Filipe Barini – O Globo
RIO — Em meio a conversas sobre o retorno da Rússia ao G7, suspensa desde a anexação da península da Crimeia, em 2014, o governo ucraniano foi rápido ao repudiar a ideia, dizendo que ” nada mudou ” na região. Para o presidente Volodymyr Zelensky, “a Crimeia segue ocupada, assim como o leste da Ucrânia segue em guerra”. Moscou foi suspensa do grupo justamente por causa da anexação da Crimeia, vista como ilegal pela maior parte dos países.
Em uma conversa com O GLOBO, o embaixador ucraniano no Brasil, Rostyslav Tronenko , considera que as ações russas “abriram uma caixa de Pandora”, mas garantiu que a Ucrânia não vai desistir de recuperar a Crimeia. Desde 2012 no Brasil, ele afirma que o presidente russo, Vladimir Putin, “levou a si mesmo e o seu país a um beco sem saída”.
A Ucrânia possui um novo presidente, Volodymyr Zelensky, com posições um pouco diferentes das do presidente anterior, Petro Poroshenko, inclusive sobre a Rússia. O senhor vê uma possibilidade de mudança na abordagem em relação a Moscou?
O que não muda é o desejo da paz, essa guerra não é nossa, não fomos nós que começamos a ocupação e a agressão. O que eu vejo, diria, o que une os dois presidentes é o desejo da paz. Mas não a paz a qualquer preço, não a preço das concessões territoriais, não abrimos mão de nossa independência, integridade territorial. Isso é o que une os dois presidentes. O estilo pode ser diferente, mas importante é que esse mandato que o povo entregou há cinco anos para um e agora para outro, sempre o voto é pela paz, pela vida melhor, pelas condições de vida melhores. O que o nossos povos querem? Viver melhor, felizes, de forma digna. São esses os desejos dos povos.
O presidente Zelensky disse, em julho, que poderia se encontrar com o presidente russo Vladimir Putin. Mas depois dessa fala ocorreram vários incidentes de segurança entre os dois países. Você vê, mesmo neste cenário, uma possibilidade de diálogo?
O presidente russo nem o cumprimentou como é de praxe entre países, é lamentável porque a propaganda russa sempre criticou o presidente Poroshenko por ser o presidente do partido da guerra, por ser nacionalista demais. E agora, quando venceu um novo presidente, que é de origem judaica, que antes de assumir cargo falava mais russo que ucraniano, eo que o presidente do país vizinho fala? Ele não tem o que falar. O melhor que ele poderia fazer seria mostrar a vontade de paz. O problema é que ele não quer a paz, o presidente Putin está disposto a matar quantos ucranianos ele achar necessário para devolver a influência, para colocar a Ucrânia de volta na zona de influência russa. Isso é inaceitável para qualquer ucraniano.
A Rússia fez investimentos bilionários na Crimeia desde 2014. Como o senhor vê essa iniciativa para “fincar posição” na península?
Pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial um país com cadeira permanente do Conselho de Segurança da ONU, uma potência nuclear, tentou mudar as fronteiras na Europa, ocupando o território de um país independente, violando o direito internacional e todos os acordos existentes. Acho que o líder russo levou a si mesmo e o seu país a um beco sem saída. Nós consideramos esse território, a República Autônoma da Crimeia e a cidade de Sevastopol, como territórios temporariamente ocupados, assim como no leste da Ucrânia. Registramos, após a ocupação, violações dos direitos internacionais e das minorias na Crimeia, levamos esses casos para órgãos internacionais. Nessa situação, a Rússia só sai perdendo, ela sofre sanções dos países do G-7 e da União Europeia, impostas logo depois da ocupação. Foi por isso que a Rússia foi excluída do clube dos grandes países desenvolvidos.
O presidente Zelensky disse, em julho, que poderia se encontrar com o presidente russo Vladimir Putin. Mas depois dessa fala ocorreram vários incidentes de segurança entre os dois países. Você vê, mesmo neste cenário, uma possibilidade de diálogo?
O presidente russo nem o cumprimentou como é de praxe entre países, é lamentável porque a propaganda russa sempre criticou o presidente Poroshenko por ser o presidente do partido da guerra, por ser nacionalista demais. E agora, quando venceu um novo presidente, que é de origem judaica, que antes de assumir cargo falava mais russo que ucraniano, eo que o presidente do país vizinho fala? Ele não tem o que falar. O melhor que ele poderia fazer seria mostrar a vontade de paz. O problema é que ele não quer a paz, o presidente Putin está disposto a matar quantos ucranianos ele achar necessário para devolver a influência, para colocar a Ucrânia de volta na zona de influência russa. Isso é inaceitável para qualquer ucraniano.
A Rússia fez investimentos bilionários na Crimeia desde 2014. Como o senhor vê essa iniciativa para “fincar posição” na península?
Pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial um país com cadeira permanente do Conselho de Segurança da ONU, uma potência nuclear, tentou mudar as fronteiras na Europa, ocupando o território de um país independente, violando o direito internacional e todos os acordos existentes. Acho que o líder russo levou a si mesmo e o seu país a um beco sem saída. Nós consideramos esse território, a República Autônoma da Crimeia e a cidade de Sevastopol, como territórios temporariamente ocupados, assim como no leste da Ucrânia. Registramos, após a ocupação, violações dos direitos internacionais e das minorias na Crimeia, levamos esses casos para órgãos internacionais. Nessa situação, a Rússia só sai perdendo, ela sofre sanções dos países do G-7 e da União Europeia, impostas logo depois da ocupação. Foi por isso que a Rússia foi excluída do clube dos grandes países desenvolvidos.
Como o senhor vê a Ucrânia hoje?
Vejo com esperança e otimismo, porque apesar de todas as dificuldades, assim como há muitos séculos a Ucrânia prevalece. O melhor que qualquer país tem, sua maior riqueza, é o seu povo. Temos um povo corajoso, talentoso, sofrido, sempre tentamos achar a saída de qualquer situação e prevalecer, nunca desistir. Essa é uma marca registrada do nosso povo. Assim como foi em 2014, quando também o Ocidente, a Europa, acharam que os ucranianos não iam reagir, pensaram que a Ucrânia não ia reagir, não ia sobreviver. Mas sobreviveram. Como dizem no Brasil, o que não nos mata nos fortalece. Somos bem parecidos com os brasileiros nesse aspecto.
O Brasil possui uma grande comunidade ucraniana, qual a opinião deles sobre os últimos anos no país?
Eles estão observando com preocupação a situação, muitos possuem familiares na Ucrânia, graças à tecnologia esse contato é direto, diário, para eles foram momentos difíceis, especialmente depois da ocupação russa da Crimeia e do conflito no leste da Ucrânia, foram momentos de muita apreensão, tristeza, mas são muito solidários.
O senhor está desde 2012 à frente da embaixada, com uma passagem anterior, nos anos 1990, inclusive casado com uma brasileira. Como o senhor avalia esse período no país, ainda mais com tantas mudanças tanto aqui como na Ucrânia?
Fui nomeado em 2012 depois da visita de nosso então presidente (Viktor Yanukovich) ao Brasil. Claro que o tempo é prolongado, mas, como dizem por aqui, “o Brasil não é para principiantes”. Não me acho especialista em Brasil, mas é um país tão complexo, tão grande, que esse tempo me ajuda, me serviu para entender melhor. Esse tempo me serviu para aprender, entender melhor o país. Somos muito parecidos, Brasil e Ucrânia são países multiétnicos, religiosos. Acho que tentei aproveitar bem esse tempo.