A apuração voto a voto da eleição presidencial da Bolívia chegou ao fim nesta quinta-feira (24) e indica que o atual presidente, Evo Morales, foi reeleito no primeiro turno. Apesar disso, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a União Europeia pedem a organização do segundo turno.
Com 99,99% das urnas apuradas, o órgão responsável por computar os votos apontava o seguinte resultado:
Evo Morales: 47,07% dos votos
Carlos Mesa: 36,51%
Chi Hyun Chung: 8,78%
Os demais candidatos não atingiram 5%
Pelas normas eleitorais bolivianas, um candidato vence a eleição no primeiro turno caso atinja a maioria absoluta ou caso consiga mais de 40% dos votos e, ao mesmo tempo, obtenha vantagem mínima de 10 pontos percentuais ao segundo colocado – foi o que ocorreu nesta eleição.
Teria havido segundo turno se fossem considerados apenas os votos dos eleitores que estão na Bolívia – no país, Morales obteve 46,64% e Mesa, 36,83%. Porém, o eleitorado residente em outros países definiu a eleição: quase 60% dos bolivianos no estrangeiro deram vitória ao atual presidente.
No Brasil, por exemplo, Evo Morales conseguiu 70% dos votos da comunidade boliviana. Carlos Mesa ficou em terceiro, com 9,6% – atrás de Chi Hyun Chung, candidato conservador que obteve 16,8%.
Eleição polêmica
A eleição ocorreu no domingo (20). O processo teve uma polêmica, já que havia dois métodos de apuração: um deles, o preliminar, era mais rápido, enquanto o outro, voto a voto, transcorria mais lentamente.
Os resultados dessas duas formas de contar começaram a divergir já no domingo. Enquanto a preliminar indicava a reeleição do presidente Evo Morales, a voto a voto apontava a disputa de um segundo turno de Morales contra Carlos Mesa.
Na Bolívia, um candidato pode ser declarado vencedor no primeiro turno se tiver 50% dos votos mais um, ou se tiver 40%, com dez pontos de vantagem sobre o segundo colocado.
A oposição se manifestou – houve acusações de fraude e protestos nas ruas. A Organização dos Estados Americanos publicou um documento em que qualificava a mudança de tendência inexplicável. A divulgação da apuração preliminar foi suspensa e apenas a voto a voto continuou a ser divulgada.
Na segunda-feira, o ministro das Comunicações, Manuel Canelas, admitiu que o órgão eleitoral errou ao não deixar claro que havia duas contagens paralelas e explicou que a contagem preliminar tinha sido paralisada quando foi notado que havia uma confusão.
Na terça-feira, o vice-presidente do Tribunal Supremo Eleitoral, Antonio Costas, pediu demissão e afirmou que não tinha participado da decisão de interromper o serviço de apuração preliminar.
Ainda com um impasse nos resultados, os protestos cresceram, e Mesa convocou seus apoiadores a manterem uma mobilização constante até que se declare o segundo turno oficialmente.
Ao mesmo tempo, Evo dizia que venceu no primeiro turno e, nesta quinta, mesmo antes do encerramento da apuração, repetia ter ganhado “graças ao voto rural”. Na véspera, ele havia falado que a Bolívia “está em processo um golpe de estado”, em aparente referência aos protestos e à greve indefinida anunciados no país. Ele também afirmou que o país estava em estado de emergência e “em mobilização pacífica, constitucional e permanente”.