Depois de quatro anos e três meses no Brasil, sendo também o representante do seu país na Argentina, no Paraguai e no Uruguai, o embaixador George Talbot fala sobre os projetos, as iniciativas e as parcerias importantes entre os dois países. Em entrevista exclusiva à revista Embassy, o diplomata relata sua impressão dos brasileiros, da gastronomia, da recente conversa entre os dois ministros das relações exteriores e da estrada binacional que vai alavancar o comércio exterior do Brasil e da Guiana. Talbot foi, por quatro anos e meio, representante da Guiana na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, antes de vir para o Brasil.
O espírito acolhedor dos brasileiros, a abertura aos estrangeiros, marcou o embaixador Talbot. Também chamou sua atenção o nível elevado de preparação das carnes, a feijoada e a diversidade cultural existente no país. “O povo do Brasil é de uma diversidade tão grande quanto a topografia e a culinária do país”, afirma o diplomata. Talbot relata ainda sua admiração pelo número de árvores frutíferas, de diferentes espécies, plantadas no meio das ruas. “Vou levar essa ideia para a Guiana”, revelou.
A Guiana e o Brasil estabeleceram relações diplomáticas em 26 de agosto de 1968. A cooperação cobre uma ampla gama de áreas, incluindo comércio, saúde, agricultura, transporte e questões de segurança. Depois de quatro anos dando continuidade a esse trabalho, George Talbot retorna este mês à Guiana. Antes, porém, conversou com a Embassy. Leia agora a entrevista completa:
Embassy- Como o senhor avalia a missão no Brasil? O que você destacaria?
Bem, neste período aqui tive a oportunidade de aprofundar as relações bilaterais, intensificar os contatos políticos, avançar em vários projetos, em acordos para facilitar intercâmbios futuros. Fizemos alguns acordos de facilitação de investimento, de propiciar condições menos burocráticas. Entre as pautas de ambos os países estão a proteção e tributações mais iguais, operacionalização do transporte de passageiros, de produtos por meio rodoviário que estão em curso. Vamos criar uma rota internacional entre os dois países. Estamos preparando o terreno, buscando investidores e trabalhando na sua regularização.
Acabamos de descobrir grande quantidade de petróleo na Guiana e há uma expectativa de crescimento econômico do país em 45%, apesar da pandemia. Assim, estamos estudando as melhores condições dos investidores, dos empresários. Estamos vendo a possibilidade de intercâmbio de técnicos da Guiana e do Brasil na área petrolífera, uma integração de infraestrutura.
A Guiana também é, pelo Norte, um caminho mais fácil para o mar. Estamos pavimentando uma estrada panorâmica para o litoral da Guiana para o escoamento de produtos brasileiros. A pavimentação da estrada que vai de Lethen a Georgetown beneficiará principalmente o setor produtivo de Roraima para futuras exportações. A ideia é construir uma estrada de nível internacional que leve o Brasil para o mundo, o que também vai intensificar drasticamente as relações bilaterais. É um projeto planejado desde as décadas de 70 que agora começa a virar realidade. O trecho da Guiana já está em construção desde 2009.
Embassy- No início deste mês, os ministros das Relações Internacionais Hugh Todd e Ernesto Araújo tiveram um encontro virtual. Que tipo de cooperação bilateral e parcerias importantes foram estabelecidos?
Sim, Já realizamos uma reunião virtual entre os chanceleres, ministros de relações exteriores dos dois países. Eles falaram sobre os interesses de ambos os lados. Primeiramente eles se conheceram, fizeram um balanço preliminar das relações bilaterais e sobre uma possível visita do presidente Bolsonaro à Guiana. Além das áreas de interesse mútuo, falaram ainda da Rodovia Linden-Lethem, que já mencionei, da cooperação Sul-Sul, cooperação técnica e comercial.
Embassy- Qual a expectativa do novo presidente Mohammed Irfaan Ali em relação ao Brasil?
Vemos o Brasil como um parceiro importante e o maior pelas suas dimensões continentais e força política. Temos uma relação de amizade sem problemas fronteiriços. O Brasil acompanhou as recentes eleições, em agosto, apoiando assim o fortalecimento do processo democrático que ambos os países defendem. Também se espera, em relação aos direitos humanos, uma união no compartilhamento das bases de valores nesse setor.