Liz Elaine Lôbo
Produção: Elna Souza
Tradução: Gabryella Freitas
Em entrevista exclusiva à revista Embassy, o embaixador da Etiópia no Brasil, Yalew Abate Reta informou que profissionais aposentados e em treinamento poderão, em caso de emergência, se unir às equipes médicas no combate à pandemia. O diplomata disse que a polícia está realizando o monitoramento das ruas para assegurar o distanciamento social e que os líderes africanos concordaram com a importância do trabalho coletivo para contornar os efeitos adversos da crise da Covid-19. Reta expressou seu pesar pelas vítimas do novo coronavirus. Leia agora a entrevista na íntegra.
Embassy – O senhor poderia dar uma visão do quadro atual na Etiópia com a pandemia?
O governo tem adotado medidas de monitoramento da propagação do vírus globalmente e tem se preparando nacionalmente, mesmo antes de um caso positivo ser confirmado na Etiópia. Em um esforço para mitigar a disseminação da Covid-19, um Comitê Ministerial Nacional presidido pelo Primeiro Ministro da Etiópia foi estabelecido e vem emitindo várias medidas progressivas de acordo com as avaliações que estão sendo feitas. Em seguida, foi lançado um movimento nacional de medidas de prevenção e higiene, com adesão estrita aos protocolos de distanciamento social, que estão sendo monitorados pela polícia. À medida que a pandemia da Covid-19 continua progredindo global e nacionalmente, o Conselho de Ministros decretou um estado de emergência recentemente. Em 22 de abril de 2020, o número de casos aumentou para um total de 116, dos quais 21 pessoas se recuperaram e três morreram. Para garantir que esses números não aumentem exponencialmente, o governo Federal tem adotado precauções mais assertivas para garantir que suficientes medidas preventivas sejam tomadas.
Embassy – Mesmo com a expansão o número de infectados pela Covid-19 na África é bem inferior aos países europeus. Como o senhor avalia esse contexto? Porque na África, a doença entra mais lentamente? Como os africanos estão enfrentando essa crise?
O mundo testemunhou a gravidade do surto do coronavírus na política e economia globais. Embora a África não tenha sido atingida com tanta força ou tão cedo pelo coronavírus, uma coisa que sabemos com certeza é que a pandemia da Covid-19 representa uma ameaça existencial para as economias dos países africanos, particularmente no sistema de saúde. Nesse contexto, os países africanos devem se concentrar em minimizar os impactos, mobilizando recursos de maneira coordenada e harmonizando o apoio de parceiros internacionais. De fato, os líderes africanos concordaram com a importância da liderança coletiva para contornar os efeitos adversos da crise e têm acompanhado o progresso da estratégia continental.
Particularmente, os centros parceiros africanos para o Controle e Prevenção de Doenças têm trabalhado em estreita colaboração com os estados membros da União Africana para fortalecer a resposta e a preparação do continente para a Covid-19. Estão sendo realizadas coordenação regional e construção de sinergias; avaliações socioeconômicas, de saúde, governança e impacto político; capacitação e compartilhamento de conhecimentos, bem como estratégias de comunicação de riscos e campanhas de sensibilização.
Um caso em questão, é a do Primeiro Ministro da Etiópia, S.E. o Dr. Abiy Ahmed, junto com Mr.Jack Ma, criador da fundação Jack Ma e da Fundação Alibaba, lançaram em conjunto uma iniciativa de assistência para apoiar os países africanos com produtos de diagnóstico e controle de prevenção de infecções, com o objetivo de apoiar a estratégia continental de combater a pandemia de coronavírus em andamento em todo o continente. A doação inclui 1,1 milhões de kits de teste, seis milhões de máscaras e 60 mil roupas de proteção que estão sendo entregues aos países africanos pela empresa aérea Ethiopian Airlines.
Embassy – Que medidas foram tomadas na Etiópia para conter a propagação da doença? Como está funcionando o sistema de saúde pública no país para atender às vítimas da Covid-19?
Falando sobre as medidas adotadas pelo Governo da Etiópia, o Comitê Ministerial decidiu interromper grandes reuniões públicas e manter o distanciamento social. Bem como o fechamento de escolas e instituições superiores, o fechamento temporário de boates e bares; o período de quarentena obrigatório é de 14 dias após a chegada a Adis Abeba; medidas de homeoffice foram implementadas para funcionários do governo federal com o objetivo de minimizar a aglomeração em transportes; isenção de impostos para os materiais e equipamentos de importação a serem utilizados na prevenção e contenção da Covid-19; bem como o fechamento de fronteiras, com exceção de bens essenciais recebidos no país. Como parte da campanha nacional para evitar a propagação da Covid-19, a Presidente da Etiópia, Sahle-work Zewde concedeu indulto presidencial a alguns prisioneiros condenados por crimes menores que cumprem pena de até 3 anos.
Além disso, a Ethiopian Airlines suspendeu temporariamente os voos de passageiros para 80 destinos internacionais, enquanto ainda opera para alguns destinos internacionais como o Brasil e destinos locais de uma maneira que não arrisque a exposição de seus passageiros e funcionários à infecção por Covid-19. A Ethiopian Airlines está focando mais agora em operar voos de carga para diferentes destinos.
O Ministério da Saúde identificou diferentes instalações e centros de tratamento para quarentena, isolamento e tratamento com diferentes níveis de equipamento. Principalmente, identificação de casos, rastreamento de contatos, isolamento e quarentena são as ações que estão sendo tomadas para conter a disseminação da doença, além das medidas preventivas.
Embassy – No Brasil, está sendo permitido que estudantes de medicina recebam o diploma antes de se formarem e comecem logo a atuar. Na Etiópia isso pode acontecer também?
Considerando a gravidade da crise de saúde da Covid-19 com impactos sociais, políticos e econômicos globais, o governo federal da Etiópia vem adotando várias medidas nas últimas semanas para se preparar e responder apropriadamente. Nesse sentido, convidou todos os profissionais médicos aposentados e em treinamento, a se prepararem para o dever nacional, se a situação justificar tal apoio extra.
Embasssy – De que forma a embaixada está realizando o atendimento consular e o apoio aos etíopes residentes no Brasil?
Devido à pandemia global, a embaixada fez pequenos ajustes na prestação de serviços consulares. Com exceção dos viajantes em missões diplomáticas, missões especiais do governo e emergências médicas, espera-se que todos os pedidos de visto sejam direcionados ao portal de vistos eletrônicos do governo da Etiópia para o serviços on-line ou a opção de visto na chegada.
Durante esse período difícil, a embaixada se concentra em ajudar e acompanhar a situação da diáspora etíope na região da América Latina. Para renovações urgentes de passaportes e solicitações de autenticação de documentos, os serviços estão sendo fornecidos por correio. Essas solicitações de serviço podem ser enviadas para o endereço da sede diplomática e mais detalhes podem ser verificados na página e no site da embaixada ou no Facebook. Todos os outros serviços consulares, incluindo identidade de origem etíope, procuração e serviços de registro de eventos vitais estão suspensos temporariamente.