QUITO – Pesquisa boca de urna divulgada na noite deste domingo aponta que Andrés Arauz, jovem economista de esquerda aliado de Rafael Correa, saiu na frente no primeiro turno da eleição presidencial do Equador, celebrada neste domingo. Segundo a pesquisa boca de urna do instituto Clima Social, ele teve 36,2% dos votos e disputará o segundo turno, em abril, contra o ex-banqueiro de centro-direita Guillermo Lasso, de 65 anos, que teve 21,7%. Já a pesquisa da Cedatos aponta Arauz com 34,9% e Lasso com 20,99%.
Às 22h do Brasil deve ser anunciado o primeiro resultado parcial oficial. O Equador tem histórico de erros de pesquisa de boca de urna, embora os resultados sejam consistentes com as pesquisas anteriores.
Para obter a Presidência no primeiro turno, no Equador um candidato precisa da metade mais um dos votos válidos, ou pelo menos 40% com uma diferença de dez pontos acima do segundo colocado.
A participação eleitoral no país ocorreu, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), em “termos normais”, apesar das restrições causadas pela Covid-19. Filas de eleitores, que em alguns casos se estendiam por vários quarteirões, obrigaram as autoridades eleitorais a pedirem o relaxamento das restrições impostas pela pandemia à entrada ems zonas de votação, vigiadas por militares e policiais.
O segundo turno está marcado para 11 de abril. Cerca de 13 milhões de eleitores, no pais de 17 milhões de habitantes, estão aptos a designar o sucessor do impopular presidente Lenín Moreno, que não busca a reeleição e cujo mandato termina em 24 de maio.
Favorito para vencer, Arauz, de 35 anos, foi ministro de Coordenação de Conhecimento e Talento Humano de Rafael Correa, que governou de 2007 a 2017. Também ocupou cargos no Banco Central e integrou a equipe econômica daquele governo. Seu projeto, alinhado com o pensamento do ex-presidente , prevê um Estado grande e presente, renegociação da dívida pública e aproximação internacional com a China. O economista diz que Correa será seu assessor externo e nega acusações de opositores sobre planos para acabar com a dolarização.
— A resposta dos cidadãos foi avassaladora em todas as partes do país e sabemos que isso se refletirá no voto dos cidadão —, disse Arauz à imprensa durante o dia, quando acompanhava sua avó materna para votar.
Anteriormente, o candidato, que não votou porque está registrado no México, cogitou que venceria no primeiro turno. “É possível se sairmos em defesa do voto”, disse numa rede social.
Já Lasso, candidato do movimento Creo e do Partido Social Cristão, representa a opção conservadora e de centro-direita. Empresário, banqueiro e político, disputa pela terceira vez a Presidência do país. Foi derrotado em 2013 por Correa, e em 2017 passou para o segundo turno, perdendo por 48,8% contra 51,6% obtidos pelo presidente Lenin Moreno — então candidato de Correa. Promove uma agenda neoliberal de economia aberta, privatizações e redução do Estado.
— O que posso dizer é que haverá um segundo turno e nós estaremos no segundo turno — disse Lasso após a votação em Guayaquil.
Uma vitória de Arauz se somaria ao retorno de políticas de esquerda na América Latina, como ocorreu na Argentina e na Bolívia, e representaria um desafio para o governo dos Estados Unidos em seu duelo com a China por influência no continente. O Equador sofreu um surto brutal de coronavírus no ano passado, que deixou corpos acumulados pelas ruas de sua maior cidade, Guayaquil.
Além disso, medidas de isolamento atingiram ainda mais a economia, que já sofria com os baixos preços do petróleo, responsável por 44% do PIB. Moreno promoveu uma agenda pró-mercado na esperança de ressuscitar uma economia de crescimento lento e altamente endividada, mas que foi fortemente rechaçada pela população. Em 2019, houve 10 dias de protestos violentos contra a retirada de subsídios aos combustíveis.
Entre os 16 candidatos — sendo 15 deles homens —, ficou em terceiro lugar, com 16,7% na pesquisa boca de urna do Clima Social, o advogado indígena Yaku Pérez, 51, que se alinha com a esquerda que se opõe ao correísmo e à luta contra a mineração. Na cidade andina de Cuenca, no Sul, onde votou o líder indígena, foi realizada uma consulta popular paralela para decidir a liberação ou não da exploração de metais em nível industrial nas proximidades de cinco rios. Ainda não foi divulgado resultado desta consulta.
— Temos a oportunidade de enterrar a corrupção do correísmo e do morenismo expressa no senhor Arauz e no senhor Lasso — disse Pérez, do partido indígena Pachakutik, em um vídeo postado no Twitter.
O empresário e engenheiro ambiental Xavier Hervas, que se apresenta como uma esquerda mais moderada que Arauz, tem 13% na pesquisa do instituto Clima Social.O clima “está muito dividido”, disse Sebastian Amaguaya, um pedreiro de 23 anos, à AFP, que após votar em Quito, estava confiante de que “finalmente um presidente que não seja corrupto seja eleito”.As eleições também decidirão os 137 membros da Assembleia Nacional, mas devido à fragmentação das forças políticas não se espera que haja uma maioria partidária.
Quem vencer terá um mandato fraco e precisará buscar formar uma coalizão — disse à AFP o cientista político Esteban Nichols, da Universidade Andina Simón Bolívar.Correa, que mora na Bélgica desde 2017, fingiu ser vice-candidato junto com Arauz, mas enfrenta uma ordem de prisão depois de ser condenado em 2020 a oito anos de prisão por corrupção. A única candidata mulher é Ximena Peña, que representa o enfraquecido partido no poder.