Em entrevista exclusiva à Embassy Comunicação, Carlos Rezende, superintendente da Confederação das Associações Comercial e Empresariais do Brasil, CACB, afirma que considera o Al-Invest um dos programas de cooperação econômica mais bem sucedidos da União Europeia na América Latina cujo objetivo é apoiar e incentivar o desenvolvimento empresarial na Região. De acordo com Carlos Rezende, o edital do chamado Al-Invest Verde 6.0, lançado em 30 de março, aposta no crescimento sustentável e na criação de empregos apoiando as micro e pequenas empresas latino-americanas na transição para uma economia circular eficiente em termos de recursos e com baixa emissão de carbono. Serão investidos 30 milhões de euros ao longo de quatro anos de projeto.
Rezende explica que há uma tendência no mercado mundial de exigir de seus fornecedores uma produção mais sustentável. “Aquelas empresas que não se adequarem às regras ambientais terão dificuldades de colocar seus produtos nos supermercados de exportá-los porque grandes empresas já começam a colocar como pré-requisito na hora de receber recursos financeiros”, afirma. Entre 2016 e 2019, A União Europeia investiu cerca de três milhões de Euros no Brasil beneficiando 17.836 micro e pequenas empresas. Leia agora a íntegra da entrevista.
Qual o ponto do edital o senhor destacaria ser o mais importante?
Na realidade todos os pontos do edital são importantes, mas eu diria que é o objeto que se pretende atender. A partir desta exposição, é que você pode identificar se você está apto, se tem condições para apresentar uma proposta formal. Então quando ele coloca lá os dois temas que podem ser trabalhados nesse edital, isso é o mais importante. Serão apoiados dois tipos de realidades à economia circular, a redução de carbono, melhoria da eficiência na utilização de recursos hídricos e energéticos.
Então a pergunta é a seguinte; a minha área tem interesse em trabalhar nesse seguimento? Então quando falamos de eficiência energética, ela pode ser tanto agroindústria ou comércio. Quando falo de recursos hídricos também, tanto na agroindústria quanto no comércio. Então nós temos, por exemplo, um consumo de água muito grande. É preciso conseguir uma solução para reduzir esse consumo ou desperdício de água. Isso ajuda bastante. Um exemplo fácil é o lavador de carro que tem um consumo alto. A partir do momento que eu encontro uma solução para diminuir esse consumo de água dele, isto ajuda bastante. Só que o edital trata de forma diferente para o seguimento da agroindústria, outro para as empresas em geral.
De que forma a Confederação vai acompanhar o edital para realmente reforçar a aliança entre a União Europeia e o Mercosul?
O Al-Invest está na versão 6, então ele já é muito conhecido por estas entidades brasileiras; de certa forma da América Latina que trabalham com fomento de micro e pequenas empresas. Só para você ter uma ideia, pegando a última versão da edição no Brasil, a CNI foi contemplada com o edital da Al-invest. Estamos falando da Confederação Nacional da Indústria, depois nós tivemos o Sebrae, toda a rede Sebrae no projeto. Ai nós temos uma entidade do nosso sistema que é do estado de Santa Catarina e depois nós temos outra entidade do Rio Grande do Sul chamada Sintecal que trabalha com a moda couro. Então, nós temos entidades muito importantes com um pragmatismo grande dentro do Brasil com amplo conhecimento. E também nós tivemos, por exemplo, outras entidades empresariais no Brasil que ingressaram ou lideram consórcios que foram concorrentes nosso neste edital. Então, respondendo a sua pergunta, primeiro que já existe um conhecimento. No nosso caso, já havia uma expectativa muito grande do público em relação ao lançamento desse edital, tanto é que tivemos a presença de grandes atores nesse evento, entidades vinculadas ao setor empresarial. Tivemos a CNI que foi contemplada, então que a gente pretende é dar a máxima visibilidade possível, usando toda nossa rede, usando a imprensa e nossos parceiros para fazer essa divulgação.
Qual a importância da Participação das federações de comércio. Todas estão engajadas?
São 27 federações ligadas a nossa confederação, com duas mil associações em todo o Brasil e cinco milhões de empresários. Não vou dizer que todas estejam engajadas, mas todas têm interesse. O projeto, primeiro, é interessante colocar, que nosso sistema não representa somente o comércio, ele representa os quatro setores da economia, o comércio, a indústria, a agricultura e assim por diante. Só por curiosidade, esse nome comércio, deriva aí daquelas praças de comércio que havia há 200 anos, quando foram criadas as primeiras entidades. Era onde os empresários faziam suas transações. O agricultor levava sua produção, o industrial levava lá suas panelas e lá eles faziam esse escambo. Uma moedinha aqui, outra ali. Então, na verdade, significa esse comércio de transação comercial e não só restrito ao comércio. Hoje, para você ter uma ideia, nosso presidente Alfredo Cotait é do segmento da indústria. Aliás, tem vários segmentos dentro do negócio dele, principalmente da construção. O Itamar Manso que nosso presidente da micro e pequena empresa, no segmento de serviços e assim vai.
Todos os nossos parceiros têm interesse. O acesso a estes recursos, ele exige técnica, estrutura, tem que ser em inglês e em espanhol. E o outro problema que existe é a dificuldade das entidades em identificar profissionais que conheçam realmente a metodologia, que saibam apresentar projetos que União Europeia exige. Eu costumo dizer que a questão da elaboração dos projetos, não só no Brasil, como no mundo inteiro, é o calcanhar de Aquiles para as instituições que oferecem recursos com a CACB. Nós tivemos um projeto aqui, último, que nós devolvemos R$ 1,5 milhão não conseguimos aplicar por falta de bons projetos, propostas. Então nós temos um público muito grande interessado, vamos dizer mais engajados, que se esforça. Temos uma limitação, no entanto, que pode dificultar o acesso a estes recursos.
Houve uma pesquisa para saber o interesse real por parte das micro e pequenas empresas?
Não, mas eu posso dizer que, com toda certeza, que há uma demanda muito grande destas empresas. Hoje todos os editais tanto no âmbito nacional quanto internacional, o empresário, por si só, ele não tem acesso a esses recursos. Isso, exceto para uma empresa especificamente que se trata de um apoio. Geralmente esse apoio se dá para grupos empresariais. Então, o mais importante é que essas empresas têm que estar vinculadas a um sindicato, a uma entidade ou a uma associação empresarial para participar da Al- Invest. Assim, o que se precisa é de um ator, um profissional que não só consiga informar essas empresas dessa oportunidade como também apoia-las no encaminhamento das propostas. Porque não é só o empresário pegar um consultor e apresentar um projeto para a União Europeia. Essa entidade vai se reunir com um grupo de empresas, identificar suas necessidades, dentro dessa linha de apoio e aí tentar elaborar uma proposta porque se não houver o consentimento dos empresários, como é que depois eles vão estar engajados dentro das ações necessárias nessa proposta.
As mulheres empreendedoras terão uma atenção especial nestes empréstimos. Como foi tomada essa decisão?
A União Europeia talvez seja, aliás, é a região mais avançada no sentido de incentivar a participação da mulher. Nós temos países, apenas a título de exemplo, que a licença maternidade pode ser tanto pelo homem quanto pela mulher. E é uma coisa justa. Quando você coloca essa licença maternidade de seis meses. Aqui no Brasil é de quatro meses, quer queira, quer não, ela acaba perdendo um pouco de competividade por estar distante do trabalho por tão longo período assim. E hoje, nessa dinâmica do mercado, isso acaba sendo prejudicial. Agora se, de repente, ela se afasta apenas 30 dias e depois já começa a compartilhar com o maridão, ela tem condições de trabalhar meio período, aí o parceiro também trabalha meio período na organização. Assim, ficam os dois ativos. Então, na Europa, já tem país que faz isso. Outra coisa interessante também é que na Alemanha, empresas acima de 500 funcionários, elas são obrigadas a ter uma mulher no seu quadro seletivo.
Porque da necessidade dessas políticas? A uma pesquisa que diz que a continuar nesse ritmo as mulheres levarão cem anos para estar no patamar dos homens. Então quando você tem essas cotas para a participação da mulher, um dos objetivos é exatamente acelerar essa participação nessa igualdade de gênero no mercado de trabalho, na oportunidade de trabalho para as mulheres. Então é por isso que a União Europeia tem uma atitude muito interessante, ela exige que um percentual de empreendimento seja dirigido por mulheres.
Porque foi falado no lançamento do Al-Invest que haverá uma preocupação com o meio ambiente. De que forma isso será feito?
Primeiro que os recursos naturais são finitos. Nós temos as águas, as árvores, a questão da proteção ambiental também que ajuda muito. Hoje nós já temos no Brasil e no mundo inteiro, uma mudança climática muito grande que, de certa forma, está associada à preservação do meio ambiente. Então rios assoreados, rios que contiam peixes, agora não contêm mais e isso acaba gerando um desequilíbrio muito grande. Obviamente nós temos que adotar políticas de estimular uma produção mais sustentável. Hoje, por exemplo, eu tenho informações de hospitais aqui no Brasil, restaurantes de hospitais, que estão, por exemplo, em vez de comprar o milho como se vende no supermercado, que vem naquela latinha, vidro, compram ensacados do produtor e congelam. Então ele já está contribuindo para a preservação do meio ambiente ao evitar aquele descarte, a necessidade da extração de mais alumínio. Então há essa tendência, a Europa, mas uma vez se destaca. Hoje alguns supermercados de lá
Eu sou da época que quando você ia comprar feijão, milho, você tinha lá um tambor grande com uma cuia que você botava quanto queria. O interessante é que está voltando, você não via tanto plástico. Na França, no período colonial, você tinha a cuia como medida. Eu fiquei impressionado outro dia com a cerveja. Antigamente você comprava uma grade de cerveja e deixava uma calção porque você tinha que devolver os vasilhames. Hoje, eu fiquei horrorizado, eu não sabia que não existe mais isto. As pessoas jogam fora, descantam o vasilhame porque o custo da distribuidora de pegar aquela garrafa e levar para lavar é maior. Você não imagina o que é descartar isto na natureza, o custo ambiental disso. Pode ser caro hoje em dia, mas no futuro seria muito mais barato se você pegasse esses recipientes, essas garrafas de cerveja, de refrigerante e reaproveitasse. Agora você simplesmente pegar tudo e jogar fora, eu acho um absurdo. Se continuarmos desse jeito, com certeza o planeta vai acabar um dia, mas assim vai acabar muito mais rápido porque não suporta o ritmo de consumo que nós temos.
Acho que é uma oportunidade muito grande esse projeto para todas as empresas da América Latina e provavelmente um alerta para as empresas que há uma tendência no mercado mundial de exigir de seus fornecedores uma produção mais sustentável. Então provavelmente aqueles que não se adequarem as regras ambientais terão dificuldades de colocar seus produtos nos supermercados de exportar seus produtos porque grandes empresas já começam a colocar isso como pré-requisito. No Brasil, infelizmente o lobby das empresas é muito grande, mas existe uma lei que já era para ter entrado em vigor do descarte como pré-requisito para o Brasil entrar na OCDE.
Nós temos também os objetivos do milênio, no qual existem várias entidades envolvidas. Uma das iniciativas lá está relacionada ao meio ambiente, ao trabalho justo. Então em tudo isso nós temos condições de contribuir. A nossa grande vantagem no sistema é de mobilizar e de estarmos dentro dos municípios. Por sermos uma entidade de contribuição voluntária, onde pagam apenas os empresários que enxergarem alguma utilidade, eles tendem a estarem mais engajados na mobilização. Hoje, por exemplo, nós temos um grande parceiro nosso, o Sebrae que tem uma grande admiração pelo nosso sistema porque às vezes ele têm dificuldades em chegar até os empresários. Agora se for de uma associação comercial em uma reunião nossa que acontece todas as segundas-feiras, você vai ver cem empresários, só da diretoria, reunidos ali para discutir os problemas deles, dos municípios e relacionados ao governo. Então é uma facilidade muito grande de levar essas ações para os projetos.
Nós temos aqui um exemplo que foi falado lá no Al-Invest, um projeto em parceria com o Sebrae chamado Empreender que existe há mais de 20 anos, que se saiu tão bem que a experiência no Brasil levou a experiência para países da África, da Ásia. Hoje nós temos entidades na Europa que utilizam essa experiência bem sucedida brasileira para levar para outros países lá fora. Nós, há três anos, sediamos um evento internacional em Foz do Iguaçu, da América Latina, para discutir essa metodologia. Existe então uma possibilidade muito grande de um sistema com esses indicadores estar no âmbito nacional.