Súsan Faria
Fotos: Eliane Loin
Os paquistaneses estão em festa nessa segunda-feira, quando todo o país celebra os 70 anos de independência. É a sexta nação mais populosa do mundo. Em Brasília, o novo embaixador do Paquistão Najm us Saqib, 56 anos, está trabalhando para que as relações bilaterais sejam cada fez mais fortes. Casado, pai de quatro filhos, advogado, escritor, mestre em Estudos de Segurança Nacional e Guerra, além de diplomata de carreira, Saqid concedeu , no dia 1º de agosto, uma entrevista exclusiva à Revista Embassy Brasília.
O embaixador paquistanês fala fluentemente Inglês e Espanhol. É autor de seis livros, quatro de poesia e dois romances. Recebeu o “Prêmio Excelência em Literatura 2011” pela Academia Bolan do Paquistão. Assumiu o posto há dois meses e considera o Brasil um parceiro próximo de seu país em vários campos. “Nossas relações comerciais e econômicas têm crescido em passo firme”, assegura. Najm us Saqib expõe sua trajetória e algumas de suas ideias.
Em suas atribuições diplomáticas, além de representar o Paquistão em várias conferências e reuniões internacionais, o embaixador serviu em Bangladesh, Espanha, Azerbaijão, Quênia e Canadá. Foi o primeiro chefe de missão residente do Paquistão em Cuba (2007 a 2010). Seu último posto – antes de chegar a Brasília – foi na África do Sul, com acreditação simultânea para a Namíbia, Moçambique, Lesoto, Botswana e Suazilândia, (2014 a 2017). Atualmente é embaixador no Brasil e simultaneamente na Bolívia, na Colômbia, na Guiana, no Suriname e na Venezuela. Veja a seguir a entrevista:
Revista Embassy Brasília – Fale-nos um pouco sobre sua biografia, do contexto familiar em que viveu no Paquistão.
Najm us Saqib – Fui afortunado por ter nascido e educado em uma família de Sialkot (importante centro ferroviário e de indústria e comércio, em Punjab). Em casa, havia livros literários por toda a parte. Minha mãe me explicou e me introduziu Shakespeare, Keats (ingleses), Iqbal (paquistanês), Ghalib (indiano) e outros quando era muito novo. Meu pai, falecido em 1967, era um mestre em Matemática . Eles me ensinaram os valores de ser honesto e digno. Eu queria ser poeta. Minha mãe queria que eu entrasse do Serviço Exterior. De alguma forma, os dois desejos se tornaram realidade.
Revista Embassy Brasília – O que é preciso para ser um eficiente diplomata?
Najm us Saqib – Conhecimento sobre seu país, quem você é, quais são seus objetivos e como você vai atingir seus objetivos para o seu país. Entender os problemas é um pré-requisito.
Revista Embassy Brasília – Como é estar na diplomacia há três décadas?
Najm us Saqib – Ser um membro do prestigiado Serviço do Exterior do Paquistão tem sido motivo de orgulho para mim, durante 32 anos. Trabalhar para meu país continua sendo fonte de satisfação, seja promovendo um acordo, projetando o Paquistão como um país avançado e democrático, servindo a comunidade paquistanesa no exterior, contribuindo para aumentar as nossas exportações, levando investimentos ao meu país ou introduzindo o rico patrimônio – literatura, cultura, gastronomia e sistema de valor do Paquistão ao mundo externo.
Revista Embassy Brasília- O que define a política externa de um país?
Najm us Saqib – A visão de futuro tem um papel importante ao definir os contornos tanto de uma política doméstica quanto de uma política externa. A política do nosso pai fundador, Quaid-e-Azam, de “paz dentro e paz fora” (Peace within and Peace without) é a visão do Paquistão.
Revista Embassy Brasília – Como se encontra o Paquistão de hoje?
Najm us Saqib – A democracia participativa é crescente no Paquistão. As pessoas de nível mais baixo estão cientes dos seus direitos. O povo amante da paz compartilha uma visão de viver num mundo onde paz e prosperidade prevaleçam. O Paquistão, sendo a 6ª maior nação do mundo, tem o maior sistema de irrigação e a maior organização voluntária de ambulância internacional. Temos o maior porto marítimo de águas profundas e a maior rede Wi-Fi. Temos um dos mais altos índices de crescimento de bens de grande consumo. Somos o 8º maior produtor de arroz e de trigo, o 5º maior produtor de leite, o 4º maior produtor de cana-de açúcar, algodão e damasco e o 3º maior produtor de manga. Vencemos o campeonato mundial de críquete (esporte que se pratica com bastão e bola, com equipes de 12 jogadores, muito popular no Reino Unido e várias das suas antigas colônias) de 1992 e 2009. Produzimos a bola de futebol “Brazuca”, usada na copa do Mundo FIFA de 2014. O time brasileiro de futebol é o nosso favorito.
Revista Embassy Brasília – O que o Paquistão exporta?
Najm us Saqib – Exportamos têxteis e tecidos de todos os tipos, de lençóis a camisetas. Temos o melhor arroz do mundo, grande variedade de manga e bens relacionados couro, esportes e instrumentos cirúrgicos e hospitalares. Temos trabalhadores muito bem qualificados.
Revista Embassy Brasília – Esses produtos têm chegado ao Brasil?
Najm us Saqib – Importamos soja do Brasil. Exportamos todos os produtos acima citados, menos manga.
Revista Embassy Brasília – Quais suas prioridades como embaixador no Brasil?
Najm us Saqib – Aumentar e fortificar as relações bilaterais do Paquistão com o Brasil em todos os campos, especialmente em investimentos e comércio. Já identifiquei muitas áreas, nesses dois primeiros meses, aqui, desde Esportes. O País é um país muito longe, então precisamos intercâmbios. Vejo muitas similaridades entre as duas culturas.