Cada data comemorativa, seja um feriado nacional ou um dia internacional dedicado a um tema específico, pode ser uma oportunidade importante para uma reflexão propositiva ou limitar-se a um cansativo exercício retórico.
O mesmo vale para o Dia da Imigração Italiana no Brasil, instituído em 2008 para homenagear a grande epopeia da presença italiana, na data em que se recorda o desembarque, em Vitória (ES), do transatlântico “Sofia”, com algumas centenas de famílias provenientes do norte da Itália.
As dimensões desse fenômeno histórico não podem passar despercebidas: é a maior imigração estrangeira no Brasil e a maior emigração italiana no mundo!
Quantidade, mas também (diria, sobretudo) qualidade: no curso de mais de um século, a imigração italiana no Brasil contribuiu de maneira determinante para a história do maior país da América do Sul, em todos os aspectos, culturais e sociais, políticos e econômicos. Após a primeira fase da imigração, na virada dos séculos XIX e XX, marcada pelo sacrifício e heroísmo de famílias que afrontaram condições hoje inimagináveis e dificuldades de todos os tipos, já nos primeiros anos do século passado os italianos se destacaram pela capacidade e criatividade.
As primeiras organizações dos trabalhadores, mas também as primeiras associações empresariais foram marcadas de forma decisiva pela chegada dos imigrantes italianos; o mundo do comércio e o artesanato se desenvolveram no Brasil, graças à experiência trazida por nossos ancestrais, que na época enfrentavam longas e frequentes arriscadas travessias pelo oceano. Mas também a música e o esporte, a arte e a política sofreriam de forma positiva e fecunda a influência da cultura italiana. Basta pensar em músicos como Adorinan Barbosa (nome artístico de João Rubinato) ou na fundação de clubes esportivos como o “Palestra Itália”, artistas de renome mundial como Candido Portinari ou empresários como Randon e Bauducco.
Para que esta comemoração seja um momento voltado não só para o passado, mas também para o futuro, é importante a mobilização e o empenho diário de toda a comunidade italiana no Brasil, a começar pelos seus representantes nos órgãos eleitos democraticamente: os Comitês dos Italianos no Exterior (Comites), o Conselho Geral dos Italianos no Exterior (CGIE) e o Parlamento.
A responsabilidade deles é grande, justamente porque em sua condição privilegiada de italianos residentes no Brasil eles podem interagir com as autoridades institucionais dos dois países para defender, mas também fortalecer o grande legado que essa história nos deixou. Um legado capaz de gerar projetos e iniciativas capazes de favorecer não só o desenvolvimento das relações entre essas duas grandes nações, mas também o crescimento global das economias de ambos os Estados (apostando juntos na necessária e desejada recuperação pós-pandêmica).
O novo chefe do governo italiano, Mario Draghi, em seu discurso programático perante o Parlamento, dirigiu-se aos deputados e senadores da seguinte forma: “Devemos ser mais orgulhosos, mais justos e mais generosos em relação ao nosso país e reconhecer as tantas conquistas, entre as quais a profunda riqueza do nosso capital social e do nosso voluntarismo, dos quais outros nos invejam.” Os italianos no mundo são plenamente um componente essencial deste “capital”, um patrimônio do qual todos nós devemos nos orgulhar. A comemoração do dia 21 de fevereiro deve servir também a este propósito: a orgulhar-se justamente desta história.
Fabio Porta é sociólogo, coordenador do partido italiano Partito Democratico (PD), na América do Sul. Foi deputado por duas vezes, no Parlamento Italiano, representando os cidadãos italianos residentes na América do Sul. Preside o Patronato Ital-UIL Brasil (São Paulo – Brasil) e a Associazione Amicizia Italia-Brasile (Roma – Itália); é vice-presidente do Istituto per la Cooperazione con Paesi Esteri – ICPE (Bari – Itália) e da Associação Focus Europe (Londres – Reino Unido). É autor de numerosos artigos e publicações, em jornais italianos e estrangeiros.
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