Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores Foto: ADRIANO MACHADO/Reuter
Eliane Oliveira
BRASÍLIA — O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, negou, nesta quarta-feira, que vá deixar o cargo, ao participar de audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. Araújo assegurou que as relações do Brasil com a China jamais foram abaladas pelos atritos que teve com o embaixador chinês em Brasília, Yang Wanming. Para o ministro, o diplomata asiático teve uma reação desproporcional, ao rebater declarações feitas pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em relação a Pequim.
— Em relação a declarações de ex-ministros e comentários de jornalistas, só queria citar, acho que li em algum lugar, que “o opróbrio dos ímpios enaltece o homem tanto quanto o louvor dos justos”. Quando quero ser bem informado, não leio o que diz a imprensa — afirmou, em referência às notícias de que crescem as pressões para que o presidente Jair Bolsonaro troque o comando do Itamaraty.
— A grande tradição do Itamaraty é saber renovar-se. Na minha interpretação e do presidente da República, era o momento de inovar o Itamaraty, de inovar a diplomacia brasileira. Isso que tentamos fazer e estamos obtendo resultados — completou.
Araújo disse que o Brasil mantém boas relações com os Estados Unidos, a Índia, a China e outros países. Cobrado pelos deputados da oposição que participaram da audiência pública, por causa dos problemas entre o Itamaraty e Yang Wanming, o ministro disse que, hoje, o embaixador chinês tem sido “bastante colaborativo”.
O clima nos bastidores, no entanto, não é bem esse. Araújo está na mira do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e do da Câmara, Arthur Lira. Eles realizaram reuniões com o embaixador da China e outros representantes do governo chinês, tentando encontrar maneiras de comprar mais doses e agilizar o envio dos insumos para a produção da vacina da Fiocruz, – que também veio da China -, segundo a colunista do GLOBO Malu Gaspar. Pacheco e Lira ouviram dos chineses que, com Araújo no Itamaraty, não tem conversa.
Em duas ocasiões, em março e novembro do ano passado, o embaixador da China exigiu retratação do governo brasileiro, devido a declarações do filho do presidente. Na primeira vez, Eduardo Bolsonaro colocou em xeque a transparência de Pequim na divulgação de dados sobre a Covid-19. Em novembro, o filho do presidente insinuou que haveria espionagem no Brasil pelo Partido Comunista da China se o governo brasileiro permitisse a participação da empresa chinesa Huawei nos serviços de 5G de telefonia móvel. Ernesto Araújo reagiu duramente às respostas do embaixador.
— O embaixador da China reagiu de forma desproporcional. Retuitou [compartilhou no Twitter] uma reportagem ofendendo o presidente da República e sua família em março do ano passado. Em novembro, o embaixador falava em tom ameaçador. Hoje, temos uma relação melhor com a China do que qualquer outro país do mundo — afirmou, acrescentando que o embaixador se achou no direito de questionar a liberdade de expressão de personalidades brasileiras.
O chanceler leu um trecho de uma carta enviada a ele pelo chanceler chinês, Wang Yi, em resposta ao pedido de ajuda do governo brasileiro para que fossem liberadas mais rapidamente as exportações de insumos para a fabricação de vacinas para o Brasil. No documento, Wang Yi disse que as autoridades de seu país fariam o possível para ajudar o país.
Durante meses, em 2020, Bolsonaro criticou a China e a vacina do laboratório chinês Sinovac, que vem sendo produzida pelo Instituto Butantan e representa hoje a ampla maioria das doses aplicadas no país. Em outubro, por exemplo, ele afirmou que não compraria a CoronaVac porque a China “tem um descrédito muito grande”.
— A da China nós não compraremos, é decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população — disse. — A China, lamentavelmente, já existe um descrédito muito grande por parte da população, até porque, como muitos dizem, esse vírus teria nascido por lá.