Com dois terços da população global morando em países em desenvolvimento – excluindo a China – e enfrentando danos econômicos sem precedentes por conta da crise da COVID-19, as Nações Unidas estão pedindo um pacote de 2,5 trilhões de dólares para estas nações, de forma a transformar manifestações de solidariedade internacional em ação global efetiva.
As informações estão em relatório publicado nesta segunda-feira (30) pela UNCTAD, órgão da ONU para comércio e desenvolvimento.
As consequências da pandemia de saúde combinada com uma recessão global serão catastróficas para muitos países em desenvolvimento e impedirão o progresso rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Com dois terços da população global morando em países em desenvolvimento – excluindo a China – e enfrentando danos econômicos sem precedentes por conta da crise da COVID-19, as Nações Unidas estão pedindo um pacote de 2,5 trilhões de dólares para estas nações, como forma de transformar manifestações de solidariedade internacional em ação global efetiva.
A velocidade com que as ondas de choque econômico por conta da pandemia está atingindo países em desenvolvimento é dramática, mesmo em comparação com a crise financeira global de 2008, de acordo com relatório publicado nesta segunda-feira (30) pela UNCTAD, órgão da ONU para comércio e desenvolvimento.
“A queda econômica provocada pelo choque continua e está cada vez mais difícil de prever, mas há indicações claras de que as coisas vão piorar muito para os países em desenvolvimento antes de melhorar”, afirmou o secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), Mukhisa Kituyi.
Dano econômico – O relatório mostra que, nos dois meses desde que o vírus começou a se espalhar para além da China, países em desenvolvimento foram enormemente afetados em termos de fuga de capitais, aumento de juros dos títulos públicos, depreciação de moeda e perdas nos ganhos com exportações, incluindo queda dos preços de commodities e declínio com receitas do turismo.
Na maioria dos casos, o impacto é mais acentuado que em 2008. E com a atividade econômica doméstica agora sentindo os efeitos da crise, a UNCTAD não está otimista quanto a uma rápida recuperação como a vista em muitos países em desenvolvimento em 2009 e 2010.
Cálculos apontam que a fuga de capital das principais economias emergentes alcançou 59 bilhões de dólares em um mês, entre fevereiro e março. Isto é mais do que o dobro experimentado pelos mesmos países logo depois da crise financeira global (26,7 bilhões de dólares). Os valores das moedas destes países frente ao dólar caíram entre 5% e 25% desde o início do ano – mais rápido do que no início da crise financeira de 2008-2009.
Os preços das commodities, das quais muitos países em desenvolvimento dependem fortemente, também caíram acentuadamente desde o início da crise. O preço total dessas matérias-primas caiu 37% neste ano, de acordo com o relatório.Nos últimos dias, economias avançadas e a China colocaram juntos massivos pacotes governamentais que, de acordo com o Grupo das 20 maiores economias (G20), irá chegar a 5 trilhões de dólares.
Isto representa uma resposta sem precedentes para uma crise sem precedentes, que irá atenuar a extensão do choque física, econômica e psicologicamente.Os detalhes completos destes pacotes de estímulo ainda serão divulgados, mas estimativas iniciais da UNCTAD dão conta de que estes representarão uma injeção de 1 trilhão a 2 trilhões de dólares nas economias do G20 e uma reviravolta de 2 pontos percentuais na produção industrial global.
Ainda assim, a economia mundial entrará em recessão neste ano, com uma estimada perda global de renda na casa dos trilhões de dólares. Isto representa um sério problema para os países em desenvolvimento, com provável exceção da China e possivelmente da Índia.
Dada a condição global deteriorada, restrições fiscais e de divisas devem continuar ao longo do ano. A UNCTAD estima um déficit de financiamento de 2 trilhões a 3 trilhões de dólares para os países em desenvolvimento nos próximos dois anos.
Sem capacidade monetária, fiscal e administrativa para responder à crise, as consequências da combinação da pandemia de saúde com a recessão global será catastrófica para os países em desenvolvimento progredirem no sentido de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Enquanto as economias avançadas estão descobrindo desafios para lidar com a crescente força de trabalho informal, isto permanece uma norma para países em desenvolvimento, ampliando as dificuldades em responder à crise.
“Economias avançadas têm prometido ‘tudo o que for preciso’ para impedir que suas empresas e seus lares tenham grande perda de renda”, afirmou o diretor de globalização e estratégias de desenvolvimento da UNCTAD, Richard Kozul-Wright. E completou: “se os líderes do G20 mantiverem seu comprometimento com uma resposta global no espírito da solidariedade, deve haver ação compatível para 6 bilhões de pessoas vivendo fora das economias do G20.”
Em face ao eminente tsunami financeiro deste ano, a UNCTAD propõe uma estratégia quádrupla que poderia começar a traduzir as manifestações de solidariedade internacional em ações concretas.
Primeiro, uma injeção de liquidez de 1 trilhão de dólares; um tipo de injeção de recursos destinada àqueles deixados para trás, por meio da realocação de direitos de saque já existentes no Fundo Monetário Internacional (FMI), adicionando uma nova alocação de recursos que precisará ir muito além da realizada em 2009 para responder à crise financeira internacional.
Segundo, um jubileu (eliminação) de dívida para economias em dificuldades. Um congelamento imediato nos pagamentos de dívidas soberanas seria seguido de um significativo alívio. Uma referência seria o que aconteceu após a Segunda Guerra Mundial, quando metade da enorme dívida alemã foi cancelada. Com uma medida deste tipo, cerca de 1 trilhão de dólares de dívidas seriam cancelados este ano, sob a supervisão de um organismo independente a ser criado.
Terceiro, um Plano Marshal para recuperação da saúde financiado pela assistência ao desenvolvimento (ADO) prometida há muito tempo, mas nunca colocada em prática pelos parceiros desenvolvidos. A UNCTAD estima que 500 bilhões de dólares adicionais – um quarto do que faltou em assistência ao desenvolvimento na última década – , a maior parte na forma de subsídios, poderiam ser destinados a serviços de emergência em saúde e programas de ajuda social.
Finalmente, os controles de capital devem ter seu lugar legítimo em qualquer política para reduzir as saídas de capital, a falta de liquidez causada pelas vendas nos mercados financeiros dos países em desenvolvimento e para deter quedas nos preços de moedas e ativos.
O pacote proposto tem tamanho similar ao que deveria ter sido entregue aos países em desenvolvimento na última década se os países do Comitê de Assistência ao Desenvolvimento da Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE) tivessem atingido a meta de de 0,7% de assistência ao desenvolvimento, disse a UNCTAD.
O relatório completo (em inglês) está disponível aqui.
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