas novos governos nos EUA costumam ser testados por seus adversários acerca de sua disposição para o jogo usual de provocações mútuas.
O movimento mais forte foi a criação de uma força-tarefa no Pentágono para a China, com a missão de em quatro meses fazer um relatório avaliando os riscos que Pequim traz a Washington. “O foco da força-tarefa é conter os esforços chineses”, afirmou o governo, em nota.
Em estudo de dezembro, o Departamento de Defesa já havia apontada a China como ameaça maior aos EUA. Não só como potência militar, mas também pelo desafio estratégico que sua ascensão econômica representa.
Outros movimentos foram mais convencionais. Também na terça, a Marinha americana iniciou um raro exercício com dois grupos de porta-aviões no mar do Sul da China. Pequim considera 85% da região, que concentra suas vitais rotas comerciais marítimas, sua.
Para tanto, militarizou rochas e criou ilhas artificiais em toda a zona. Os EUA costumeiramente desafiam essa noção de soberania, condenada abertamente pela primeira vez em 2020, enviando navios para o que chama de operações de liberdade de navegação.
Como o nome diz, trata-se de asseverar que as águas são internacionais, como determinaram as Nações Unidas num julgamento de disputa entre Filipinas e China que Pequim não reconhece.
Há duas semanas, o grupo de porta-aviões liderado pelo USS Theodore Roosevelt já havia entrado no mar do Sul da China, logo depois da posse de Biden. Agora, está acompanhado pelo grupo do USS Nimitz. Ao todo, são os dois gigantes de propulsão nuclear, cada um com cerca de 90 aviões, mais seis navios de guerra.
A última vez em que exercícios militares duplos do tipo aconteceram na região foi em junho passado, no auge das tensões pelas críticas americanas ao que chamam de expansionismo da ditadura comunista. Para completar, um submarino de ataque nuclear francês também opera na área.
Trump criou a chamada Guerra Fria 2.0 contra o governo liderado por Xi Jinping ao longo de seu mandato, estimulando contenciosos em diversas áreas: da prevalência do fornecimento de redes 5G à guerra tarifária, passando pelo manejo da pandemia e a questão da autonomia tolhida de Hong Kong.