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Segundo o Fundo Monetário Internacional, em 2016, os produtos internos brutos de Venezuela, Brasil e Argentina cairão 6%; 3,5% e 0,7%. Mesmo sendo “apenas” números isolados, que precisam ser muito bem contextualizados, essas variações negativas dizem muito sobre a situação política nesses países.
Entre o fim da década de 90 e o início dos anos 2000, as três nações se tornavam o centro da esquerda latino-americana. Hugo Chávez, na Venezuela, Lula, no Brasil, e Nestor Kirchner, na Argentina, formavam uma espécie de tríade que anunciava melhor distribuição de renda, maior assistência do estado aos necessitados e crescimento econômico sustentável.
Mas nada como a história para nos trazer respostas. Qualquer um, depois de uma simples busca no Google, pode perceber que os resultados apresentados não foram os mesmos que os anunciados. No Brasil, em oito anos de mandato, Lula criou a nova classe média, fomentou o consumo das famílias, incentivou os investimentos no pré-sal e melhorou os índices de qualidade de vida nas duas regiões mais carentes do país: Norte e Nordeste.
Na Venezuela, Hugo Chávez buscava implantar reformas para desenvolver o país e melhorar a qualidade de vida da população. As alterações ocorreram nas áreas político-jurídica (reforma constitucional que alterou, entre outras coisas, as regras do mandato presidencial), econômica (a estatização de várias empresas recebeu críticas de muitos, mas se mostrou, a princípio, boa para a economia, com taxas de crescimento positivas), de saúde (com o fornecimento de petróleo em troca de médicos cubanos), de educação (com a busca pela erradicação do analfabetismo e com a ampliação do acesso ao ensino superior).
Na Argentina, Nestor Kirchner assumiu um país com péssimos índices econômicos. A crise de 2001, resultado de falhas no plano de desvalorização do peso argentino e das crises internacionais na Rússia e na Ásia, que também afetaram o Brasil, derrubaram a economia argentina e fizeram com que a primeira tarefa do presidente recém-eleito fosse negociar a dívida pública com credores de todo o mundo.
O fim dos ciclos desses líderes foi extremamente nocivo às economias dos três países. Considerados populistas, o que é algo questionável pela amplitude do termo, os três ex-presidentes tinham como ponto mais forte os altos índices de apoio popular, que os ajudava a dialogar com mais vigor com bancos e associações empresariais. Porém, seus sucessores, em nada parecem com seus padrinhos políticos, amargando críticas da sociedade e derrotas nas respectivas casas legislativas.
Dilma Rousseff foi eleita sob o slogan de mãe do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e sob a responsabilidade de promover dois eventos mundiais: a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas neste ano. Depois de um ciclo de alto preço das commodities, o Brasil vivia um cenário de real valorizado e exposição positiva internacional. Mas a nova matriz econômica proposta pela presidente, a redução gradual e notória do consumo das famílias, que foi a base da economia brasileira por muitos anos, também graças ao crédito farto barato, e a ausência de reformas estruturais em todas as áreas possíveis fizeram com que um governo que era amado se tornasse, frente à população, o inimigo do Brasil.
Nicolás Maduro seguiu caminho similar ao da presidente brasileira, mas com intensidade de queda livre. Depois da morte de Chávez, em 2013, Maduro foi o escolhido para dar prosseguimento ao projeto de socialismo do século XXI implantado pelo ex-líder da Venezuela. Maduro, em momento algum, se mostrou forte politicamente para resolver os conflitos sociais que ainda existem na Venezuela. Na economia, o recente aumento na gasolina retrata muito bem as dificuldades econômicas internas e externas enfrentadas pelo país. O baixo preço do petróleo e as bruscas implantações de projetos econômicos derrubaram a economia venezuelana, expondo ainda mais a falta de abastecimento de produtos básicos.
Cristina Kirchner, que pode ser considerada a mais caricata de todos os sucessores, usou fortemente do apoio de sua base para governar a Argentina e manter a economia funcionando. A duras penas, o setor produtivo argentino foi vagando durante a gestão da ex-presidente, tentando não sufocar. O passar do tempo fez com que a situação se deteriorasse muito, criando, inclusive, suspeitas sobre os dados apresentados pelo governo serem maquiados. Também merece destaque para o período as complicadas negociações com os “fundos abutres”.
Todas as situações apresentadas levam a população a questionar esses governos da América Latina – que não seguem as mesmas ideologias de esquerda existentes em outros países, sejam eles da Europa, da América do Norte, da ásia ou da África – e buscar uma alternativa, o que pode levar a uma guinada à direita. Maurício Macri, na Argentina, é um dos sinais dessa procura. A lenta retomada de força da oposição venezuelana – um exemplo é a maioria obtida na casa legislativa do país – é outro ponto de que novos ares (não sei se bons ou ruins) rondam o sul da América.
Por fim, no Brasil, os inúmeros protestos mostram que essa mudança está clara, mas não madura, pela falta de consciência política da população. Muitos dos manifestantes mostram, com a mesma intensidade, ojeriza ao pensamento de esquerda e desconhecimento da história e da economia brasileira. Ao mesmo tempo em que culpam o governo federal por problemas na segurança (competência estadual) e no transporte coletivo (competência mista entre os poderes municipal e estadual), pedem o retorno dos militares, pensando que a solução será rápida e indolor. As eleições em 2017 ainda são uma incógnita, mas a tendência de eleição de um governo de centro, ou centro-direita parece forte, por enquanto.
Brenno Grillo Luiz. Jornalista pós-graduando em Política e Relações Internacionais
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