Visivelmente emocionado, Rafael Correa se despediu da presidência do Equador na manhã desta quarta-feira (24), depois de dez anos no cargo, e transferiu a faixa presidencial ao seu sucessor, Lenín Moreno. Em seu primeiro discurso, o novo presidente reconheceu os avanços obtidos na última década com a Revolução Cidadã e admitiu que “ainda há muito por fazer”.
Por Mariana Serafini
Lenín comparou a atuação de Rafael Correa, em seu tempo, aos libertadores Simón Bolívar e Eloy Alfaro e agradeceu ao ex-presidente pela dedicação que “transformou o Equador em um novo país”. De imediato, anunciou o aprofundamento e ampliação da Revolução Cidadã e apresentou novos programas sociais, entre eles, o Missão Ternura, cujo objetivo será cuidar das crianças desde o pré-natal até a juventude.
A Missão Ternura dará prioridade ao parto normal humanizado, cuidará da mãe e do bebê recém-nascido e tentará combater a desnutrição infantil, único Objetivo do Milênio que o Equador ainda não cumpriu, enfatizou o presidente.
Segundo Lenín, seu governo dará atenção especial às crianças e aos jovens a fim de impulsionar o desenvolvimento do país desde a primeira idade, aflorando o interesse dos estudantes pelas ciências, esportes e artes. O presidente dedicou boa parte de seu discurso à apresentação das políticas voltadas aos pequenos que, segundo ele, são o futuro e em breve serão o presente do país. Destacou, neste sentido, o papel da família, que deve receber apoio do Estado para cuidar de seus filhos e evitar “os distúrbios comuns nesta idade”, entre eles “a insegurança, a depressão, o suicídio e a gravidez precoce”.
Com relação aos idosos, anunciou o programa “Meus melhores anos”, com a finalidade de cuidar e proteger a terceira idade com acesso à saúde e recreação, além de aposentadoria justa e segura.
Em seguida, destacou algumas políticas já existentes que serão ampliadas. Entre elas o atual programa de distribuição de renda que destina até 150 dólares para as famílias mais pobres, a fim de combater a extrema pobreza. Também lançou o desafio de construir 325 mil novas moradias populares que, segundo ele, vão gerar 136 mil empregos diretos.
Com o Plano Renova, o presidente pretende “pagar a dívida histórica do Estado com o campo”. O objetivo do programa é garantir suporte técnico para pequenos e médios agricultores, além de facilitação de crédito e plano de logística para a colheita e distribuição dos produtos resultantes da agricultura familiar. Assim como as crianças da cidade, as do campo receberão atenção especial, com a construção de escolas nas comunidades mais distantes e melhorias no transporte escolar rural.
Ainda com relação à vida no campo, Lenín anunciou a construção de universidades técnicas agropecuárias focadas na especificidade de cada região geográfica do país que tem a selva Amazônia, o litoral do Pacífico e os “imponentes” Andes. “Ao melhorar a vida no campo, nossos jovens não precisarão sair para estudar e assim vamos produzir mais e melhor para satisfazer nossas necessidades e também nos tornarmos exportadores dos frutos da economia solidária”, garantiu o presidente.
Política externa e diálogo com a oposição – Diversos chefes de Estado participaram da cerimônia de posse, entre eles, o presidente da Bolívia, Evo Morales; da Argentina, Maurício Macri; do Chile, Michele Bachellet; da Colômbia, Juan Manuel Santos; do Paraguai, Horácio Cartes; e do Peru, Pedro Pablo Kuczynski. Vice-presidentes, ministros e delegações internacionais também prestigiaram o novo presidente, o Brasil não enviou um representante.
Lenín destacou a importância de fortalecer a integração regional, em especial, através da Comunidade Andina, da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) e da Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos). “Apoiaremos a construção da paz e a solução pacífica dos conflitos”. Reafirmou o compromisso do Equador com a Colômbia de apoiar os diálogos de paz do governo de Santos com o ELN (Exército de Libertação Nacional) e foi amplamente aplaudido.
“Fortaleceremos a diplomacia verde. Amazônico que sou, impulsionarei o processo regional de proteção da Amazônia para conservar a maior bacia hidrográfica do mundo”. Assim como Correa que travou uma grande batalha contra as transnacionais petroleiras responsáveis por poluir os rios, Lenín garantiu que exigirá das empresas estrangeiras “atuação com responsabilidade ambiental e proteção aos direitos humanos”.
O país é um dos maiores exportadores do mundo de banana, cacau e camarões. Segundo Lenín, o desafio agora é deixar de ser um exportador apenas de matéria-prima e diversificar a produção com valor agregado para fortalecer a economia e gerar mais empregos.