Berço do Islã, em menos de um século, o país passou de um reino subdesenvolvido a uma das nações mais ricas do Oriente Médio. Tudo graças ao petróleo, responsável por cerca de 75% do PIB nacional.
| Oda Paula Fernandes/ Liz Elaine Lôbo
Fotos: Eliane Loin
O Reino da Arábia Saudita celebra, nesse sábado(23), o 87º aniversário de independência. Para celebrar a data no país, neste fim de semana, pela primeira vez, mulheres puderam entrar em estádio para assistir ao espetáculo musical, em Riad, capital. A informação foi dada pela Autoridade Geral de Entretenimento, em comunicado oficial. Em Brasília, uma festa será oferecida no próximo dia 25 de setembro, na embaixada, somente para convidados.
No Brasil, especialmente em São Paulo, há vários árabes e descendentes que se estabeleceram aqui com suas famílias. Na capital federal, o embaixador árabe-saudita, Hisham Sultan Alqahtani, recebeu a equipe da revista Embassy Brasília e conversou com exclusividade sobre a importância da data, do crescimento do islamismo que, segundo ele, é a religião que mais cresce do mundo, dos eventos culturais, de economia externa e de sua fácil adaptação aos costumes e à gastronomia brasileira. Veja a entrevista:
Embassy Brasília – Quais são as datas mais relevantes para o povo árabe-saudita?
Hisham Sultan Alqahtani – Além da data nacional comemorada em 23 de setembro em todo país, nós temos duas outras datas importantes, religiosas, que comemoramos. Uma é no final do mês de jejum do ramadã (nas tradições islâmicas, a observação do jejum torna-se um dos melhores termômetros para medir as raízes no mundo do Islã. Atualmente é a religião que mais cresce em nível global e na prática da crença. Em 2017 o início foi em 27.05) e outra no mês de peregrinação à Meca, que são as festas muçulmanas de Eid al-Fitr, que marcam o final do Ramadã, e Eid al-Adha, que conclui a peregrinação anual à Meca. Mas há muitas comemorações culturais ao longo do ano. A mais importante é o “janadrie”, um festival cultual histórico anual. Participam muitos Estados do mundo, como convidados e todo ano tem um hóspede especial. é uma participação de todas as regiões do reino mostrando suas culturas e suas tradições em dança, culinária e tem as conferências culturais e são convidados, de todas as partes do mundo, pessoas mais cultas. Uma mistura de folclore e literatura.
Embassy Brasília – Por quanto tempo mais se espera que a religião islâmica permaneça como ela é atualmente?
Hisham Sultan Alqahtani – Na verdade todas as religiões do mundo pregam a fraternidade, o amor e a paz entre os povos e entre os indivíduos, essa é uma coisa comum entre as religiões.
Embassy Brasília – Na área de comércio exterior como estão as relações entre Brasil e a Arábia Saudita? E como ficou a importação em especial das carnes brasileiras, depois dos problemas com alguns produtores e processadores do Brasil?
Hisham Sultan Alqahtani – Não teve nenhuma influência porque o governo brasileiro vetou as empresas que não estavam de acordo com as exigências de exportação. Tiveram de fato algumas observações para algumas companhias, mas o comércio continua a mesma coisa. Compramos do Brasil, entre muitas coisas, carnes bovinas e aves. As trocas comerciais entre os dois países estão na casa de US$3 bilhões de dólares, com superávit a favor do Brasil de US$ 1.3 bilhões.
Embassy Brasília – Além de alimentos, quais áreas de maior movimentação comercial entre ambos os países?
Hisham Sultan Alqahtani – Importamos maquinário agrícola, sapatos, gêneros alimentícios. O Brasil também compra muitos dos nossos produtos, como pedras preciosas, por exemplo.
Embassy Brasília – Quais são as cooperações entre Brasil e a Arábia Saudita?
Hisham Sultan Alqahtani – Temos muitas visitas. Há cinco meses o ministro da agricultura do Brasil esteve na Arábia Saudita e no próximo mês o nosso ministro da agricultura vem ao Brasil, para uma reunião com o ministro da agricultura brasileira. Além disso, temos acordos em campos da cultura, de esporte e de transporte. Temos ainda parcerias entre os governos na área técnica e tecnológica. Não muitos entre as empresas no campo privado.
Embassy Brasília – Como o senhor se sente na nossa capital e do que gosta do Brasil?
Hisham Sultan Alqahtani – Estou feliz em servir no Brasil e desejamos toda sorte de progresso social. Queremos o desenvolvimento das relações do Brasil com todos os povos. Gosto do estrangeiro, temos dez milhões de descentes de árabes em todo o mundo, aqui no Brasil, em São Paulo e Rio de Janeiro, que conheço, como ainda em algumas cidades do Sul e do Amazonas. Acho o povo brasileiro muito acolhedor. Gosto da comida da Bahia, da moqueca à moda baiana, dos assados e da feijoada.
Embassy Brasília – Falando em culinária, quais são os pratos mais comuns, no dia-a-dia dos árabe-sauditas?
Hisham Sultan Alqahtani – Temos vários pratos típicos. Um dos mais populares é o capsa, uma receita à base de arroz e carne ou arroz e frango, sempre com temperos e feito na panela, em camadas. São dois ingredientes muito parecidos com a culinária do Brasil.
Conhecendo a Arábia Saudita
A Arábia Saudita é o principal parceiro comercial do Brasil no Oriente Médio e é segundo fornecedor de petróleo no mundo, atrás apenas da Nigéria. Em 2012, o comércio bilateral superou US$ 6 bilhões. Anteriormente dominadas por produtos agrícolas, sobretudo carnes e açúcar, as exportações do Brasil para a Arábia Saudita passara incluir, desde 2005, produtos de alto valor agregado.
Com a segunda maior reserva de petróleo e a sexta maior reserva de gás natural do mundo, a Arábia Saudita é classificada como uma economia de alta renda pelo Banco Mundial e possui o 19º maior PIB do mundo. Por ser o maior exportador mundial de petróleo, o país garantiu sua posição como um dos mais poderosos do mundo, além de também ser classificado como uma potência regional e de manter sua hegemonia regional na Península Arábica.
O país é membro do Conselho de Cooperação dos Estados Árabes do Golfo Pérsico, da Organização da Conferência Islâmica, do G20 e da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).
Economia – A economia saudita é amplamente apoiada por sua indústria de petróleo, que responde por mais de 95% das exportações e 70% das receitas do governo, embora a parte da economia que não depende do setor petrolífero tenha crescido nos últimos tempos. Isto facilitou a transformação de um reino desértico e subdesenvolvido em uma das nações mais ricas do mundo, possibilitando a criação de um Estado de bem-estar social.
A implantação de técnicas de irrigação fez com que a Arábia Saudita tenha conseguido cultivar diversas culturas, com destaque para a produção de trigo, tâmara, tomate, melancia, cevada, uva, pepino, abóbora, berinjela, batata, cenoura e cebola.
História: Localizado no Oriente Médio, no oceano asiático, o reino faz fronteira com seis países por terra e com cinco por mar. Ocupa uma área de 2.149.690 km2. Berço da religião islã, a Arábia guarda costumes milenares, e apesar de ser uma região desértica, tem 41 cidades e 25,7 milhões de habitantes. O regime de governo é a monarquia absoluta.
As cores da bandeira são verde e branco. O verde representa o Islão e os elementos que a compõe são uma espada e a Shahadad, ambos na cor branca. Shahadad é o primeiro dos cinco pilares do Islamismo e tem o sentido de fé islâmica no ensinamento de que “Não há outra divindade digna de adoração exceto Alá, e Maomé é seu profeta”, segundo o livro sagrado, o alcorão.
O Reino da Arábia Saudita foi fundado pelo rei Abd al-Aziz Al Saud em 1932. A fundação se deu depois da unificação dos reinos de Hejaz e Néjede, e o novo Estado foi nomeado al-Mamlakah al-Arabyah as-Sudyah (Reino da Arábia Saudita). Contudo, as conquistas que levaram à criação do Reino começaram em 1902, quando Riade foi conquistada.
Quando o rei Fahd sofreu um enfarte em novembro de 1995, o seu sucessor, então príncipe-herdeiro Abdallah, assumiu a condução do governo. Morto o rei Fahd, em 1º de agosto de 2005, Abdallah sucedeu-lhe, convertendo-se no rei do país, até 22 de janeiro de 2015, quando também faleceu. Em 23 de janeiro daquele ano, seu meio irmão Salman bin Abdalaziz Al Saud tornou-se legatário do trono.