Liz Elaine Lôbo/ Súsan Faria
Produção: Elna Souza
Os gregos estão levando a sério medidas de isolamento social e até o dia 16 de abril foram registrados 2.207 casos e 105 mortes, uma fração do número per capita na Itália, Espanha e França, que juntas registram 58 mil mortes. Escolas e universidades foram fechadas em 10 de março, apenas 13 dias após a Grécia confirmar o primeiro caso de coronavírus. As primeiras medidas para proteger o sistema de saúde da Grécia incluíram a criação de um comitê de doenças infecciosas, controles nos aeroportos e portos, medidas para informar a população e estreita comunicação com organismos europeus e mundiais de saúde.
De acordo com o embaixador Ioannis Pediotis, as unidades de terapia intensiva no país são em maior número do que as necessárias, há muitos suprimentos médicos e não faltam profissionais de saúde. Em entrevista exclusiva à revista Embassy, Ioannis Pediotis explica que os acampamentos de refugiados estão em quarentena, que as ilhas seguem as medidas da área continental e da disciplina da população, elogiada pelo primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis. Segundo o embaixador, todos os funcionários da iniciativa privada receberam um bônus de 800 Euros e continuarão recebendo até o final da pandemia e um programa econômico especial será implementado em breve. Leia agora a entrevista na íntegra
Embassy – Com tantos acampamentos de refugiados na Grécia, como fica a situação desses povos diante dessa pandemia?
Devido aos coordenados esforços estaduais, existem poucos casos e nenhum óbito. Os acampamentos estão em quarentena e assim permanecerão até que não haja riscos.
Embassy – Tendo tantas ilhas, quais as medidas tomadas pelo governo grego para conseguir controlar a movimentação de seus moradores?
Todas as ilhas, sem exceção, seguem as mesmas medidas de contenção da área continental da Grécia. A circulação foi proibida, e só pode ocorrer por motivo comprovado e por pouco tempo. Os residentes não podem se locomover além da área domiciliar declarada, a não ser, por motivos extremamente sérios.
Embassy – A Grécia tem quase 2 mil infectados e mais de 70 mortes pelo coronavírus. Como se deu a evolução da doença no país? Quais as áreas mais críticas?
A situação melhora dia após dia. A curva de óbitos é decrescente e a grande maioria dos infectados está curada. As medidas para conter a pandemia foram tomadas de forma muito rápida e assimiladas pela população. Esses fatores nos diferenciaram de outros países europeus e vem sendo destacados pela imprensa internacional.
Embassy – Uma crise econômica, bem anterior à pandemia, afetou drasticamente a Grécia. Como fica a economia agora com as contenções, os isolamentos, as proibições e medidas para conter a pandemia?
Tínhamos conhecimento que no sistema público de saúde haviam falhas. A crise econômica “ajudou” a tomarmos medidas rápidas para não haver colapso. Os resultados são claros. As unidades de terapia intensiva são muito mais do que o necessário e há muitos suprimentos médicos. A economia certamente desacelerará, como todas as economias do mundo. Mas a vida de cada ser humano é sem dúvida mais importante.
Embassy – Com a crise econômica, muitos profissionais e trabalhadores – inclusive os da saúde – saíram da Grécia para outros países. Há falta desses profissionais hoje no país? Como estão enfrentando essa questão?
Não há falta de médicos, de enfermeiros e de técnicos em enfermagem. Onde o sistema precisava ser fortalecido, contratos emergenciais foram efetivados. É impressionante o número de profissionais gregos da área de saúde que atuam no exterior em grandes hospitais, renomadas instituições e importantes universidades. Muitos deles participam de pesquisas internacionais para descoberta de fármacos e da vacina para a COVID -19.
Embassy – Está havendo alguma ajuda financeira de empresários para aqueles que precisam de apoio durante essa pandemia?
A maioria dos grandes empresários já doou milhões de euros para compra de equipamentos e construção de hospitais. A oferta de 100 milhões de Euros da «Fundação S. Niarchos» se destacou. Mas não apenas empresários ofereceram ajuda. Todos os cidadãos que têm oportunidade oferecem algo, seja confeccionando máscaras, doando alimentos ou dinheiro. Há uma grande demonstração de solidariedade e de responsabilidade da sociedade grega, constantemente repetida em tempos de crise, como ocorreu na crise econômica e na crise de imigração. Esse comportamento faz parte de nossa história.
Embassy – O turismo na Grécia era um dos orgulhos do seu povo. Como ficou esse setor com a crise? Como o governo grego apoia esse e outros setores econômicos que se encolheram a partir da pandemia?
Todos os funcionários da iniciativa privada receberam um bônus de 800 Euros e continuarão recebendo até o final da pandemia. Os servidores públicos continuam sendo pagos regularmente. Todos os passivos financeiros e fiscais dos cidadãos foram suspensos até o final de junho. Foram oferecidos para as empresas e em especial para o setor do turismo, empréstimos e subsídios com juros baixos e cortes nos impostos estão sendo avaliados. Com base nas vantagens turísticas da Grécia, esperamos que, com o fim da pandemia, o setor se recupere rapidamente. Também estamos desenvolvendo, no âmbito da União Europeia e em cooperação com nossos parceiros e a Comissão Europeia, um programa econômico especial que será implementado em breve, a fim de permitir a recuperação das economias de todos os Estados Membros.
Embassy – Como as embaixadas da Grécia estão lidando com a pandemia? De que forma têm apoiado os compatriotas no exterior? Como está sendo feito o atendimento consular e dado apoio aos gregos que moram no Brasil?
As Embaixadas e Consulados operam normalmente, mas não aceitam audiências, exceto em emergências. A comunicação é feita por telefone (celular e fixo) e por internet. A maioria dos turistas gregos no Brasil retornou à Grécia, e os gregos residentes no Brasil estão tomando todas as precauções e seguindo as recomendações de cada estado, felizmente não temos nenhum caso de COVID-19 reportado.