O relator especial da ONU sobre pobreza extrema e direitos humanos, Philip Alston, criticou em relatório divulgado na terça-feira (25) os esforços globais para conter as mudanças climáticas e o impacto delas na parcela mais pobre da população.
No relatório, Alston citou diretamente o presidente Jair Bolsonaro como um exemplo em trecho do documento dedicado a analisar casos de “fracasso de liderança governamental” e incluiu o Brasil entre os países que dão “passos na direção errada”.
“Muitos países estão dando passos de pouca visão na direção errada. No Brasil, o presidente Bolsonaro prometeu abrir a Floresta Amazônica para a mineração, acabar com a demarcação de terras indígenas e enfraquecer as agências e proteções ambientais”, afirma Alston.
O G1 entrou em contato com a assessoria da Presidência sobre as declarações do relator.
O relator também criticou a China por exportar usinas movidas a carvão para o exterior e deixar de implementar suas regulamentações para as emissões de metano. Ele criticou ainda o presidente dos EUA, Donald Trump, por estar “ativamente silenciando e ofuscando a ciência climática”, entre outros pontos.
120 milhões na extrema pobreza
De acordo com o relatório, o aquecimento global pode reverter os avanços conquistados nos últimos 50 anos em relação ao desenvolvimento, à saúde e à redução da pobreza. Além disso, a estimativa é que 120 milhões passem a viver em condições de extrema pobreza até 2030 e os mais prejudicados estarão nos países mais pobres.
“Perversamente, enquanto as pessoas na pobreza são responsáveis por apenas uma fração das emissões globais, elas suportarão o impacto da mudança climática e terão a menor capacidade de se proteger”, disse Alston. “Nós corremos o risco de um cenário de ‘apartheid climático’ no qual os ricos pagam para escapar do superaquecimento, da fome e do conflito, enquanto o resto do mundo é deixado a sofrer.”
Alston afirmou que os países estão falhando em cumprir até mesmo seus atuais compromissos inadequados para reduzir as emissões de carbono e oferecer financiamento climático, enquanto continuam a subsidiar a indústria de combustível fóssil.
O especialista da ONU criticou inciativas que apostam com excesso de confiança na iniciativa privada como fornecedora de soluções. “Se a mudança climática for usada para justificar políticas favoráveis aos negócios e privatização generalizada, a exploração de recursos naturais e o aquecimento global podem ser acelerados em vez de evitados”, afirma Alston.
“Não há escassez de alarmes soando sobre a mudança climática, e um aumento nos eventos climáticos extremos de nível bíblico parece estar finalmente perfurando o barulho, a desinformação e a complacência, mas esses sinais positivos não são motivo para contentamento”, escreve o relator especial.