Em entrevista exclusiva à revista Embassy, o embaixador do Malawi no Brasil, Brian G. Bowler,ressalta a importância da democracia, do pedido de união feito pelo novo presidente do país que tem 40% de mulheres em sua equipe. Fala da luta pelo fim da corrupção e do nepotismo no Malawi. Bowler lembra que sua nação é a única do continente africano que não esteve envolvido em guerra. O novo governante do país inclusive já condenou os ataques armados no norte de Moçambique, manifestando disponibilidade para ajudar no alcance da paz lá e na África Austral. Na opinião do embaixador, o Brasil “é a chave de ouro para a mudança no Malawi e na África por meio de tecnologias científicas para a agricultura”. Leia agora a entrevista completa de Brian Bowler.
Embassy – O Malawi acaba de comemorar mais um ano de sua independência. Quais as mais importantes conquistas do país, na opinião do senhor?
Antes de tudo, o Malawi impulsionou uma democracia genuína e o seu Estado de direito, onde um Presidente em exercício pode ser retirado de seu cargo através do voto, onde a vontade do povo prevalece. Ao mesmo tempo, o ano de 2020 foi atípico, foi o ano mais desafiador e a população foi protagonista. Cordeiros viraram leões, as forças armadas permaneceram profissionais diante de todos os eventos políticos, mesmo os do gabinete do presidente. O exército protegeu o cidadão e a constituição. Estou muito orgulhoso do meu país porque o povo tem voz. Como os brasileiros se orgulham e se unem para ver a seleção jogar, quero ver toda população do Malawi unida pelo bem do país e orgulhosa de cada conquista.
Embassy – O Malawi também está sob novo governo. O que se espera do novo presidente Lazarus Chakwera?
O que se espera do novo presidente Lazarus Chakwera é um Malawi que seja para todos: a unidade nacional por meio da dissolução de tribos e do nepotismo político que ocorre nesse momento. É esperado principalmente o estado de direito, bem como o combate à corrupção; o fim da caça às bruxas; além de um diálogo aberto com a oposição também serão observados. Podemos esperar ainda a liderança de servidores, onde os funcionários públicos devem servir a Nação e se considerar servidores do povo. Assim, o Malawi prosperará unido.
Embassy – Como a população está vendo sua promessa de combate à corrupção?
A população está muito animada com este novo governo, pois a corrupção existia a níveis que afetavam o crescimento e o desenvolvimento do país. Os corruptos devem ser levados à justiça e o governo do Sr. Lazarus Chakwera está comprometido a fazer isso. Esperamos que nosso esforço para combater a corrupção não seja entendido como uma perseguição a alguns indivíduos, afinal, eles devem prestar suas contas. A corrupção é o mal e o governo do presidente Lazarus Chakwera sabe disso melhor que ninguém. A Corrupção é um câncer, é mais de 200 vezes pior que o coronavirus porque não tira só o dinheiro, tira a oportunidade, a vida das pessoas de forma indireta. Ninguém estará acima da lei no Malawi.
Embassy – Nesse final de semana, o novo chefe de governo do Malawi condenou os ataques armados no norte de Moçambique, manifestando disponibilidade para ajudar no alcance da paz no país e na África Austral. Acredita-se, como ele, haver mais paz e democracia no continente africano?
Guerra, crimes e ataques a civis inocentes são inaceitáveis em qualquer lugar do mundo e, infelizmente, vêm ocorrendo com muita frequência. O Malawi é o único país do continente africano que não esteve envolvido em guerras. Isso porque somos um país pacífico e uma nação amorosa e acreditamos que o diálogo é capaz de resolver todos os problemas. O que está acontecendo na região norte de Moçambique está causando grande preocupação a todos os países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
Atualmente, o grupo terrorista islâmico tem criado sérias preocupações e elas estão se firmando na região. Isto é, naturalmente, uma preocupação para o Malawi, pois somos vizinhos de Moçambique. Moçambique tem uma grande oportunidade nessa região que pode beneficiar toda a África e essa é uma oportunidade de gás multibilionária descoberta recentemente. O Presidente, sendo um homem piedoso por Deus e um servo de Deus que ama a paz, naturalmente não ficará feliz em ter operações terroristas como vizinhos.
Embassy – Como estão e como ficam as relações Brasil e Malawi?
As relações diplomáticas são excelentes, estão em um nível muito alto, mas precisamos traduzir essa boa vontade em um desenvolvimento econômico. O Malawi pode participar do desenvolvimento econômico para o Brasil e o Brasil pode fazer o mesmo com o Malawi. O Brasil, em minha opinião, é o seleiro do mundo, é a chave de ouro para a mudança no Malawi e na África por meio de tecnologias científicas para a agricultura. Não há segurança em nenhum país sem segurança alimentar. O Brasil é o melhor parceiro para compartilhar seu conhecimento para alcançar a segurança alimentar no Malawi e na África.
O governo do Brasil e a população brasileira estão muito dispostos a ajudar nesse sentido e em projetos desse tema. Nossa política nessa missão é trabalhar com todas as ferramentas disponíveis. O setor privado brasileiro, as oportunidades de educação, as instituições governamentais, entre outras, são simplesmente as melhores e fornecem as soluções mais adequadas para o Malawi e a para a África.
“Cada um de nós, de alguma forma, faz parte dos problemas de Malawi e deve, de alguma forma, fazer parte de sua solução. Não podemos nos eximir de responsabilidade pela má administração que permitimos ocorrer sob vigilância por quase três décadas, assim como não podemos renunciar à nossa responsabilidade de fazer as pazes”.
Lazarus Chakwera – Sexto presidente do Malawi, em seu discurso de posse
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