Carlos Barbieri
As últimas eleições nos Estados Unidos foram um dos exemplos mais explícitos de como podem ser ganhas as eleições, a partir de um muito bem elaborado plano de negócios.
A bem da verdade, o Brasil deu passos enormes na “privatização” do processo eleitoral ao colocar no comando das ações não-políticos e ideólogos, mas muito bem remunerados “marqueteiros” que faziam um candidato ao “sabor” do que o eleitorado desinformado desejaria consumir. Bom, deu no que deu.
Nas eleições americanas o exemplo fica mais claro e amplo.
O presidente eleito, tinha uma análise clara de suas limitações e necessidades.
Não tinha os infindáveis recursos financeiros da adversária;
Não tinha o apoio da mídia;
Não tinha, nem sequer, espaço na mídia;
Não tinha o apoio das minorias;
Não tinha apoio nem no seu partido;
Não tinha capacidade de contratar grandes e experientes personalidades dos processos políticos e mesmo se pudesse, não aceitariam;
Não tinha apoio “nos setores que geram o prestigio cultural”;
Não tinha apoio nos setores conservadores, nem liberais;
Está o candidato na base dos princípios da gestão: administração dos recursos escassos. Qual a equação custo-benefício que melhor chance lhe daria?
Definiu seu público-alvo:
Americanos trabalhadores, não muito letrados, religiosos e que tinham sofrido abalos em sua qualidade de vida. Classe média. Os salários perderam 8% de participação no PIB de 1970 a 2014;
Identificou entre os imigrantes ou não, aqueles que se sentiam órfãos do sonho americano.
Identificou as frustrações:
Os que não acreditavam nos políticos;
Os que não criam na imprensa;
Os que não se sentiam ouvidos;
Estabeleceu sua estratégia de Comunicação:
Como sabia que a mídia iria ignoáa-lo ou ataáa-lo, foi ao ataque. “Falem mal mas falem de mim”. Conseguiu que todos quisessem vê-lo e ouví-lo, era engraçado, desprezível, pitoresco. Mas sempre afirmava que a mídia não era confiável e, com isso, mandou seus seguidores para vê-lo na mídia social que ele criou.
Fez uma campanha barata:
Baseando-se inicialmente apenas em seus recursos e, depois, com o apoio de pequenos contribuintes conseguiu fazer uma campanha com metade de investimento por voto, do que sua adversária;
Tinha pouco mais de 80 pessoas em sua equipe, contando seus funcionários e familiares, contra mais de 700 de sua adversária.
Focou:
Nos estados “azuis” sem chance de mudança, não investiu mais que centavos.Nova Iorque e Califórnia de qualquer forma dariam o colégio à adversária. Não concorria para ser o mais votado e sim para ganhar no colégio eleitoral. Não importou ter dois milhões de votos a menos que a adversária.
Nos Estados indefinidos, colocou todo seu esforço, justamente buscando seu público-alvo.
Aproveitou as fraquezas da adversária:
Não perdeu tempo na Filadélfia, foi aos rincões menos desenvolvidos da Pensilvânia;
Não deu grande ênfase ao Sul da Florida, concentrou-se no Centro e no Norte;
Nas áreas do “já ganhou” da adversária, comeu pelas beiradas. Enquanto a adversária não dava atenção aos que entedia serem “votos certos” ele foi fazendo seu marketing de guerrilha.
Como pudemos ver o empreendedor Donald atuou na campanha com toda a lógica e programa de sua especialidade: Gestão.
- Definiu o público-alvo;
- Escolheu as mensagens que este público queria ouvir;
- Concentrou esforços onde podia aumentar o seumarketshare;
- Penetrou fundo nas áreas que seu (sua) competidor não quis ou negligenciou em manter ou ocupar;
- Se não podia ser o primeiro em tudo, fez uma promoção de ser o melhor em alguma coisa;
- Administrou seus recursos para ter fôlego nas áreas prioritárias de atuação;
- Conseguiu a cobertura da mídia sobre seu produto;
- Desviou seu público para a mídia social, que era mais barata e tinha como controlar;
- Degradou o produto do concorrente (o que é aceito e acontece na publicidade americana);
- Isolou-se dos competidores do seu público-alvo, tornando-se o único produto disponível;
Enfim provou que, também em eleição, precisa ter boa gestão.
(*) Carlo Barbieri é formado em Economia e em Direito, com cursos de extensão e especialização na Sorbonne, Harvard, MIT, FGV, Universidade de Brasília, entre outras, é CEO do Grupo Oxford (composto por empresas internacionais de consultoria e trading), Presidente do Brazil Club, membro do conselho da Deerfield Chamber of Commerce, Embaixador da Barry University no Brasil, membro do Conselho de Cidadãos, órgão de aconselhamento ao Consulado Geral do Brasil em Miami.