Sul e Norte tratarão de questões militares e reencontro das famílias separadas na guerra
O Globo
O ministro da Unificação sul-coreano, Cho Myoung-gyon (esq.) e o chefe da delegação norte-coreana, Ri Son Gwon, trocam documentos assinados em reunião em Panmunjom – AP
Após a Coreia do Norte cancelar repentinamente uma reunião planejada com a Coreia do Sul, autoridades dos dois países retomaram o diálogo nesta sexta-feira na vila fronteiriça de Panmunjom, na Zona Desmilitarizada que divide a Península Coreana, e agendaram um encontro em 14 de junho no mesmo local para tratar da reconciliação. Enquanto os EUA se esforçam para remarcar a cúpula entre Donald Trump e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, os governos coreanos pretendem abordar questões militares e políticas.
Já para 22 de junho, os países devem se reunir para falar sobre a reunião de famílias separadas pela Guerra da Coreia em menos de duas semanas, informaram os dois governos em um comunicado conjunto.
Após uma cúpula intercoreana considerada bem-sucedida entre Kim e o presidente sul-coreano Moon Jae-in em abril, o hiato do diálogo ocorreu devido à suspensão unilateral de Pyonyang em maio, em reação defensiva a uma operação militar anual entre EUA e Coreia do Sul na Península Coreana. Ri culpou Cho durante o encontro por ter motivado uma “grave situação” que levou o Norte a cancelar de última hora a rodada de negociação no mês passado. Para Pyongyang, o exercício conjunto é considerado uma provocação à soberania do regime de Kim Jong-un.
Agora, para demonstrar que continua comprometida com a aproximação e cooperação diplomática, a Coreia do Norte sugeriu a realização de um evento em Seul para celebrar o aniversário da primeira cúpula intercoreana, realizada em junho do ano 2000, informou o governo sul-coreano. As autoridades norte-coreana propuseram que autoridades, políticos e integrantes do setor privado de ambos os lados devem participar da celebração da primeira cúpula.
Desta vez, o encontro foi liderado pelo ministro da Unificação da Coreia do Sul, Cho Myoung-gyon, e por Ri Son Gwon, líder da comissão da Coreia do Norte para a reunificação pacífica. Os dois lados debateram formas de dar continuidade ao acordo alcançado na cúpula intercoreana de abril, que inclui cooperação militar, esportiva e ambiental, disse o Ministério da Unificação sul-coreano à imprensa.
A reunião de 22 de junho, prevista para acontecer no resort de Monte Kumgang, no Norte, se presta a tratar de um assunto que ficou como ressentimento entre os dois países desde a Guerra da Coreia (1950-1953), sobretudo a população mais velha: a separação das famílias com a divisão entre Norte e Sul. Com a cisão, milhares de famílias ficaram sem a possibilidade de obter notícias dos parentes dado o isolamento político-econômico determinado pelo Norte.
Desde 1985, 19 rodadas de reuniões destas famílias foram realizadas com a participação de cerca de 18.880 coreanos, escolhidos aleatoriamente. Mais da metade dos 66 mil sul-coreanos que aguardam essa possibilidade de reencontro tem 80 anos ou mais. A última reunião foi promovida em setembro de 2015.
Além disso, a delegação do Sul pediu que os países componham logo um gabinete conjunto na cidade fronteiriça norte-coreana de Kaesong, onde as duas Coreias operavam um complexo industrial juntos até seu fechamento em 2006. A delegação do Norte concordou, mas ressaltou que é preciso trabalho de reparação porque as instalações estão defasadas.
O encarregado norte-coreano não especificou motivo, mas também criticou Seul por ter permitido Thae Yong Ho, ex-diplomata do Norte no Reino Unido que acabou desertando para o Sul lançar um livro no Parlamento sul-coreano, no qual descreve Kim Jong-un como “impaciente, impulsivo e violento”.
O Norte também exige a repatriação de 12 trabalhadores norte-coreanos, que cruzaram para o Sul em 2016 através da China, reivindicando que foram sequestrados pelo governo sul-coreano. Seul, por sua vez, alegou que eles desertaram por vontade própria.
— Não falamos sobre o que aconteceu no passado. Vocês só não precisam repetir — sustentou Ri.
A autoridade norte-coreana também não aprofundou, mas mencionou que um ponto debatido em janeiro com Cho se tornou “uma fonte de desconfiança entre Norte e Sul”: a opinião pública.
— É um problema muito sério. Dependendo de como conduzir a opinião pública, isso decide se é criada não uma intenção de reconciliação e cooperação ou desconfiança e confronto entre Norte e Sul — advertiu Ri.
Cho concordou que os dois lados devem aprimorar a transparência sobre o que é debatido nas negociações e acelerar os esforços para melhorar as relações bilaterais.