O Irã tem interesse em continuar uma negociação aberta em 2017 com a Embraer para a compra de, pelo menos, 40 aviões comerciais produzidos pela empresa, mas teme problemas por causa de sanções contra o Irã. De acordo com o embaixador do Irã no Brasil, Hossein Gharibi, a nação asiática vê a aquisição das aeronaves como uma forma de estreitar as relações comerciais com o Brasil e, por isso, trata a proposta da Embraer como prioridade.
“Nossa proposta de comprar aviões da Embraer ainda está na mesa. Nós tivemos boas discussões até 2017, quando as discussões pararam. Mas nós estamos prontos a retomar os diálogos para a compra dos aviões da Embraer”, disse Gharibi, em entrevista ao R7
As conversas para a compra dos aviões esfriou devido a sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos ao Irã por causa de supostas infrações da nação asiática a um acordo nuclear internacional. Essas sanções impedem que empresas estrangeiras vendam ao Irã produtos com componentes americanos, que é o caso dos aviões fabricados pela Embraer. Caso haja alguma negociação, os EUA também aplicarão sanções a quem vender ao Irã.
Segundo Gharibi, existe uma expectativa de que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, retire as sanções contra o Irã neste ano. O embaixador comenta que o país asiático usa esse argumento para tentar avançar nas conversas com a Embraer, mas a empresa não quer fechar nenhum contrato antes de uma definição por parte dos EUA, de acordo com Gharibi.
O embaixador diz que continuar as negociações agora seria melhor para a Embraer, porque, com o fim das sanções, outras empresas aéreas devem procurar o Irã para vender aeronaves. Dessa forma, a proposta dos brasileiros poderia ser deixada de lado pelos iranianos.
“Já conversei com o ministro dos Transportes do Irã, e ele disse que dinheiro não é o problema no momento. Estamos dispostos a pagar o que a Embraer oferecer. Já até sugerimos que a empresa venda cinco aviões agora e o restante depois que as sanções acabarem. Assim que o CEO da Embraer quiser conversar, estaremos prontos para negociar”, afirmou Gharibi.
A reportagem questionou a Embraer sobre o andamento das negociações com o Irã, mas não recebeu retorno até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto para manifestação da empresa.
Relações do Brasil com o Irã – A relação comercial entre Brasil e Irã é pautada principalmente pela exportação de produtos agrícolas. O país asiático é um dos principais importadores de milho, tendo comprado US$ 702 milhões do produto no ano passado, 17% do total negociado pelo Brasil com o exterior em 2021. Em contrapartida, o Irã é bastante procurado pelo Brasil para a compra de fertilizantes, sobretudo ureia. Em 2021, esse fertilizante foi responsável por quase 90% dos itens importados do Irã.
“O Irã está prestes a ser o importador número 1 dos produtos agrícolas do Brasil, na nossa visão. Neste ano, nós temos a intenção de comprar 10 milhões de toneladas de milho e 5 milhões de toneladas de soja. O Brasil é uma das fontes mais importantes das nossas aquisições e nós estamos trabalhando com companhias brasileiras e associações de negócios, e também com o governo, para garantir que nós tenhamos uma forma direta, estável e sustentável de fazer negócios”, ressaltou Gharibi.
Nesta semana, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, viajou ao Irã. Segundo Gharibi, o encontro é fundamental para ampliar as relações comerciais entre os dois países.
“Nosso volume de negócios anualmente é de bilhões de dólares. É enorme na comparação com as relações bilaterais que temos com outros parceiros e que o Brasil tem com outros parceiros. Mas essa área precisa ser aprimorada de forma a atender melhor às necessidades de ambos os lados.”
Outros mercados – Na visão do embaixador, Brasil e Irã têm outros potenciais além do setor agrícola. Segundo ele, ambos os países podem ser beneficiados caso aprimorem as negociações no campo de mineração, transportes, produtos petroquímicos e equipamentos médicos.
“O Brasil é bom em termos de agricultura, mas em muitas outras áreas o país teve um resultado excelente nos últimos anos. Nós estamos interessados em achar boas áreas de cooperação em termos de mineração. Ambos os países são ricos em mineração. Então, nós precisamos achar um bom jeito de cooperar um com o outro”, observou.
“Outra área é a indústria de transportes. O Irã é um país grande e precisa de transportes, por ar e por terra. Outra área é a de equipamentos médicos e de produção de remédios. Existem startups dos dois países que podem cooperar. O Irã também é rico em termos de petroquímicos e indústria de óleo. Existem produtos iranianos famosos no mercado mundial e que raramente encontramos no Brasil e nós precisamos garantir que os produtores iranianos tenham participação no mercado brasileiro”, acrescentou.