Evaldo Ferreira
Quando vemos uma ambulância com a sirene apitando, em meio ao engarrafamento, sabemos da urgência no atendimento. No meio do rio não há engarrafamentos, mas, na maioria das vezes as ambulanchas precisam percorrer horas para viabilizar o atendimento rápido ao homem do interior, por isso foram muito bem-vindas as oito ambulanchas que a FAS (Fundação Amazônia Sustentável) adquiriu graças a uma parceria feita com a Embaixada da França, ainda no começo da pandemia do coronavírus, em Manaus.
“As articulações entre e FAS e a Embaixada da França começaram assim que a pandemia foi tomando grandes proporções, após março de 2020, em Manaus. Em julho começaram a chegar os primeiros recursos para prover a Região Metropolitana com atendimento de emergência, incluídas aí as ambulanchas”, contou Valcleia Solidade, superintendente de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades da FAS.
As ambulanchas foram direcionadas para atender às comunidades dentro de quatro UCs (Unidades de Conservação) do Amazonas: APA (Área de Preservação Ambiental) do Rio Negro, RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável) do Rio Negro, RDS Puranga Conquista e RDS do Piranha.
Ambulanchas foram direcionadas para atender comunidades em Unidades de Conservação do Amazonas. Foto: Divulgação
“De 2010 até hoje a FAS já doou 91 ambulanchas para comunidades ribeirinhas, até hoje todas em funcionamento, pois devem obedecer regras de uso supervisionadas pela FAS. A diferença é que estas 91 foram doadas para localidades muito distantes de Manaus, diferente destas oito, agora, direcionadas para comunidades dentro da Região Metropolitana”, esclareceu.
De 2010 até hoje a FAS já doou 91 ambulanchas para comunidades ribeirinhas, até hoje todas em funcionamento. Foto: Divulgação
Em diversas situações – As ambulanchas foram construídas pela Alegra Náutica, obedecendo um calendário de entregas, pois a empresa estava fazendo outras embarcações para prefeituras do interior. Em cerca de quatro meses as ambulanchas ficaram prontas e começaram a ser entregues no final do ano passado. Confeccionadas em alumínio, a pequena e ágil embarcação de 3,5m x 1,5m, possui uma maca central, e cadeiras para três acompanhantes mais o ‘piloteiro’. De acordo com o clima, suas laterais podem ser fechadas ou abertas.
“Apesar de as ambulanchas terem chegado no momento da pandemia, elas estão sendo utilizadas para as mais diversas situações: partos, picadas de insetos e animais peçonhentos ou até acidentes domésticos. Recentemente uma família teve sua casa incendiada e foi trazida às pressas para Manaus com queimaduras”, lembrou.
“Quando esses acidentes acontecem, o paciente é levado para a sede do município abrangido pela UC, como por exemplo, a RDS do Piranha (Manacapuru); RDS do Rio Negro (Novo Airão, Iranduba e parte de Manacapuru); RDS Puranga Conquista (Manaus); RDS do Uatumã (Itapiranga e São Sebastião do Uatumã); e APA Rio Negro (Manaus)”, informou.
Valcleia reforçou que a parceria com a Embaixada da França tem sido muito importante, pois através dela a FAS tem viabilizado a compra de aparelhos médicos, kits de higiene, combustível emergencial e canoas com motor rabeta, estas, doadas especialmente para agentes comunitários e indígenas de saúde que atuam na região.
“Só cestas básicas, já foi possível repassar duas vezes para as comunidades. Também conseguimos combustível para que a sua produção de farinha não fosse interrompida, e investimos na infraestrutura do projeto de teleatendimento, que tem sido de grande utilidade para o atendimento rápido, quase imediato, nas questões de saúde”, disse.
Precariedade da saúde – O morador da RDS Puranga Conquista, Daniel Araújo, presidente do Fopec (Fórum Permanente em Defesa das Comunidades Ribeirinhas), afirmou que as ambulanchas chegaram em boa hora, pois a precariedade da saúde nas comunidades é um retrato da realidade local, mesmo antes da covid-19.
“Quando temos que deslocar um paciente, a gente precisa unir forças, mobilizar a comunidade inteira para tentar um ‘bote’ (canoa) rápido e buscar gasolina de um e de outro para operacionalizar o transporte. Isso muitas vezes sem sinal de celular ou internet. E se não houvesse essa força-tarefa, a pessoa teria que desembolsar em torno de R$ 300 de combustível só para sair da comunidade e chegar a tempo para o atendimento”, revelou. “Até este momento a Embaixada da França está financiando o combustível das ambulanchas, mas o ideal é que isso seja uma obrigação das prefeituras”, falou Valcleia.
Para que as ambulanchas se mantenham atuantes pelo maior tempo possível, a FAS elaborou regras de uso, que precisam ser obedecidas pela comunidade, no caso, sob a responsabilidade de um presidente. É preciso ter um responsável para pilotá-las e a manutenção é de responsabilidade da comunidade. A FAS apenas acompanha se estão sendo usadas corretamente.
“Estas oito ambulanchas vão atender em parte a demanda das comunidades. Juntas, as UCs abrigam 69 comunidades, uma mais distante do que a outra, horas de distância, então o ideal é que cada uma comunidade tivesse a sua própria ambulancha”, finalizou.