Num telegrama ostensivo enviado a todos os postos mantidos pelo Brasil no exterior, ele explicou que o governo entraria num período em que o pagamento do auxílio moradia aos diplomatas sofreria atraso. As dotações ao Itamaraty poderiam sofrer cortes “significativos”. A nota, recebida em diversos continentes e confirmada pela coluna por cinco embaixadores diferentes, também explica que os atrasos começariam a valer a partir de janeiro de 2021.
Ao serem colocados em postos nas mais diversas cidades, diplomatas recebem salário, mas também um pagamento para poder bancar o aluguel de suas casas. Até que a situação se normalize, cada um dos funcionários terá de tirar de seu próprio bolso para evitar despejos. De acordo com fontes ouvidas pela coluna, esse não seria o único atraso previsto. As embaixadas também serão alvos de cortes de repasses, o que significa que tampouco terão dinheiro para pagar pela energia ou água, inclusive aquelas que são postos fundamentais para negociar o acesso à vacina.
A orientação da direção do Itamaraty é para que, portanto, as embaixadas apertem os cintos. Mas que também já avisem os proprietários de que haverá um atraso por parte dos inquilinos. A meta é de que esses pagamentos sejam renegociados para que multas não sejam cobradas. Por enquanto, os salários de diplomatas estão assegurados, já que nesse caso o dinheiro vem de outra pasta. Cabe ao Itamaraty apenas a manutenção de seus postos pelo mundo.
O argumento, na circular, é de que o governo precisa esperar para que o Orçamento seja aprovado pelo Congresso. A situação não é inédita e, em governos passados, os atrasos foram ainda maiores. Mas, dentro do Itamaraty, a situação apenas ampliou a insatisfação em relação ao chanceler. Não faltam ainda comentários internos mais irônicos sobre o que poderá ser feito para evitar que o atraso se prorrogue: “passaremos a enviar notas [fiscais] de leite condensado”.