| Oda Paula Fernandes
Fotos: Eliane Loin
Alemanha tem uma população de 82 milhões, é um dos maiores poderes políticos e adotou, como “código genético”, a cooperação internacional para resolver questões de ordem mundial. Depois da Segunda Guerra Mundial, restitui, a cada dia, a imagem de um povo pacífico que, capaz de aprender com os equívocos do passado, traça rumos de paz, de sustentabilidade e resolver desafios sem o armamento militar.
Neste dia 3 de outubro, os alemães celebram mais que a data nacional. O embaixador da Alemanha no Brasil, George Witschel, em entrevista exclusiva à revista Embassy Brasília, falou sobre o momento em que vive o país. A seu ver, o povo alemão, acima de tudo, celebra, nessa data nacional, a unificação de dois estados um dia foram separados pelo terror das guerras, mas que, agora, pensam e agem em coletivo. O diplomata antecipa como será a festa preparada pela sede diplomática, somente para convidados. Witschel também falou sobre como a Alemanha está mais integrada à Europa, buscando fazer uma liderança compartilhada. Acompanhe a entrevista.
Embassy Brasília – Como será celebrada em Brasília, a Data Nacional alemã?
George Witschel – Desta vez temos um conceito diferente, com um dome, uma cúpula. Será uma festa um pouco diferente das outras já comemoradas aqui. A última festa teve a comemoração de 150 dos automóveis. Neste ano, não há nenhum aniversário, digo, nada como o fim de uma guerra, ou aniversário de relações bilaterais. Mesmo as viagens dos cidadãos alemães no século, não há nenhuma referência. Então decidimos, para celebrar, a cooperação científica e por isso tema será Brasil e Alemanha – parceria de alta tecnologia! Agora, o que fazer com essa tecnologia? Servir uma cerveja, uma tenda normal ou um baile com dança não faz sentido. Por isso faremos uma cúpula com projeção de filmes que dá a impressão de algo tecnológico. Foi uma ideia fazer algo sem celebrar um aniversário nos moldes tradicionais de um aniversário. Esta tenda representa a parceria e reflete a alta tecnologia.
Embassy Brasília – O que a Alemanha tem para comemorar nesse dia 3 de outubro?
George witschel – A Alemanha celebra a unificação da Alemanha que se realizou em 3 de outubro de 1990. É um dia muito significativo porque depois da Segunda guerra Mundial a Alemanha, que foi derrubada militarmente, politicamente e também moralmente. Ela foi separada e ocupada pelas forças dos Estados Unidos da América, Grã-Bretanha e União Soviética, sendo que alguns meses, também ocupada pela França. Ou seja, uma derrota total. Nas cinzas dos campos de concentração, das cidades alemãs, dos campos de morte, uma derrota total para Alemanha e também para Europa. Como consequência da ocupação houve o fatiamento da Alemanha, o surgimento de outro estado, a república democrática da Alemanha; um país que não foi muito democrático, que não permitiu que os cidadãos saíssem do país. Como resultado de agosto de 1962, o muro de Berlim foi erguido e as duas partes foram quase que completamente isoladas. Essa tragédia para Alemanha terminou com a queda do muro, em novembro de 1989 e, finalmente, a unificação dos dois estados. A centralização foi também da Europa porque foi destruída uma cerca de arame e isso nos trouxe um bem estar enorme.
A que se deve atribuir o avanço da Alemanha, em tão pouco tempo e qual é sua visão interna da reconstrução política?
George Witschel – A Constituição da Alemanha foi a base, antes e depois da Guerra, porque é um país democrático, com um sistema econômico de livre mercado, com visão aprofundada nas questões sociais e ambiental. É um país pacífico integrado na União Européia (UE) e agora, é um código genético de integrar-se ao invés de tentar assumir o papel de poder sobre os outros países. Estamos mais modestos, não queremos governar a Europa e nos sentimos menos chefes da Europa. Não somos mais uma Europa alemã, mas uma Alemanha européia. Com este quadro e uma política independe dos governos, mas sempre no centro, sem radicalismo, conseguimos não somente construir a Alemanha depois da Segunda Guerra Mundial, entrar na UE e na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) como também fazer as pazes com países como Israel e a comunidade judaica. Foi um caminho longo, mas que seguimos sem terremotos e sem grandes divergências.
Quais foram os maiores desafios da Alemanha no pós Guerra?
George Witschel – Depois da unificação, os maiores desafios foi a defesa contra União Soviética, para garantir que a questão alemã não fosse fechada, e sim aberta à reunificação e o acesso a Berlim Oeste – por ser uma ilha isolada, no pacto de Varsóvia – essas questões foram resolvidas com muito mais energia, porque também nos ocupamos com questões globais, com outros continentes. Agora o mundo está diferente e temos o desafio da mudança do clima, da pobreza e da igualdade mundial. Mas é uma questão de todos os países também, como o terrorismo global. Mas aqui temos problemas com estados como a Rússia que não aceita o acordo pacífico erguido depois da Segunda Guerra Mundial e retificado em 1990. Na Alemanha tenta conseguir o caminho de negociações diplomáticas de apoio humanitário de cooperação para o desenvolvimento sustentável. Acreditamos que soluções militares não conseguem atingir objetivo político pacifico. Não podemos resolver esses desafios sozinhos.
Embassy Brasília – Quais são os acordo entre Brasil e Alemanha?
Na Alemanha tenta conseguir o apoio humanitário, nas cooperações para o desenvolvimento sustentável. Acreditamos que o poder militar não resolve essas questões, esses desafios. Com o Brasil nós temos vários acordos. Mas há um em andamento que é baseado em pesquisas sobre o clima. Fiz uma viagem deslumbrante no Amazonas. Foram 80 km com um general das Forças Armadas em um helicóptero com a porta aberta e sobrevoamos em volta da torre, a Atto , Amazon Tall Tower Observatory, o mais alto posto de observação para de pesquisas climáticas, com 325 metros de altura, onde a Alemanha investiu mais de 335 milhões de reais. Foi combinado intensificar as pesquisas nas áreas marítimas, de bioeconomia e terras raras.
Dentre tantos projetos, por que os de cunho ambiental, no Brasil, tem tamanha importância para a Alemanha?
Vamos dar continuidade ao projeto da Atto em cooperação com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Existe um conflito entre o desenvolvimento econômico e a proteção do clima porque esse caminho de economia sustentável que é um objetivo comum de nossos países. Em conflito com a forma tradicional de economia, pensamos que não precisamos desmatar para criar gado ou plantar sementes. Pode usar o mesmo espaço para criar mais animais, sem usar novas áreas de terra. Não queremos que o Brasil pare todas as atividades, não existe economia sem atividade comercial mas ela deve ser sustentável. O Brasil, para a Alemanha e para o mundo, é o pulmão do planeta. No Mato Grosso, 60% do terreno são reservas ambientais fechadas e os 40% que são abertos e utilizados para a agropecuária tem cerca de 1/3 destinado para a pastagem. Aqui, existe um gado para cada hectares de terra.