Na semana em que trabalha na organização de uma força-tarefa para enfrentar o garimpo ilegal de ouro no rio Madeira e sofre mais pressão sobre o desmatamento da Amazônia, Hamilton Mourão diz considerar positiva a tentativa do governo brasileiro em dar uma resposta às críticas que o país sofre na área ambiental. Presidente do Conselho da Amazônia, Mourão mostrou a realidade da região para vinte embaixadores. Ele organizou duas viagens cujo impacto achou positivo, “mas é obvio que o que vai realmente diminuir a pressão negativa em cima do Brasil é que a gente atinja um resultado melhor no combate às ilegalidades”, relatou o vice-presidente. Uma viagem foi em agosto de 2020 e a outra em setembro deste ano.
Mourão falou, em sua entrevista exclusiva, sobre o Amazônia 2021/22, o plano do governo para a proteção da Amazônia, que o Brasil vai cumprir o “totalmente” o acordo ambiental assinado na COP 26, da importância do Biogás e da chegada da Internet 5 G àquela região. Por fim, conversou ainda sobre seu futuro político que começa a ser traçado. Sair como senador pelo Rio de Janeiro ou pelo Rio Grande do Sul, por enquanto, é um de seus planos para as próximas eleições. Leia agora a íntegra a entrevista.
1-) Como o senhor avalia as visitas que fez à Amazônia com diversos embaixadores. Conseguiu desfazer a visão do Brasil de vilão ambiental? Há motivos reais para a preocupação do mundo em relação à sustentabilidade?
Fica claro que as pessoas não só aqui no Brasil e mais quem é fora desconhecem a Amazônia, a imensidão dela. A Amazônia legal são 60 por cento do nosso território, são cinco milhões de km2. O Bioma Amazônia é praticamente metade do território brasileiro. São 4.2 milhões de km2. São dimensões que países de 300, 400 mil km2, ou seja, um décimo da Amazônia, não tem a mínima noção. A primeira coisa feita foi mostrar para os representantes de países estrangeiros para que eles entendam as dimensões e as dificuldades de se deslocar pela Amazônia, uma vez que as estradas são poucas, você anda de avião ou de barco. O tempo na Amazônia se conta em dias e semanas, não em minutos e horas como a gente conta por aqui. Você tem território como Altamira, no Pará, que é maior do que Portugal, por exemplo. Essa realidade é importante para que eles compreendam porque a imagem que é passada é um foto de uma queimada e isso cai no imaginário da população que a Amazônia inteira está em chamas, quando não é a realidade.
Nós organizamos duas viagens com embaixadores, uma Amazônia ocidental, a rodovia 163 para mostrar o impacto dela na floresta, área que está preservada, área que não está. Depois fomos à Manaus, onde os embaixadores conheceram o sistema de proteção da Amazônia, investimento em biotecnologia, uma balsa que transforma a fruta do açaí já no produto final que vai ser vendido, atividades de pesquisa, zoológico. Depois foram a São José da Cachoeira onde, dentro do mesmo estado, leva-se duas horas para chegar. Foram ainda a Terra Ianomami, distrito de Itamaracá, o pelotão do exército instalado lá, conversar com os índios. Andamos com a porta aberta da aeronave aberta para ver o tapete da selva. Tem desmatamento, mas 84 por cento da floresta estão preservadas. Impacto positivo, na minha visão.
A segunda viagem com os embaixadores foi para a área do Pará, Carajás, empreendimento mineral que respeita o meio ambiente. Então eles viram a forma como é feito o trabalho na mina e ao mesmo tempo a floresta preservada que é o trabalho que a Vale do Rio Doce faz. Dali, mostramos a Usina de Belo Monte, um empreendimento hidrelétrico prejudicado, construída a fio d água para não aumentar o lago e não inundar terras de floresta. Consequentemente, uma usina que poderia produzir energia limpa o ano inteiro para o Brasil, 11 milhões de megawatz de energia, produz somente seis meses do ano porque não tem água suficiente. Foram ver um projeto de cacau na floresta e viajaram 80 km pela Transamazônica e não viram nada. Voaram duas horas de helicóptero quando também não viram desmatamento, mas áreas que já estão ocupadas há algum tempo. Foram também a Belém visitar os institutos de pesquisa, Museu Emílio Goeldi. Com essas duas viagens, nós criamos um impacto positivo junto aos representantes da comunidade internacional, mas é obvio que o que vai realmente diminuir a pressão negativa em cima do Brasil é que a gente atinja um resultado melhor no combate às ilegalidades.
2-) A Alemanha e a Noruega são alguns dos países que cobram um plano de combate ao desmatamento. A União Europeia endureceu e está coibindo a importação de commodities oriundas de desmatamento. De que forma o governo brasileiro pretende conseguir reverter isso e conseguir maior apoio financeiro da comunidade internacional para os projetos de proteção à Amazônia?
Esse plano existe é o Amazônia 2021/22, um plano do governo. Nós fizemos a seleção de municípios prioritários, onde praticamente 80 por cento do desmatamento ocorrem , são sete no Pará, dois no Amazonas, um em Rondônia e um no Mato Grosso. São esses 11 municípios aí, incluindo ainda os adjacentes que dão um total de 26 municípios, onde há a prioridade do trabalho das agências de fiscalização. Para cada tipo de região as agências montam uma força tarefa. Se é terra indígena fica a cargo da FUNAI, se é unidade de conservação está com a CNBio, se é terra pública está a cargo do Ibama, se é área privada, também o Ibama tem a liderança. Isso com a proteção segurança da Polícia Federal, da Policia Rodoviária Federal e da Força Nacional de Segurança. Com ainda apoio logístico e de inteligência das Forças Armadas. Então esse plano está funcionando. Essa questão da União Europeia não é uma decisão é um assunto que está em discussão e vem sendo duramente criticada porque é meio hipócrita isso aí. Eles não querem importar produtos oriundos de desmatamento, mas compram gerados por usinas de carvão, muito mais emissor de gás e efeito estufa que o próprio desmatamento. Então temos que aguardar as futuras decisões, mas eu vejo com que aconteceu na reunião da COP26, as atitudes que o Brasil tomou lá, principalmente a nossa obrigação internacional em acabar com o desmatamento ilegal até 2028. Isso será fundamental para que a gente tire qualquer forma de pressão que a comunidade internacional possa fazer sobre nosso país.
3-) O senhor acredita que o Brasil vai cumprir o acordo ambiental assinado na COP 26? Nós nos posicionamos corretamente?
Nós, totalmente! O Brasil, em relação a sua obrigação nacional de reduzir as emissões, ele é o mentor, a sua proposta, passando de 45 para 50 por cento até 2030. Nós temos realmente condições de atingir. Valor lembrar o seguinte, o Brasil é responsável apenas por 2,3 por cento das emissões do mundo e 40 por centos das nossas emissões são provenientes do desmatamento. Então, se a gente corta o desmatamento ilegal, a gente corta 40 por cento. Os outros 10 por cento são pequenos ajustes. Então nós temos condições de atingir isso aí em muito melhor situação que países desenvolvidos, que tem uma matriz energética extremamente poluidora, emissora de gases de efeito estufa. Além disso, o Brasil aderiu ao protocolo de metano, a redução de 30 por cento do metano, muito ligado aqui às questões dos lixões, temos essa questão de saneamento. Obvio também da nossa pecuária, com o recolhimento aí dos dejetos do gado, que já tem empresas que já realizam isso, que transformam em biogás, um combustível renovável, limpo. E obvio, aderimos ao Protocolo das Florestas e principalmente, a questão do capítulo 06 do acordo de Paris, que é o Cred Carbono. Nós que somos de uma área florestal enorme, que sequestramos uma grande quantidade de carbono que está na atmosfera, nós estaremos habilitados para essa troca de crédito e isso será muito bom para a população da Amazônia porque eles passarão a entender que preservando a floresta eles estarão recebendo recursos.
4-) O senhor poderia fazer um breve relato da importância das novas parcerias internacionais resultantes das últimas viagens, principalmente ao Oriente Médio? O Brasil ainda é um país atraente como parceiro comercial, ainda tem uma imagem respeitada lá fora?
O que tem que ficar bem claro é que o Brasil é uma potência agroalimentar, então países que têm dificuldades em produzir sua alimentação, principalmente os do mundo árabe, pelas características da região, desertos, onde não há muito como produzir, eles olham para o Brasil como grande provedor de alimentos. Um país capaz de assegurar a segurança alimentar desses povos. Eu mesmo tive a oportunidade de ir ao Egito, lá quem são responsáveis pela segurança alimentar são as Forças Armadas. Esse assunto foi relevante com o ministro da Defesa, com o próprio presidente, com o primeiro-ministro, porque nós temos uma exportação para lá, só para o Egito, de U$ 2,5 Bilhões. Foi o que exportamos o ano passado, com tendência a exportar mais. Assim com na própria região do Golfo, nos Emirados Árabes, Arábia Saudita, Bahrein, Catar, países que o presidente Bolsonaro visitou agora. Além disso, obvio, eles estão se expandindo em áreas de tecnologia. Outra coisa, esses países do Golfo têm muitos recursos para investimentos oriundos do petróleo. Quando o presidente esteve lá foi a busca para que invistam aqui, nos Programas de Parceria Público Privada, na infraestrutura, aeroportos, portos, nas próprias rodovias, então trazerem esses investimentos para cá.
5-) Na opinião do senhor, a internet 5G fará realmente uma revolução da Amazônia, dará condições melhores à população indígena e maior proteção à floresta?
A 5G vai ser uma revolução no Brasil como um todo porque ele vai fazer o avanço da internet, vai dar maior velocidade na forma como a gente se comunica utilizando a rede mundial e, consequentemente na parte de saúde, educação, segurança pública, nós teremos avanços fundamentais. E a Amazônia tem dificuldades enormes, ela é muito complicada. Vamos lembrar que lá não tem cabeamento, o sinal tem que chegar via satélite. Houve um investimento, primeiro pelo próprio Ministério da Ciência e Tecnologia, agora o Ministério das Comunicações está com o programa Norte Conectado e o da Defesa tem o Amazônia Conectada, que é o lançamento de cabo de fibra ótica por dentro dos rios, de modo que a Internet chegue nas cidades menores do interior do Amazonas e no Pará. Mas o 5G com novas antenas sendo colocadas, pela capacidade dele, o uso de satélite também, ele vai trazer uma mudança total para a população da Amazônia. Mesmo aquele que tiver em uma comunidade isolada, ele vai ter uma comunicação mais eficiente. A questão da saúde, os postos de saúde existentes poderão fazer uso da telemedicina, por não tem como, por exemplo fazer uma cirurgia com a internet caindo a toda hora. O 5G vai ser realmente essencial para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
6- Por falar em saúde, como está a vacinação da população indígena nesta região?
A população indígena maior percentual de vacinados no Brasil, já ultrapassaram 80 por cento dos indígenas aldeados. Com o apoio fundamental das Forças Armadas, não só das Forças Aéreas, mas das equipes médicas também das Forças Armadas, eles adiantaram essa vacinação. Consequentemente a população indígena está em um estágio mais avançado de proteção que o resto da população do Brasil.
7-) Mudando de assunto. Em relação agora a pretensões políticas, o senhor gostaria de dar continuidade ao mandato? Vai se filiar a algum partido?
O presidente ainda não definiu cem por cento quem será o parceiro dele nesse projeto de reeleição, os indícios que ele já me passou são de que ele escolherá outra pessoa. A partir daí, eu tenho que tomar outra decisão de permanecer na política ou não. Ainda não tomei esta decisão. Essa é a primeira! A segunda decisão, se vou permanecer na política, a que cargo irei concorrer. O que mais me entusiasma, se permanecer na política, é o Senado. Aí eu tenho um dos dois estados para escolher, Rio de Janeiro ou Rio Grande do Sul. Partido, por enquanto, permaneço no PRTB. Tenho recebido convites de outros partidos, mas aguardo as composições que forem feitas em torno do processo eleitoral do ano que vem.