Em votação formal na manhã desta quinta-feira (6), os 15 integrantes do Conselho de Segurança da ONU escolheram por aclamação o português António Guterres para o cargo de secretário-geral. A decisão precisa ser referendada em votação pelos 193 Estados-membros na Assembleia Geral da ONU.
António Guterres, de 67 anos, foi primeiro-ministro de Portugal entre 1995 e 2002. Nas Nações Unidas, atuou como alto-comissário para os refugiados, chefiando a agência da ONU especializada no tema, o ACNUR, entre junho de 2005 e dezembro de 2015.
Em seis consultas informais junto ao Conselho de Segurança da ONU, o nome de Guterres despontou como o favorito desde o início. Esta foi a primeira vez que o processo de escolha do secretário-geral foi totalmente aberto, com a realização de debates públicos e diálogos com a Assembleia Geral.
Em viagem à Itália, o atual secretário-geral, Ban Ki-moon, cumprimentou a indicação, que considerou “excelente”. Lembrando a experiência anterior de Guterres junto ao ACNUR, Ban disse que “o conhecimento internacional e a inteligência o ajudarão a conduzir as Nações Unidas num momento crucial” e garantiu que a transição será tranquila.
“Como o nono homem a servir como secretário-geral, Guterres terá a responsabilidade de incluir, apoiar e empoderar as meninas e mulheres do mundo. Há muito trabalho pela frente e me empenharei até o último dia do meu mandato trabalhando por elas”, afirmou Ban.
Nascido em Lisboa em 1949 e formado em engenharia pelo Instituto Superior Técnico, Guterres supervisionou uma profunda reforma estrutural no ACNUR durante o período em que chefiou agência, reduzindo sua equipe da sede em Genebra em 20% e aumentando a eficiência e capacidade de resposta da organização.
O volume de atividades do ACNUR triplicou durante seu mandato, após a introdução de uma abordagem orçamentária baseada em demandas. O aumento também ocorreu em meio a um cenário de forte alta do número de pessoas deslocadas por conflitos e perseguições, que passou de 38 milhões em 2005 para mais de 60 milhões em 2015, diante de conflitos na Síria e no Iraque, assim como no Sudão do Sul, na República Centro-Africana e no Iêmen, entre outros lugares.
Antes de atuar no ACNUR, Guterres passou mais de 20 anos no serviço público e governamental. Quando era primeiro-ministro de Portugal, envolveu-se nos esforços internacionais para solucionar a crise no Timor-Leste.
Como presidente do Conselho Europeu no início dos anos 2000, liderou a adoção da “Estratégia de Lisboa”, um plano de desenvolvimento estratégico para a União Europeia, e copresidiu a primeira cúpula da Europa com a União Africana.
Guterres também foi membro do Conselho de Estado português de 1991 a 2002, tendo sido eleito para o parlamento do país em 1976, onde serviu por 17 anos. Durante esse período, foi presidente do Comitê para Economia, Finanças e Planejamento e, mais tarde, do Comitê para Administração Territorial, Municipalidades e Meio Ambiente. De 1981 a 1983, foi membro da assembleia parlamentar do Conselho da Europa, período no qual foi eleito presidente do Comitê de Demografia, Migração e Refugiados.
Por muitos anos, Guterres atuou na Internacional Socialista, organização mundial de partidos socialdemocratas e socialistas. Ele foi vice-presidente da organização de 1992 a 1999, copresidindo o Comitê Africano e, mais tarde, o Comitê de Desenvolvimento.
Guterres foi presidente da Internacional Socialista de 1999 até meados de 2005. Além disso, fundou o Conselho de Refugiados português, assim como a associação de consumidores DECO, e serviu como presidente do Centro de Ação Social Universitário, uma associação de projetos de desenvolvimento em bairros pobres de Lisboa do início dos anos 1970.
Membro do Clube de Madri, uma aliança de ex-presidentes e ex-premiês do mundo todo, Guterres é fluente em português, inglês, francês e espanhol. É casado e tem dois filhos