Text to Speech
Venho como peregrino de paz, em nome de Cristo, Príncipe da Paz. Quanto rezamos ao longo destes anos pela paz no Iraque! São João Paulo II não poupou iniciativas, e sobretudo ofereceu súplicas e sofrimentos por isso. E Deus escuta; escuta sempre! Cabe a nós ouvi-Lo. Calem-se as armas! Limite-se a sua difusão, aqui e em toda a parte!”
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
O primeiro discurso do Papa Francisco em terras iraquianas foi no Palácio Presidencial, em Bagdá, e dirigido às autoridades, à sociedade civil e ao Corpo Diplomático.
Depois da cerimônia oficial de boas-vindas e da visita de cortesia ao presidente da República, Barham Ahmed Salih Qassim, o Pontífice expressou publicamente a sua gratidão por poder realizar esta Visita Apostólica, “longamente esperada e desejada” – visita esta que hoje se realiza enquanto o mundo está tentando “sair da crise pandêmica da Covid-19”.
Nas últimas décadas, afirmou, o Iraque sofreu os infortúnios das guerras, o flagelo do terrorismo e conflitos sectários muitas vezes baseados no fundamentalismo. De modo especial, o Pontífice citou os yazidis, “vítimas inocentes duma barbárie insensata e desumana”.
“Tudo isto trouxe morte, destruição, ruínas ainda visíveis… E não só em nível material! Os danos são ainda mais profundos, quando se pensa nas feridas dos corações de tantas pessoas e comunidades que precisarão de anos para se curar.”
A vez da harmonia
Hoje, acrescentou, o “Iraque é chamado a mostrar a todos, especialmente no Oriente Médio, que as diferenças, em vez de gerar conflitos, devem cooperar harmoniosamente na vida civil.”
O Santo Padre ressaltou os apelos da Santa Sé às autoridades competentes no Iraque, como noutros lugares, “para que concedam a todas as comunidades religiosas respeito, direitos e proteção”. O reconhecimento da fraternidade universal é o elo capaz de permitir a superação dos conflitos, aliada à solidariedade que leva a praticar gestos concretos de cuidado e serviço.
“Penso naqueles que perderam familiares e entes queridos, casa e bens primários por causa da violência, da perseguição e do terrorismo; mas penso também em todas as pessoas que lutam diariamente à procura de segurança e dos meios necessários para sobreviver, enquanto aumentam desemprego e pobreza.”
Neste contexto, aumenta a responsabilidade de políticos e diplomáticos para contrastar o flagelo da corrupção, os abusos de poder e a ilegalidade.“Mas não basta”, afirma o Santo Padre: é preciso edificar a justiça, aumentar a honestidade, a transparência e reforçar as instituições.
Calem-se as armas!
O Papa fez então um fervoroso apelo pelo fim da violência:
“Venho como penitente que pede perdão ao Céu e aos irmãos por tanta destruição e crueldade. Venho como peregrino de paz, em nome de Cristo, Príncipe da Paz. Quanto rezamos ao longo destes anos pela paz no Iraque! São João Paulo II não poupou iniciativas, e sobretudo ofereceu súplicas e sofrimentos por isso. E Deus escuta; escuta sempre! Cabe a nós ouvi-Lo. Calem-se as armas! Limite-se a sua difusão, aqui e em toda a parte!”
Cessem os interesses de parte, os interesses externos que se desinteressam da população local. Dê-se voz aos construtores, aos artífices da paz; aos humildes, aos pobres, ao povo simples que quer viver, trabalhar, rezar em paz!
Chega de violências, extremismos, fações, intolerâncias, disse ainda Francisco, pedindo que se dê espaço e voz aos artífices da paz, ao povo simples que quer viver, trabalhar, rezar em paz!O Pontífice citou ainda o papel decisivo da comunidade internacional não só no Iraque, mas na vizinha Síria, que está prestes a completar 10 anos de conflito.
“Espero que as nações não retirem a mão amiga e construtora estendida ao povo iraquiano, mas continuem a operar em espírito de responsabilidade comum com as Autoridades locais, sem impor interesses políticos ou ideológicos.”
A religião, por sua vez, concluiu o Papa, deve estar ao serviço da paz e da fraternidade. “O nome de Deus não pode ser usado para justificar atos de homicídio, de exílio, de terrorismo e de opressão”, afirmou Francisco, garantindo a plena colaboração da Igreja Católica para a causa da paz.