Pesquisadores da Universidade de Tel Aviv (TAU) desenvolveram uma nova nano-vacina para o melanoma, o tipo mais agressivo de câncer de pele. A abordagem inovadora dos pesquisadores provou ser eficaz até agora na prevenção do desenvolvimento de melanoma em modelos de ratos e no tratamento de tumores primários e metástases que resultam do melanoma.
O foco da pesquisa é uma nanopartícula que serve de base para a nova vacina. O estudo foi liderado pela profª. Ronit Satchi-Fainaro, chefe do Departamento de Fisiologia e Farmacologia e do Laboratório de Pesquisa do Câncer e Nanomedicina na Faculdade de Medicina Sackler da TAU; e pela profª. Helena Florindo, da Universidade de Lisboa, durante seu ano sabático no Laboratório de Satchi-Fainaro, na TAU. A pesquisa foi conduzido pela Drª Anna Scomparin, do Laboratório de Satchi-Fainaro e por seu colega de pós-doutorado Dr. João Conniot.
Os resultados foram publicados em 5 de agosto de 2019 na revista Nature Nanotechnology
O melanoma se desenvolve nas células da pele que produzem melanina ou pigmento de pele. “A guerra contra o câncer em geral e o melanoma em particular avançou ao longo dos anos através de várias modalidades de tratamento como cirurgia, quimioterapia, radioterapia e imunoterapia. Mas a abordagem vacinal que se mostrou tão eficaz contra várias doenças virais ainda não se materializou contra o câncer”, diz a profª. Satchi-Fainaro. “Em nosso estudo, mostramos que é possível produzir uma nano-vacina eficaz contra o melanoma e sensibilizar o sistema imunológico para imunoterapias”.
Os pesquisadores utilizaram partículas minúsculas, com cerca de 170 nanômetros de tamanho, feitas de um polímero biodegradável. Dentro de cada partícula, eles “colocaram” dois peptídeos – cadeias curtas de aminoácidos, que são expressos em células de melanoma. Eles então injetaram as nanopartículas (ou “nano-vacinas”) em um modelo experimental de camundongo portador de melanoma.
“As nanopartículas agiram como vacinas conhecidas para doenças transmitidas por vírus”, explica a profª. Satchi-Fainaro. “Eles estimularam o sistema imunológico dos camundongos e as células do sistema imunológico aprenderam a identificar e atacar células contendo os dois peptídeos – ou seja, as células do melanoma. Isso significa que, a partir de agora, o sistema imunológico dos camundongos imunizados atacará as células do melanoma se e quando elas aparecerem no corpo”.
Os pesquisadores, então, examinaram a eficácia da vacina sob três condições diferentes.
Primeiro, a vacina provou ter efeitos profiláticos. A vacina foi injectada em ratinhos saudáveis e seguiu-se uma injecção de células de melanoma. “O resultado foi que os ratos não ficaram doentes, o que significa que a vacina impediu a doença”, diz a profª. Satchi-Fainaro.
Em segundo lugar, a nanopartícula foi usada para tratar um tumor primário: uma combinação da vacina inovadora e tratamentos de imunoterapia foi testada em camundongos modelo de melanoma. O tratamento sinérgico atrasou significativamente a progressão da doença e prolongou grandemente a vida de todos os ratos tratados.
Finalmente, os pesquisadores validaram sua abordagem em tecidos retirados de pacientes com metástases cerebrais de melanoma. Isto sugeriu que a nano-vacina pode ser usada também para tratar metástases cerebrais. Modelos de camundongos com metástases cerebrais de melanoma em estágio tardio já haviam sido estabelecidos após a extração da lesão primária de melanoma, mimetizando o cenário clínico. A pesquisa em cirurgia guiada por imagem de melanoma primário usando sondas inteligentes foi publicada no ano passado pelo laboratório da profª. Satchi-Fainaro.
“Nossa pesquisa abre as portas para uma abordagem completamente nova – a abordagem da vacina – para o tratamento eficaz do melanoma, mesmo nos estágios mais avançados da doença”, conclui a profª. Satchi-Fainaro. “Acreditamos que nossa plataforma também pode ser adequada para outros tipos de câncer e que nosso trabalho é uma base sólida para o desenvolvimento de outras nano-vacinas contra o câncer”.
Este projecto foi financiado pelo EuroNanoMed-II, o Ministério da Saúde de Israel, a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) de Portugal, a Fundação de Ciência de Israel (ISF), o Conselho Europeu de Investigação (ERC), a Fundação Família Saban – Aliança de Estudos de Melanoma (MRA) e o Fundo de Pesquisa de Câncer de Israel (ICRF).