Liz Elaine Lôbo
O país conta com oito centros especiais de tratamento para infectados pelo novo coronavírus. Em entrevista exclusiva à revista Embassy, o embaixador dos Camarões no Brasil, Martin Agbor Mbeng, acredita que o fato de a população ser mais jovem colaborou para um índice maior de recuperação. O isolamento total, o uso da hidroxicloroquina combinado com azitromicina, medicamento ainda em debate em alguns países, e a utilização obrigatória de máscaras, também são citados pelo diplomata como medidas que ajudaram no enfrentamento da pandemia.
Embassy – O Coronavírus já chegou à África. Qual é a real situação nos Camarões?
O primeiro caso da Covid-19 foi identificado na África em fevereiro de 2020. No dia 20 de fevereiro de 2020, 52 dos 54 países da África foram afetados pelo vírus com mil mortes e 19.334 pessoas infectados. Os países da região norte da África registraram o maior numero de infectados. Os Camarões são o país com o segundo maior numero de casos da Covid-19 na África subsaariana. O primeiro caso, vindo de fora, foi identificado pelas autoridades do país, no dia 06 de março. Em oito das dez regiões dos Camarões já foram registrados casos de pessoas infectadas.
Embassy – A pandemia na África é particularmente preocupante por causa do frágil sistema de saúde que enfrenta doenças como a malária, tuberculose e HIV. Como o Senhor analisa esse contexto?
- Os países da África como outros países menos desenvolvidos no mundo têm frágeis sistemas de saúde, entretanto, o continente tem uma experiência recente com vírus como foi com o Ebola, AIDS e Malária, o que proporcionará um apoio de infraestrutura que pode ser vantajoso para combater a pandemia da Covid-19, mesmo com a insuficiência dos sistemas de saúde e a falta de água potável na maior parte do continente que é muito preocupante.
- A maioria dos governos da África anteciparam os protocolos da Organização Mundial de Saúde para combater essa pandemia como o uso de mascaras, a suspensão de voos internacionais, quarentena, confinamento, isolamento social, proibição de eventos públicos, a suspensão de escolas, etc. Essas medidas ajudaram a reduzir o numero de pessoas infectadas com a Covid-19 na África, portanto, reduzindo o impacto da pandemia nos sistemas de saúde no continente.
- A economia de muitos países africanos também depende da exportação de petróleo e outros recursos naturais e que infelizmente a pandemia da Covid-19 afetou muito a demanda desses produtos no mercado mundial, resultando na queda dos preços. Isso pode afetar muito a atividade econômica desses países impossibilitando o combate do Covid-19 com mais investimento na saúde.
Embassy – No mesmo momento em que os países africanos têm constantes dificuldades na área da saúde, foi dito que o COVID-19 não chegou à África em uma grande escala, mesmo tendo a China como o maior parceiro do continente africano. Isso foi por causa do clima? A que pode atribuir isso?
Os números de casos positivos da Covid-19 registrados no continente mostram que a África está combatendo muito bem essa pandemia considerando a alta taxa de disseminação desse vírus em outros continentes, notavelmente, a alta taxa de mortalidade registrada.
Isso pode ser explicado com uma combinação de fatos:
- As lições aprendidas dos primeiros países afetados por esse vírus, notavelmente, a antecipação das medidas de isolamento (essas medidas estão sendo flexibilizadas neste momento)
- O rápido gerenciamento dos hospitais como as medidas de emergência tomadas para a coordenação e a identificação dos primeiros casos de pessoas infectadas.
- O total isolamento das pessoas infectadas em lugares apropriados.
- A rápida implementação e administração de protocolos de tratamento a partir da identificação dos primeiros sintomas do vírus, notavelmente, o uso da hidroxicloroquina combinado com Azitromicina, que é um assunto de debate em outros lugares.
- Nós poderíamos também adicionar a população relativamente jovem da África e provavelmente, o clima quente que é característico do muitos países africanos e segundo alguns cientistas ajuda a prevenir a rápida disseminação desse vírus.
Embassy – Quantas pessoas já foram infectadas pelo Coronavírus nos Camarões? Há mortos?
No dia 23 de Abril de 2020, os Camarões registraram 1334 casos de COVID-19, 176 pacientes foram hospitalizados, 35 pessoas foram colocadas em respiradores, 668 pessoas curadas e 43 mortes.
Embassy – Qual são as principais medidas nos Camerões para conter essa pandemia?
Desde a identificação dos primeiros casos da Covid-19 na China, os Camerões, seguindo as instruções do Chefe de Estado e sobre a coordenação do Primeiro Ministro e Chefe de Governo, como em muitos países, implementaram gradativamente medidas para combater essa pandemia.desde o 17 de março até hoje bem como o monitoramento e ajustando das medidas dependendo da evolução do vírus.
Elas incluem medidas de contenção e social (de 15 dias com a possibilidade de prorrogação dependendo da necessidade), gostaria de mencionar os seguintes pontos:
- O fechamento obrigatório de estabelecimentos de ensino públicos e privados, incluindo centros de formação vocacionais e profissionais, desde a identificação dos primeiros casos do Covid-19. Dependendo da evolução da epidemia no país, eles poderiam ser reabertos em 1º de junho.
- O fechamento das fronteiras de terra, marítima e aérea para evitar novos casos vindos de fora do país.
- Para reduzir a rápida disseminação do vírus em um nível de comunidade, o fechamento dos bares, restaurantes e lugares de lazer as 18:00 horas sobre a supervisão das autoridades administrativas foi implementado.
- Novos regulamentos para empresas que distribuem produtos de consumação.
- O uso obrigatório de máscaras para todos em público.
- A priorização de trabalhar e estudar online.
- O Plano Nacional de Combate à Covid-19 com um fundo de 58 bilhões de Francos da África Central, cerca de US$ 96 milhões.
- A aprovação e utilização de cloroquina no tratamento de pacientes desde os primeiros sintomas desse vírus.
- A criação de oito centros especiais para o tratamento de pacientes da Covid-19 em muitas cidades nos Camarões. Eles são responsáveis pela administração do tratamento médico e do monitoramento dos pacientes.
- A disponibilização de 300000 testes rápidos desde o dia 18 de abril e 100 respiradores.
Em relação às medidas sociais, gostaria de mencionar:
- Concertações permanentes que são realizados entre o governo, atores políticos e econômicos para procurar as soluções do impacto da pandemia nas atividades diárias da população.
- A criação pelo Chefe de Estado dos Camarões de um Fundo Especial Nacional de Solidariedade com o valor de um bilhão de Francos da África Central, cerca de US$ 1,7 milhões para apoiar as operações no campo.
- Uma doação especial do governo de dois bilhões de Francos da África Central , cerca de US$ 3,4 milhões para as 360 subprefeituras dos Camarões, principalmente composto de materiais para combater à Covid-19.
Embassy- Há estrangeiros detidos nos Camerões por causa da pandemia?
Nenhum estrangeiro foi detido no país. Estrangeiros e camaroneses que viajaram antes da proibição de voos internacionais imposto pelo governo foram colocados em uma quarentena de 14 dias em hotéis específicos. Todas as despensas foram pagas pelo governo. Isso, para determinar se eles foram infectados ou não, antes de entrar em contato com o resto da população. Um procedimento padrão implementado em muitos países no mundo.
Embassy – Há registros de casos de discriminação contra estrangeiros na capital, Iaundé, porque são brancos. Eles são chamados de corona ou estão atacados com pedras. O Senhor tem conhecimento desses casos e quais são as ações do governo em relação a isso?
Os Camarões são um estado de direito e não permitir discriminação contra ninguém, camaronês ou estrangeiro. Esses falsos rumores foram fabricados pelos inimigos do estado nas medias sociais pelo país afora para acabar com a boa reputação do país no mundo.
Embassy – Quantos camaroneses moram no Brasil? Em quais regiões eles moram e como a embaixada os está ajudando?
Cerca de mil camaroneses moram no Brasil e a grande maioria no sudoeste do Brasil, sendo mais de 50% no estado de São Paulo. A embaixada encorajou esses cidadãos à implementar integramente as medidas das autoridades locais e federais do Brasil para combater a pandemia. A embaixada também está tendo um contato mais próximo com a comunidade camaronesa não só no Brasil, mas na América do Sul inteira. Como parte do combate a pandemia, na medida do possível, demos um apoio multifacetado para apoiar a diáspora camaronesa na sua jurisdição.