Celebrando recentemente o Dia Nacional, em 10 de outubro, a população de Taiwan tem inúmeras razões para se orgulhar, acima de tudo da próspera democracia e o compromisso do país em proteger os direitos humanos em um momento em que as liberdades civis em todo o mundo estão sendo colocadas à prova. Taiwan começou por ser a Ilha Formosa, assim batizada, em 1544, pelos portugueses, mas hoje, este país composto por 23 milhões de habitantes, conta com mais de 70 anos de história. Foi Taiwan quem primeiro alertou a Organização Mundial de Saúde (OMS) para a pandemia iniciada na China, mas, segundo o governo taiwanês, não teve a devida atenção já que não é reconhecido como país soberano.
Em entrevista exclusiva à revista Embassy, o representante do Escritório Econômico e Cultural de Taiwan, Emb Tsung-Che Chang (foto) fala, em ótimo português, das iniciativas do governo de Taiwan para se integrar à comunidade internacional já que não tem relações diplomáticas com grande parte do mundo. Inclusive com o Brasil, que cortou o relacionamento oficial em 1974, não tendo hoje nenhum acordo bilateral. Segundo Tsung-Che existe 100 mil descendentes de taiwaneses no Brasil. Como exemplo de possibilidade de acordo entre os Brasil e Taiwan, Chang cita o turismo. A seu ver, o “Brasil é tímido em comércio e o medo de retaliação da China também inibe”.
Taiwan celebrou, recentemente, a data nacional. O que há, segundo o senhor, para se comemorar?
Taiwan orgulha-se do seu processo de democratização, ter eleições regulares, um sistema democrático que funciona muito bem. Temos uma relação complicada com a China, com quem não nos identificamos, mas mantemos nossa soberania, a luta pelos direitos humanos. Taiwan é o primeiro pais da Ásia a legalizar o casamento de pessoas do mesmo sexo. Temos conseguido frustrar as tentativas, ameaças de anexar Taiwan á China, com o apoio do presidente americano, Donald Trump. Temos também a 15ª força militar do mundo para nos defendermos. Queremos agora fazer mais amizades com o mundo, valorizar nossa indústria e compartilhar nossa democracia com o Brasil que é igual. Temos também uma educação que hoje é considerada uma das melhores do mundo. Dispomos de 200 universidades, com um custo bom, um ambiente muito bom para estrangeiros. Queremos incentivar a ida de estudantes para Taiwan. Enfim, temos todas as condições para receber os turistas, os empresários e os estudantes. Promovemos uma feira comercial mensal que queremos uma participação maior de outros países.
As iniciativas e as providências tomadas pelo governo em relação ao combate ao Covid foram bastante elogiadas, consideradas exemplos. Taiwan já está livre da pandemia?
De fato, até hoje, Taiwan exibe impressionantes números estatísticos de 500 contaminados e 07 mortos, numa população de 23 milhões de pessoas. Isso se deve às medidas preventivas do governo, realização de check up, quarentena. Foi criada uma sala especial nos hospitais com área de pressão negativa, o ar não sai o que evita a contaminação. Mais de dois milhões de pessoas faziam o teste diariamente. Atravessamos essa pandemia sem lockdown, sem suspender as aulas ou eventos esportivos. Desde o início, cada um fez a sua parte usando máscara e mantendo a distância social. Fomos o primeiro país do mundo a fazer testes, a suspender voos da China, a levar o coronavírus a sério. A Organização Mundial de Saúde, no entanto, não reconhece Taiwan como país. Taiwan lutou sozinha, enfrentou o coronavírus sozinha e foi bem sucedida. Agora está ajudando outros países. Ao todo já foram doadas mais de 17 milhões de máscaras para os Estados Unidos, Europa, Filipinas, Fiji e Brasil.
O escritório criou a Galeria Formosa com produtos e informações sobre Taiwan. Qual o objetivo dessa nova área?
Sim, o Espaço Galeria Formosa, criado para celebrar o 109º aniversário da República da China, Taiwan. Abrimos este espaço de cultura para apresentar aos amigos brasileiros mais facilmente a nossa cultura em Taiwan, que é diferente da chinesa, da japonesa. Na galeria foram colocados fotos e réplicas de peças de museus do país que dão uma visão importante do que é Taiwan e de sua história.
Veja as fotos da exposição abaixo. O espaço está aberto à visitação de 9h às 17h, Mais informações pelo telefone 3364-0221 ou pelo e-mail: bra@mofa.gov.tw
A revista “Times” dos Estados Unidos anunciou as 100 pessoas mais influentes em 2020. Entre elas está a Presidente Tsai Ing-wen. O que está sendo considerado mais importante nas ações do governo dela?
Temos um movimento feminino forte, uma presidente mulher, um parlamento com 40 por cento de mulheres e, na área da diplomacia, recebemos cada vez mais mulheres. Elas quem mandam e têm nosso respeito. Apesar do ano turbulento que tivemos com a crise da COVID19, graças ao trabalho da nossa presidente, Taiwan foi reconhecida como uma Ilha da Resiliência pela comunidade internacional. Isso se refletiu em mais de 3.300 relatórios da mídia internacional sobre o Modelo de Taiwan de Prevenção de Pandemia.
Tsai Ing-wen recebeu visitas de alto nível à Taiwan do Ex-Primeiro-Ministro japonês Yoshiro Mori, do Presidente do Senado tcheco Miloš Vystrčil, do Secretário de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, Alex Azar, e do Subsecretário de Estado dos Estados Unidos, Keith Krach, cujo reconhecimento e respeito são encorajadores para o povo de Taiwan. Ela também anunciou a assinatura de um Quadro para Fortalecer o Financiamento de Infraestrutura e Cooperação para Construção de Mercado com os EUA, permitindo que os dois países participem, juntos, em projetos de infraestrutura nas Américas e na região do Indo-Pacífico.
Uma comitiva de representantes de Taiwan no Brasil (foto) visitou no dia 30 passado, a sede da Federação Goiana de Municípios, em Goiânia. O que o estado de Goiás tem de interessante para oferecer para Taiwan?
Nós discutimos a possibilidade de fortalecimento do comércio dos municípios goianos com Taiwan. Visitei como diplomata, não como home de negócios, mas acho que podemos criar um canal de comercio. A exportação de soja e de milho podem interessar às empresas taiwanesas e também podem oferecer seus produtos para o Mercosul. Creio que seja possível fazermos muitos negócios com o Brasil. Quero organizar também um grupo para visitarmos o Paraná. Temos uma unidade de promoção de negócios em São Paulo. Estamos tendo conseguir o passaporte eletrônico para os taiwaneses, o que facilitaria o intercâmbio cultural e comercial entre nós.
Em Taiwan, temos cerca de 17 milhões de pessoas que viajam periodicamente para o exterior. Somente 4721 vieram ao Brasil em 2019. Temos isenção de visto em 170 países. Outro dado importante é que 90% das companhias em Taiwan são de pequenos porte. Os empresários aproveitam para fazer prospecção de negócios e eventualmente fechar contratos quanto viajam com a família. Por meio do incentivo ao turismo bilateral, podemos criar oportunidades de negócios. Nosso papel, como governo, é oferecer novas oportunidades para nossa população. Taiwan dispõe de uma grande diversidade cultural como aqui no Brasil, além de muita segurança. Lá se pode andar 24 horas nas ruas, sempre há negócios funcionando e as pessoas podem estar tranquilas.