Rachel Alves Nariyoshi
A história dos rótulos está ligada a muitos aspectos da evolução social, econômica e industrial da produção dos vinhos. Ao longo dos anos adquiriram importância e relevância, tendo várias funções: identificar o conteúdo da garrafa, procedência, safra, nome do produtor, nome do enólogo, promover socialmente o proprietário, o terroir, a vinícola, além de garantir a genuinidade daquele vinho ali envasado. Em tempos modernos, representam a maior ferramenta de credibilidade dos vinhos.
Em 1924, Philippe de Rothschild, dono do Château Mouton Rothschild, resolveu engarrafar seus vinhos no próprio Château, criando a conhecida expressão “mis en bouteille au Château”. Engarrafado, os vinhos precisariam de rótulos para serem identificados. Foi, a partir daí que a cada ano/safra o Château convida diferentes figuras públicas para desenhar os rótulos dos seus vinhos. Está registrado, por exemplo, que, naquele ano de 1924, o convidado foi o artista modernista Jean Carlu. Em 1956 foi Salvador Dali, em 1969 Juan Miró, em 1970 Marc Chagall, em 1973 Pablo Picasso. Já em 2004 o Príncipe Charles da Inglaterra teve esse privilégio. Curiosidade, em 1993 o artista plástico francês Balthasar Klossowski desenhou uma menina nua, cuja circulação fora proibida nos Estados Unidos porque a ninfeta fora associada à pedofilia.
A última escolha, agora em 2020, para ilustrar o vinho Château Mouton Rothschild safra 2018 foi o artista plástico chinês, professor Xu Bing que, para essa criativa tarefa, escreveu “Mouton Rothschild” inspirado nos códigos ideográficos tradicionais chineses, porém da escrita desenvolvida por ele mesmo de nome Square Word Calligraph, que é um sistema para escrever o alfabeto estilizado, organizando as letras de cada palavra em estruturas que lembram os caracteres chineses.
O Château Mouton Rothschild não é famoso somente porque todo ano escolhe uma figura pública diferente para ilustrar seus rótulos, mas é sim, produtor do emblemático vinho Premier Grand Cru Classé: “Les vins ont beaucoup de couleur et offrent d’excellentes structures tanniques. Ils sont remarquablement denses et veloutés avec une concentration aromatique rare. Du fait de la sécheresse, les quantités produites sont en retrait, mais le millésime s’inscrit d’ores et déjà parmi nos plus belles réussites.” Um assemblage de 86% de Cabernet Sauvignon + 12% de Merlot + 2 % Cabernet Franc, típico “Corte de Bordeaux”.
O Château Mouton Rothschild tem algumas particularidades únicas, como o seu solo pobre que é composto de cascalho, areia e argila; impróprio para qualquer cultura mas que é adequado para plantar parreiras. O nome Mouton vem de “mothon” que significa “uma elevação”, fazendo alusão às suaves elevações que, inclusive, contribuem para uma drenagem natural além da longa exposição solar dos parreirais. Produz excelentes uvas e, consequentemente, excelentes vinhos. A arte não está somente nos rótulos dos vinhos que se somam a cada ano, está também nas elegantes salas decoradas com pinturas, antiguidades, pratarias, jarros, porcelanas, tapeçarias e outras obras.
A explicação de como ler os “caracteres chineses”