Questionado sobre a recente apreensão, na Bahia, de mais de 500 quilogramas de cocaína na fuselagem de um jato privado com destino a Portugal, cuja lista de passageiros integrava João Loureiro, antigo presidente do Boavista, o ministro Ernesto Araújo salientou que também a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) deve fazer um maior esforço conjunto no combate ao crime organizado.
“Tudo o que tenha a ver com o combate ao crime organizado, ao narcotráfico, é uma prioridade absoluta para nós, não apenas das autoridades de segurança, mas também da nossa diplomacia, da política externa. Temos de ser capazes de enfrentar os desafios reais. Pessoalmente, tenho falado em todos os âmbitos, tanto com os países europeus, como com latino-americanos”, afirmou o ministro, em Brasília.
O governante explicou que, ano passado, teve um “diálogo nesse sentido com a CPLP”, onde apelou a uma maior “dedicação” e cooperação” por parte deste bloco. “Também na última reunião que tive com ministros das Relações Exteriores da União Europeia foquei muito nesse ponto, da necessidade de cooperação na identificação de problemas no combate ao crime organizado, que afeta as duas regiões. O mesmo ocorreu com o Prosul [Fórum para o Progresso da América do Sul], onde frisei essa problemática”, acrescentou o diplomata num encontro com jornalistas, no Ministério das Relações Exteriores.
Apesar de não ter produção própria de cocaína, o Brasil é um dos principais pontos de passagem da droga proveniente de outros países da América Latina, com destino à Europa, e Portugal tem-se tornado numa das portas de embarque de estupefacientes para o continente europeu. Porém, o ministro das Relações Exteriores recusou que o Brasil seja o problema principal, atribuindo grande parte da responsabilidade da proliferação do crime na América do Sul à Venezuela.
“Parte gigantesca do problema é a Venezuela, que virou um terreno livre para a atuação de grupos criminosos, que fazem, por exemplo, mineração ilegal e destrutiva do meio ambiente na Venezuela para financiar as suas atividades de narcotráfico, de tráfico de pessoas. Temos aqui, na nossa região, uma base de atuação do crime organizado”, sustentou o ministro, no encontro dedicado à política externa brasileira.
Ernesto Araújo, um forte crítico do regime de Nicolás Maduro, reforçou que o problema da Venezuela “não é apenas político ou de opressão por parte do Governo”, mas também engloba a questão da segurança, que afeta ainda o “Brasil, assim como a Europa e outras regiões”.
“No entanto, é fundamental que os nossos parceiros na Europa entendam quem é quem nessa dimensão, que entendam que nós convergimos inteiramente nos mesmos valores, de segurança e de democracia. É fundamental que a Europa entenda que o problema não são essas falsas narrativas que se tendem a criar, de colocar a problemática no Brasil, e que percebam que o país é, talvez, o maior pilar da segurança e democracia na América do Sul”, advogou Araújo.
Após o avião com meia tonelada de cocaína ter sido detetado pelas autoridades do Brasil, fonte policial revelou à Lusa que a Polícia Judiciária (PJ) portuguesa e a polícia federal brasileira estavam alertadas, desde o início da pandemia, para a possibilidade do tráfico de cocaína entre os dois países recorrer a jatos particulares. Ao abrigo do projeto Caravela, anunciado em novembro de 2019 pela PJ, “há uma troca de informações constante, muitas diligências partilhadas e uma estreita colaboração com as autoridades policiais brasileiras”, em relação ao tráfico de droga, adiantou a mesma fonte.
“É necessária uma conscientização para que todos os países estejam nessa mesma sintonia e é importante que percebamos qual é o desafio, que não é simplesmente um grupo de narcotraficantes aqui e outro ali. É uma rede que é composta grupos de narcotráfico, mas que vai além disso, envolve outros tipos de crime organizado, determinadas correntes políticas que apoiam e estão ligadas ao terrorismo”, disse hoje ministro brasileiro.
“Essa rede precisa de ser debelada. Temos feito mais apreensões de drogas, mas isso não é suficiente, (…) é preciso entender os problemas que existem”, sublinhou Ernesto Araújo em declarações à Lusa.