Uma maré humana se espalhou na sexta-feira (1º) nas ruas de Argel para exigir uma “nova independência”, 65 anos após o início da luta armada contra o colonizador francês.
Na 37ª sexta-feira consecutiva de manifestações na Argélia, a mobilização é semelhante à observada no auge do “Hirak”, o movimento de protesto contra o regime sem precedentes que a Argélia vem realizando desde 22 de fevereiro.
Nos últimos dias, as redes sociais foram dominadas por frases como “Vamos invadir a capital”, ou “Hirak 1º de novembro”, para convocar os argelinos a seguirem até a capital.
Esperava-se uma mobilização significativa desde a noite de quinta-feira, milhares de pessoas marcharam no centro da cidade e, de fato, foram centenas de milhares nesta sexta-feira à tarde em Argel.
Festa da Revolução
Os argelinos foram às ruas com suas famílias, havia muitas crianças e mulheres. A maioria dos manifestantes colocou uma bandeira em volta dos ombros e alguns até pegaram as bandeiras colocadas nas ruas pelas autoridades – como 1º de novembro é um feriado nacional, a “Festa da Revolução”, – para protestar.
Em 1º de novembro de 1954, a recém-criada Frente de Libertação Nacional (FLN) iniciou a “Revolução argelina” e a luta armada pela independência, com uma série de atentados simultâneos.
Na quinta-feira à noite, os manifestantes começaram a se reunir no centro de Argel, mas foram dispersados pela polícia, que fez várias detenções, de acordo com a imprensa.
Durante a madrugada, os acessos à capital registravam engarrafamentos consideráveis, atribuídos ao fluxo de manifestantes de diferentes províncias, mas também às muitas barreiras erguidas pela polícia.
“Muitos manifestantes chegam a Argel. Chegam por estrada, por ferrovias, pelo aeroporto de Argel e até a pé”, informava o site Interlignes.
Desmantelamento do sistema
Desde o início de abril, quando conseguiu a renúncia do presidente Abdelaziz Buteflika, o “Hirak” exige o desmantelamento do “sistema” que está no poder desde 1962.
O movimento rejeita as eleições presidenciais planejadas para 12 de dezembro para escolher um sucessor de Buteflika, alegando que o processo é uma tentativa de regenerar o “sistema”. As autoridades negam e tentam minimizar o alcance das manifestações.
Os manifestantes gritavam “independência”, exigiam a saída das autoridades, a partida do chefe de gabinete e cantavam que não iriam votar em dezembro.
Mensagens virulentas foram dirigidas ao presidente interino, Abdelkader Bensalah. Ele disse na semana passada, em audiência com o seu homônimo russo, Vladimir Putin, que apenas alguns elementos continuavam a se manifestar. Esta entrevista como um todo, mas também essa frase em particular, obviamente, não passou no crivo da opinião pública argelina.