O ex-primeiro-ministro chinês Li Peng, repudiado por ativistas de direitos humanos e por muitos na capital da China por ser visto como o “Carniceiro de Pequim” devido ao seu papel no massacre da Praça da Paz Celestial em 1989, faleceu, anunciou a mídia estatal nesta terça-feira (23).
Li, que tinha 90 anos, morreu na noite de segunda-feira em Pequim, disse a agência de notícias Xinhua, mais de três décadas depois de seu governo autorizar a repressão sangrenta dos protestos pró-democracia liderados por estudantes nas primeiras horas do dia 4 de junho de 1989.
A Xinhua disse que Li morreu após o tratamento mal-sucedido de uma doença, que não especificou.
Sua morte ocorre no momento em que a China lida com uma crise política crescente em Hong Kong, território de controle chinês onde protestos violentos contra um projeto de lei de extradição representam o desafio popular mais sério ao governo de Pequim desde as manifestações na Praça da Paz Celestial.
Assim como o então líder supremo Deng Xiaoping, Li era visto como um linha-dura assumido responsável por ordenar o ataque que acabou com semanas de passeatas de manifestantes no centro de Pequim.
Sua declaração de lei marcial em partes de Pequim em rede nacional de TV nas semanas que antecederam a entrada de tanques e soldados na praça para expulsar os manifestantes o tornou um dos rostos mais destacados de um massacre que continua a influenciar a percepção global da liderança do Partido Comunista da China.
O saldo de mortes comunicado pelas autoridades dias depois da repressão foi de cerca de 300, a maioria soldados, e a morte de somente 23 estudantes foi confirmada. A China jamais forneceu uma cifra precisa, mas grupos de direitos humanos e testemunhas estimam milhares de mortos. O tema é um tabu no país.
Nesta terça-feira, a Xinhua disse que, “com o apoio firme” de Deng Xiaoping, “o camarada Li Peng assumiu uma postura clara, e junto com a maioria dos camaradas do Bureau Político do Comitê Central, adotou medidas decisivas para deter os tumultos e pacificar as revoltas contrarrevolucionárias”.
Li continuou como premiê até 1998, enquanto a China enfrentava a condenação internacional e as sanções impostas por países ocidentais após os episódios de violência.
Mas ele preservou o apoio de muitos dos milhões de trabalhadores de estatais por adotar uma abordagem cautelosa nas reformas econômicas que causaram a perda de empregos e o desmonte da “tigela de arroz de ferro” – as garantias desfrutadas em empregos públicos – promovida por seu vice, Zhu Rongji, que se tornou seu sucessor.
Na terça-feira, a Xinhua chamou Li de “experiente e leal soldado do comunismo, destacado revolucionário e estadista e notável líder do partido e do país”.