Folia brasileira tem inspiração em personagens europeus
| Oda Paula Fernandes
A festa pagã, Carnaval, remonta aos tempos do Antigo Egito, passando pela Grécia Antiga e depois pelos romanos, acontecia para celebrar a fecundidade da terra, com restrições ao consumo de vinho e carnes. No século IX, na Europa, surgiu uma nova forma de agradecer aos deuses as abundâncias fornecidas pela terra. Podia comer e beber sem limites, nos três dias que antecedem à Quaresma. Apenas o peixe era permitido. E foi no século XI que a Igreja Católica instituiu a Semana Santa e os quarenta dias de jejum com abstinência de carne. O nome Carnaval vem do latim carnis levale, que significa retirar a carne.
O carnaval “moderno” tem origem no entrudo português onde, no passado, as pessoas jogavam ovo, farinha e águas umas nas outras. Essa festa acontecia no período anterior a Quaresma. O significado é simples: liberdade. Este sentido permanece até os dias de hoje no carnaval, e não à toa, é uma das festas mais populares e representativas no mundo.
No Brasil, o entrudo chegou por volta do século XVII. Influenciado pelas festas carnavalescas que aconteciam na Europa, em países como França e Itália, o carnaval era urbano, e os carnavalescos usavam máscaras e fantasias. Os personagens mais usados eram o Rei Momo, a colombina e o pierrô. Personagens que, embora fossem de origem europeia, foram incorporados ao carnaval brasileiro. Entre os séculos IX e XX surgiram outras formas no carnaval brasileiro. Blocos carnavalescos, corsos e cordões onde pessoas se vestiam com fantasias, e saíam e grupo com carros decorados desfilando alegria ao som de músicas como samba. Daí surgiu os blocos com carros alegóricos, trios elétricos e as escolas de samba.
Expressão cultural – Mas foi com o surgimento da primeira escola de Samba, no rio de Janeiro, que o carnaval brasileiro ganhou de populares, o título, do maior carnaval popular do mundo, com a ajuda das marchinhas, do samba, dos carros alegóricos, dos sorrisos e principalmente, da quantidade de carnavalescos que todo ano fazem a festa brilhar. Organizados em Ligas de Escolas de Samba, atualmente, São Paulo também realiza desfiles de carnaval.
Ao longo de todo País, a economia local se movimenta com uma onda de turistas nacionais e estrangeiros que vêm ser feliz ao som das musicas elaboradas exclusivamente para este mega evento.
Bonecos – Mas foi em Recife, capital pernambucana, que o carnaval de rua ganhou uma forma peculiar: bonecos gigantes de Recife, com características tradicionais do Nordeste brasileiro. Em Olinda, também no Pernambuco, e Recife, os foliões vão às ruas ao so m do maracatu e do frevo, ritmos nordestinos.
Em Salvador, Bahia, o carnaval tem uma forma diferente, própria. Os trios elétricos embalados por músicas dançantes de cantores e grupos típicos da região arrastam multidões por cerca de um mês inteiro de folia. Blocos tradicionais, conhecidos e respeitados internacionalmente por expressar a cultura afrodescendente, como o Olodum, o Ileyaê e o Afoxé Filhos de Gandhi, embalam a alegria de um povo que se permite ser feliz.
Apesar de toda brasilidade dessa festa, as fantasias mais usadas durante o carnaval são Pierrot, Colombina e Arlequim, inspirados em personagens do teatro popular de comédia italiano dos séculos XVI ao XVIII.
O Rio de Janeiro tem o título de ter o maior carnaval do mundo, segundo o livro Guinness, de Recordes Mundiais. E os números impressionam. De acordo com o livro, a festa popular tem a participação de cerca de 2 milhões de foliões por dia.
Carnaval no mundo
No sul da Bélgica, centenas de Gilles se preparam para mais um Carnaval em Binche ao som de tambores e dos sinos que levam na cintura. Essa tradição reconhecida como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO, remonta ao final do século XVIII. A bela fantasia vermelha, amarela e preta – cores da bandeira do país, a máscara confeccionada sob medida, o chapéu com enormes penas de avestruz e os tamancos de madeira são preparados durante meses. Apenas homens nascidos ou que moram há mais de cinco anos em Binche são aceitos na confraria.
O Carnaval de Veneza é mais famoso do mundo. Desde 1296, quando foi declarado celebração pública pela República Della Sereníssima – época em as pessoas tinham até a possibilidade de ridicularizar a aristocracia, ao se esconder por trás de máscaras, omitindo classes sociais e status. Hoje, milhares de turistas lotam as ruas de Veneza com máscaras e fantasias de Pierrôs, Colombinas e Arlequins – personagens da Commedia Dell’Arte. Do alto do célebre campanário na Praça de São Marcos, uma estudante com asas de anjo, suspensa a 80 metros do chão jogou confete nos foliões e deu início às festividades. Os organizadores estimam receber 24 milhões de visitantes durante os dez dias de Carnaval.
Na França, a batalha de flores faz parte da tradição do Carnaval de Nice. Milhares de flores produzidas na região são atiradas aos espectadores. Este ano, os carros alegóricos com arranjos florais vão desfilar por um novo trajeto, evitando uma das avenidas mais famosas da Côte d’Azur, a Promenade des Anglais, onde aconteceu o ataque terrorista em julho do ano passado.
O carnaval mais animado da Alemanha acontece na cidade de Colônia, regada a muita cerveja. A temporada de Carnaval, também chamada de Quinta Estação, só faz uma pausa no Natal e Ano Novo, depois é retomada e segue até a quarta-feira de Cinzas.
Carnaval Aussee, Áustria : 250 anos de tradição
O tempo em que as figuras mais imaginativas animam o Ausseerland. Já no século 16, o Carnaval austríaco foi mencionado por escrito, ainda é uma tradição viva e conta desde 2016. Patrimônio Imaterial Mundial. Os dias de carnaval, Ausseer Fasching, são comemorados extensivamente. Tradição e cultura popular também foram enfatizadas no Carnaval.
De repente, os homens são mulheres ou o contrário? Durante o carnaval de Aussee tudo é topsy-turvy. Na segunda-feira de Shrove há uma parada dos “shrews do cilindro” em Altaussee, dirigindo o inverno afastado com tambores e trombetas.
Você ficará encantado com as máscaras artisticamente trabalhadas, que supostamente terão sua origem em Veneza. O “Flinserl” dar pequenos presentes de nozes para as crianças, mas apenas se eles são capazes de ganhar a recompensa com um poema curto.
Carnaval de Portugal guarda origens da festa brasileira
A tradição do carnaval em Portugal remonta a uma antiga celebração denominada Entrudo, que antecedia a quaresma
Apesar de não ostentar, como o Brasil, o título de “país do carnaval”, Portugal tem uma grande tradição relacionada à festividade e guarda as origens da festa brasileira. O carnaval é celebrado principalmente em algumas regiões do país, como Torres Vedras, Loures, e nas ilhas da Madeira e dos Açores.
O “entrudo”, que marcava a entrada para os 40 dias de jejum de preparação para a Páscoa, era quando as pessoas festejavam e cometiam os “pecados da carne”, que eram perdoados pela Igreja na quaresma. O carnaval não faz parte da lista dos feriados obrigatórios previstos por lei em Portugal, mas é considerado ponto facultativo.
O carnaval de Torres Vedras, cidade de cerca de 80 mil habitantes, no distrito de Lisboa, é tido como o mais antigo de Portugal, com registros desde 1574, e mantém-se fiel às tradições do “entrudo”. Os desfiles contam com carros alegóricos; bonecos gigantes (como se vê no carnaval de Olinda, em Pernambuco); e as famosas “matrafonas”, homens fantasiados de mulher. Há também o rei e a rainha, que na verdade são dois homens, um deles vestido de mulher. A população participa em peso, aproveitando os dias de festa para se fantasiar e ocupar as ruas.
A principal brincadeira do carnaval de Torres Vedras consiste no arremesso de “cocotes”, pequenas bolas de seda atadas com uma fita e contendo restos de serradura e raspas de borracha. As festas atraem cerca de 350 mil visitantes durante os cinco dias e geram receitas de aproximadamente 10 milhões de euros para a economia local.
Na Madeira – Outro carnaval com forte expressividade em Portugal é o da Ilha da Madeira, de onde acredita-se que saiu a tradição que chegou ao Brasil colonial e deu origem ao nosso carnaval. O festejo, na ilha, conta com dois grandes cortejos: o alegórico e o trapalhão.
Loures – Outra cidade portuguesa que também festeja o carnaval com grande animação é Loures, que pertence ao distrito de Lisboa e tem cerca de 26 mil habitantes. O carnaval é feito por grupos pequenos, que se reúnem durante todo o ano para organizar a festa e fazer as alegorias, as fantasias e os carros alegóricos. O carnaval de Loures já foi mais “abrasileirado” há alguns anos, com mini escolas de samba, baterias e alas, mas hoje já não é assim. São coletividades que se juntam para curtir o carnaval, inspirados pelo tema do ano.