Projetos com crianças e jovens de áreas de risco social do DF fazem apresentações com a Orquestra Sinfônica de Brasília em despedida da embaixadora da Áustria
| Oda Paula Fernandes
Fotos: Rafael Luz
O encerramento das atividades diplomáticas da embaixadora da Áustria no Brasil, Marianne Feldmann, aconteceu em grande estilo, em duas noites. A primeira, na terça-feira (04/10) foi na Universidade de Brasília (UnB) com a apresentação da Orquestra Sinfônica de Brasília (OSB) e crianças em situação de risco social que fazem parte de projetos não governamentais que ensinam música clássica. A segunda noite, na quarta-feira, (05/10), também com apresentação de músicas com os jovens músicos e as integrantes da Orquestra aconteceu na embaixada da Áustria, seguida de jantar.
Ao lado do marido e regente, Alejandro Orellana, Marianne abriu a primeira noite no auditório da Casa do Professor na UnB onde falou do projeto de música El Sistema, da Venezuela que une músicos experientes de orquestras sinfônicas, com jovens estudantes de música clássica e fazem apresentações públicas. A de Brasília, sob a regência de Orellana. “Na Venezuela se inventou esse movimento de orquestra juvenis que tem hoje no mundo inteiro, o ‘El Sistema’”, explica a embaixadora.
Na Áustria temos o El Sistema Europa inspirado no modelo venezuelano. Para o Brasil, a embaixada trouxe cinco músicos que se apresentaram com a orquestra e ensinaram música clássica à 45 crianças e adolescentes, com apoio de sete professores brasileiros, na embaixada da Áustria durante quatro dias. “Nós trabalhávamos só no último canto, para mais ou menos manter a atividade consular”, lembra Marianne ao se referir à experiência de abrir as portas e receber os grupos de projetos sociais do DF.
Com a lotação esgotada na UnB a Orquestra Sinfônica de Brasília tocou, entre outros, Johan Strauss, sob os olhos atentos e ouvidos aguçados dos 45 alunos brasileiros, ávidos por toda experiência extraordinária da noite. A apresentação do quarteto austríaco Auner Quartett (Daniel Auner, Barbara Galante, Natalia Binkouska e Konstantin Zelenin) brindou a noite ainda com participações especiais de Rubi Berger no jazz violino, Fabiano da Silva Chagas (no violão, Universidade Federal de Goiás) e Airan D’Sousa (regência e cravo elétrico). Sintonia que rendeu aplausos emocionados da platéia.
Mas o auge, para a garotada, foi na embaixada, quando subiram para compor a orquestra, a grande atração da segunda noite de despedida de Marianne Feldmann do Brasil. As jovens Elcielma dos Santos Nascimento, é soprano lírico, e Lília Kezia Lion, mezzo soprano foram alunas do Instituto Reciclando Sons, na Cidade Estrutural. Elas contam que há 13 e 14 anos, respectivamente, ingressaram no projeto, onde passaram por todas as etapas do projeto que foi um divisor em suas vidas. “O projeto tem três etapas: cultural, educacional e a profissionalizante”, conta Lília. “Eu tive ainda o apadrinhamento dentro do Instituto para minha formação universitária e hoje trabalho na administração do Instituto. O Reciclando Sons é tudo que sou hoje”, revela Elcielma.
Emocionadas após apresentação em dueto das músicas Tamba-tajá, de Waldemar Henrique (1905 – 1995) e Mourão, de Cesar Guerra Peixe (1944 – 1993) sob a regência e floreio de Rejane Pacheco, elas sonham com o ingresso na ordem de músicos, para fechar o ciclo de aprendizado no Instituto e poder ensinar aos novos integrantes que virão compor essa história de doação, superação, persistência e realizações com a música.
Para a embaixadora, a história das relações entre os projetos sociais (Reciclando Sons, Música e cidadania, Música no Ensino Integral do Gama que receberam aula na embaixada e conheceram o trabalho pedagógico da UnB) e a embaixada da Áustria veio para abrir horizontes. “Na verdade tudo começou na Estrutural com o projeto do Instituto Reciclando Sons, que foi levado ao concerto que demos em maio para a Abrace, que já apóia esse grupo. Foi tudo muito rápido, fui conhecer o Instituto lá na Estrutural e então veio o convite para esta apresentação impecável. Outros momentos como este podem acontecer”, revela a embaixadora.
Musica social – Idealizadora do Instituto Reciclando Sons, a professora de música Rejane Pacheco, revela a satisfação de ver este trabalho reconhecido e diz que este é o momento pelo qual sempre trabalhou ao longo de quase duas décadas, abrigando e ensinando música clássica à crianças da Cidade Estrutural. Mas, segundo ela, o mais importante é fazer com que esses grupos que atuam de forma isolada possam se juntar e somar força na busca de resultados duradouros. “As apresentações de hoje simbolizam um marco de como as atuações articuladas podem fortalecer os projetos sociais. Em Brasília é um lugar muito difícil de criar pontes de ações porque as pessoas são muito individuais e a embaixadora mostrou, com a inteligência e diplomacia dela que se a gente unir forças ninguém perde, todo mundo ganha”, comenta Rejane Pacheco.
O evento contou com a participação de empresas estrangeiras e nacionais que investem na formação da cidadania por meio da cultura. “Temos uma filosofia de gestão que é a de atrair, desenvolver, desafiar, reconhecer, recompensar, comemorar e retribuir com a comunidade aquilo que ela nos prestigia. Com todos esses nossos valores nós acreditamos que podemos contribuir e retribuir através de projetos sociais, propiciando momentos como estes apresentados nesta noite”, enfatiza Janete Vaz, co-fundadora dos laboratório Sabin, que comemora pela sexta vez consecutiva o prêmio de melhor laboratório do Brasil, reconhecido pela Exame.