Por Paulo Gala, Graduado em Economia pela FEA/USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas FGV/EESP de São Paulo, onde é professor desde 2002. Foi gestor de fundos multimercado e renda fixa, hoje CEO e Economista da Fator Administração de Recursos/FAR
Nossa recuperação não virá por investimentos em fábricas, galpões, prédios residenciais e comerciais ou shopping centers por um motivo simples: existe um excesso de oferta e capacidade ociosa no país nesses setores depois da enorme expansão observada de 2004 a 2014. As fábricas brasileiras continuam vazias e as máquinas quase paradas – nenhum empresário vai investir para expandir capacidade em um ambiente desses. Em infraestrutura, a história é outra: há gargalos de capacidade nos setores de mobilidade urbana, especialmente metrô, saneamento, rodovias, ferrovias e portos em todo o país. Aqui, apesar do recuo do investimento público e do BNDES, existe grande possibilidade de expansão com a agenda de PPPs e concessões. O investimento virá por aí. A recuperação via consumo também vai ajudar. A melhora do clima e confiança mostrada nas sondagens trará um aumento de consumo das famílias, ainda que muito lento e gradual. A reversão da trajetória de alta de desemprego, ainda que com vagas informais e de baixa qualidade, trarão algum estímulo para consumo. A forte queda da SELIC vai contribuir para a redução do peso das dívidas das famílias e empresas e também para a canalização de poupanças para financiamento de projetos de infraestrutura de longo prazo via PPPs e concessões. As exportações têm contribuído, também, mas apenas em commodities e setor agrícola, que têm poder de empuxo muito baixo em nosso PIB. O canal das exportações ajuda no momento muito mais por trazer dólares via commodities. Sem um câmbio competitivo, as exportações industriais não podem dar sua contribuição para a retomada da atividade de maneira robusta.
Ainda pensando sob a ótica da demanda, a política fiscal segue contracionista e por aí não virá a retomada. Estamos em um caso clássico de livro texto de expansão monetária e contração do gasto público. Só que, dessa vez, a ociosidade da economia é enorme. Sob a ótica da oferta, nossa expansão de PIB se dará, portanto, pelos serviços e bens industriais ligados ao consumo, por obras e equipamentos ligados ao setor de infraestrutura e por produção de commodities e bens agrícolas. Será uma recuperação lenta, pois o desemprego está ainda muito elevado e o investimento público em mínimas históricas. A volta da apreciação cambial também reduz o ímpeto industrial. A inflação seguirá baixa e os juros em patamares bem menores ainda por um bom tempo.