O plano – que teve a anuência do comandante das forças rivais do governo de acordo nacional (GAN), o marechal Khalifa Haftar, que sofreu duras perdas nas últimas semanas – contempla um cessar-fogo a iniciar já esta segunda-feira e a formação de um conselho presidencial no qual as três regiões da Líbia estariam representadas, que deveria governar durante um período de transição de um ano e meio, seguido de eleições.
Abdel Fattah el-Sissi, que tem estado ao lado de Haftar no conflito líbio, sublinhou, ainda, que a iniciativa prevê a unificação de todas as instituições financeiras e petrolíferas líbias e o desmantelamento das milícias, para que o chamado Exército Nacional Líbio e outras agências de segurança possam “assumir as suas responsabilidades”. E lembrou também os perigos de continuar a procurar uma solução militar para o conflito.
“Não pode haver estabilidade na Líbia se não forem encontrados meios pacíficos para a crise que incluam a unidade e a integridade das instituições nacionais”, afirmou o presidente egípcio, que apelou à saída de tropas estrangeiras de solo líbio, acrescentando: “A iniciativa pode ser um novo começo na Líbia”.
Não houve qualquer comentário imediato do governo apoiado pelas Nações Unidas e com sede em Tripoli, mas um porta-voz das forças militares aliadas, Mohamed Gnono, adiantou que continuariam a lutar para capturar a cidade de Sirte, a leste de Tripoli, que as forças do Marechal Khalifa Haftar tomaram em janeiro, e deixou ainda um ‘recado’.
“Não começamos esta guerra, mas somos nós que vamos determinar quando e onde ela vai acabar”, disse Gnono a propósito da conferência no Cairo, que não teve representantes do GAN ou dos seus maiores apoiantes externos, Turquia e Qatar. Por outro lado, Haftar marcou presença, bem como diplomatas dos Estados Unidos, Rússia, França e Itália.
A iniciativa do Egito surge na sequência das perdas sofridas pelas tropas do Marechal Haftar na região ocidental do país, que vieram limitar ainda mais os esforços de tomar o controlo de Tripoli, como visava uma ofensiva lançada em abril de 2019.
Paralelamente, há ainda o ‘braço de ferro’ entre norte-americanos e russos, com os EUA a avisarem a Rússia de um possível envio de tropas para dissuadir qualquer tentativa de desestabilização do norte de África.O caos no país rico em petróleo agravou-se nos últimos meses, à medida que os agentes estrangeiros intervêm cada vez mais, apesar das promessas em contrário numa cimeira de paz ao mais alto nível realizada em Berlim no início deste ano.
Na quarta-feira, a ONU anunciou o reinício das negociações entre os beligerantes líbios, suspensas há mais de três meses. Todas as anteriores tentativas de se conseguir um cessar-fogo duradouro falharam. A Líbia mergulhou no caos após a queda do regime de Muammar Kadhafi, em 2011. Desde abril de 2019, centenas de pessoas, incluindo numerosos civis, foram mortos nos combates da ofensiva a Tripoli e cerca de 200.000 foram obrigados a fugir.