Voos para o país são diários, saindo de São Paulo (SP). O turismo é cada vez mais crescente. Seminário realizado na capital paulista debateu as perspectivas entre Brasil e Marrocos
Súsan Faria
“Estou pra lá de Marrakech”. Quando se ouve essa expressão, tão comum no Brasil, a tem-se a ideia de que essa cidade, e o país onde ela se localiza – o Marrocos – estão muito, muito distantes do Brasil. Contudo, o embaixador do Marrocos em Brasília, Nabil Adghoghi, desmistifica o mito e mostra que o país – porta de entrada no Norte da África, com grandes extensões de deserto – pode estar perto. Nabil, que fala fluentemente Português, indica caminhos para se chegar ou se estar próximo do Marrocos, como o Seminário, realizado dia 17 deste mês, na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em São Paulo (SP), onde se discutiram as parceiras e perspectivas entre os dois países (Brasil e Marrocos).
Formado em Administração, diplomata de carreira, 53 anos, nascido em Casablanca, casado, pai de três filhos, Nabil Adghoghi voltou a servir na sede diplomática do Marrocos, em Brasília, desde o último mês de janeiro. Dessa vez, no posto de embaixador. Há seis anos, ele trabalhou como diplomata. “Adoro o céu de Brasília”, elogia. No Brasil, aprendeu Português e a gostar dos cantores Leila Pinheiro, Daniela Mercury, Carlinhos Brown, do grupo Olodum, de samba e de moqueca de peixe. Pessoalmente participou dos preparativos para a festa nacional do Marrocos, dia 30 de julho.
Em entrevista exclusiva à Revista Embassy Brasília, Nabil falou sobre vários temas e anunciou novidades como uma mostra de filmes marroquinos que está trazendo para ser apresentada na capital, possivelmente no Cine Brasília, até o final do ano. “Estamos em conversas com o GDF. Os filmes estão sendo legendados”, disse. O embaixador não se esquivou de assuntos delicados como a condição da mulher no Marrocos: “Temos embaixadoras, ministras, parlamentares e mulheres marroquinas que se destacam na área econômica e têm ganhado prêmios internacionais pela projeção e competência”, disse. A seu ver, o papel das mulheres no Marrocos avança, inclusive há 12 anos aprovou-se um Código da Família que lhes permite tratamento igual aos dos homens, inclusive de terem o direito de pedir divórcio.
Carnaval – Sobre algumas similaridades entre o Brasil e Marrocos, o embaixador disse que os dois países têm a peculiaridade de celebrar a abertura, a tolerância e a diversidade cultural. Em fevereiro deste ano, a Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel homenageou o Marrocos, no Sambódromo do Rio de Janeiro (RJ). “Eu vi como o público interagiu de maneira tão bonita, tão agradável. Ficamos muito lisonjeados, com esse carinho”, disse. A ser ver, para amar um país é preciso entendê-lo, daí ter feito questão de aprender bem a falar Português. “O Brasil é muito querido e acolhedor. Tento aproximar os dois países”, disse.
Nabil Adghoghi explicou que o Marrocos hoje aposta na abertura de mercado, nos acordos de livre comercialização, com a União Europeia, Estados Unidos e Turquia; e acordos preferenciais com países africanos e árabes. “Estamos trabalhando para negociar um acordo com o Mercosul”, disse. O Marrocos não tem petróleo, mas possui economia diversificada, como a indústria automobilística. Segundo o embaixador, a Renault se instalou no Norte do País e chegou a produzir 400 mil veículos por ano, 300 mil exportados. A Peugeot vai se instalar no Marrocos, hoje o maior exportador mundial de adubos fertilizantes e fosfato, área onde o Brasil é um dos principais clientes. Do Brasil, eles compram alimentos como açúcar, milho, café e aeronaves e querem acordos para melhorar a tecnologia implantada em regiões semi-áridas.
Voos diários – Nabil Adghoghi destaca a facilidade hoje para se chegar ao Marrocos, com voos diários saindo de Guarulhos (SP) com destino a Casablanca. São 8h30 de viagem. “Entre 30 mil a 35 mil brasileiros visitam o Marrocos, anualmente. E cerca de 6 mil marroquinhos fazem turismo aqui, principalmente no Rio de Janeiro”, explicou o embaixador. No século XIX, marroquinos judeus se instalaram no Norte do Brasil, especialmente em Belém. A telenovela “O Clone”, apresentada pela TV Globo, mostrou costumes e regiões turísticas do Marrocos, lugar de cores e belezas muito particulares. Rabat, Casablanca, Marrakech, Fe e Essaouira são as principais cidades.
Trata-se de um país mulçulmano que desenvolveu várias formas de arte, arquitetura, música, caligrafia, que tem influências berberes, árabes, judias, africanas e europeias e possui rico patrimônio arquitetônico milenar; festivais de música de reputação internacional; criações no design, na gastronomia, nas vestimentas e nas joalherias. O país recebe 12 milhões de turísticas por ano.
Aproximação – O embaixador Nabil Adghoghi destacou ainda a discussão de o país africano tornar-se “a porta de entrada” para o continente e ampliar as oportunidades bilaterais. Segundo ele, os acordos de livre-comércio que o Marrocos tem com seus vizinhos e a política para o setor privado no continente ajudam a dar essa abertura.
Nabil Adghoghi ressaltou também a possibilidade de integração oferecida. “Hoje em dia não pensamos mais em qual produto vender, ou qual comprar. Um país produz 10% de um produto, o outro faz 30%, e por aí vai”, explicou, destacando os avanços que o Brasil tem nas áreas de agronegócio, automotiva e energia renovável. “O Marrocos tem potencial de crescimento justamente nas energias renováveis”, citou o embaixador. Ele adiantou que no fim de outubro será realizado na capital, Marrakesh, o Atlantic Dialogues, evento anual organizado por, entre outras organizações, a OCP Policy Center.