Maria Elena Boschi deu palestras em Porto Alegre, São Paulo e Brasília defendendo as reformas propostas pelo parlamento da Itália e aproveitou para buscar parcerias comerciais
Fotos: Rafael Luz
A ministra das Reformas Constitucionais da Itália, Maria Elena Boschi, passou três dias no Brasil, de 28 a 30 de setembro, explicando o referendo constitucional que ocorrerá em seu país no dia 04 de dezembro. Em época de eleição no país, a ministra busca a participação dos 50 mil brasileiros com cidadania italiana. O voto não é obrigatório na Itália. A votação refere-se a uma reforma legislativa que, entre outras mudanças, prevê a redução do número de senadores em um terço, passando de 315 para cem integrantes. O referendo tem gerado debate na Itália e é visto por analistas como a chance de se tornar um estopim de uma nova crise dentro da União Européia (EU).
Em Porto Alegre, Maria Elena Boschi fez uma visita ao governador José Ivo Sartori no Palácio Piratini e deu palestra no Grêmio Náutico União para a colônia italiana no Rio Grande do Sul. Em Brasília, a ministra se reuniu com o ministro do Planejamento, Dyogo Henrique de Oliveira, e da Justiça, Alexandre de Moraes, acompanhada de uma delegação de empresários da nação europeia. “Falamos das novas medidas que o governo está promovendo para abrir mais o mercado brasileiro, novas privatizações que se imaginam para o país”, acrescentou.
Na capital, Maria Elena também falou para a comunidade ítalo-brasileira na Casa Di Itália. Acompanharam a ministra os deputados Fábio Porta, Renata Bueno, o embaixador da Itália no Brasil, Antônio Bernadini, o presidente do Comite Italiano em Brasília, Cláudio Zippilli e Pasquale Matafora, assessor do Departamento Consular da Embaixada da Itália.”Esse é um fato mais importante dos últimos 70 anos e deve ter a participação dos italianos no exterior porque trata-se do futuro do nosso país. Essa Itália que estamos construindo é do sim”, discursou o deputado Porta apoiando a aprovação das reformas no parlamento italiano.
Claúdio Zippilli, presidente do Comites Italiano de Brasília
Em São Paulo, Maria Elena Boschi fez palestra no Instituto Fernando Henrique Cardoso (FHC) com o tema “Mudar a Itália para mudar a Europa”, além de almoçar com empresários italianos e de se reunir com a comunidade italiana no Circolo. Essa é a primeira visita de um representante do executivo italiano desde 1958. Antes de vir ao Brasil, a ministra esteve na Argentina e no Uruguai.
Referendo – Daqui a dois meses, os mais de 50 milhões de italianos serão chamados às urnas para dizerem “sim” ou “não” ao projeto de Boschi que altera profundamente a política naquele país. É a primeira reforma constitucional italiana desde a criação da República, há 70 anos. Pela proposta, o Senado italiano também perderia poder de criar leis, tornando-se um órgão consultivo de apelo regional e sem salários para os parlamentares. A criação de leis fica restrita à Câmara dos Deputados.
Dentre as mudanças previstas na reforma está ainda a abolição das províncias, priorizando assim, as cidades e estados. “Boa política é aquela que mantêm as suas promessas, respondendo às necessidades das famílias e trabalhadores”, afirmou a Ministra. Segundo ela, a eleição não é um voto contra ou a favor de um Governo, mas uma redução dos custos na política. E finalizou: “Se os cidadãos votarem sim, como eu espero, vamos diminuir os parlamentares da Itália. Isso trará uma redução nos custos da política”, explicou.
Na opinião da ministra italiana, uma derrota no referendo sobre a reforma política aprovada pelo Parlamento bloquearia as transformações em curso para tornar o país mais apto a enfrentar os desafios que estão surgindo. Segundo Maria Elena, os políticos não podem ter medo de fracassar diante de referendos populares, numa referência ao que ocorreu no Reino Unido em junho, quando os britânicos votaram contra a proposta do então primeiro-ministro David Cameron e optaram pela saída da nação da União Europeia (UE), o chamado Brexit. A ministra lembrou que muitos eleitores britânicos admitiram que não conheciam a proposta muito bem, e que um dos desafios do governo italiano é mostrar ao povo o que considera serem vantagens da reforma.
Alterações na Constituição italiana vêm sendo discutidas desde os anos 1980. Após dois anos de debates e seis votações no Parlamento, o texto final foi aprovado em abril. Segundo Maria Elena, o governo da Itália poderia até promulgar as mudanças, mas optou por marcar o referendo para dar mais legitimidade ao processo. Com o apoio de maioria simples da Câmara e do Senado, o referendo seria facultativo — para a oposição aprová-lo precisaria da assinatura de 500 mil eleitores.
Privatizações – A ministra, Maria Elena Boschi, durante sua rápida visita ao Brasil, aproveitou ainda para reiterar o interesse de Roma em participar do processo de privatizações no Brasil. Em reuniões com empresários e ministros do governo brasileiro, ela abordou o plano de concessões e privatizações anunciado recentemente pelo presidente Michel Temer.
Boschi usou como exemplo o setor brasileiro de energias renováveis, onde a estatal italiana Enel Green Power já possui um papel de destaque. Ainda neste ano, Renzi deve enviar seu ministro do Desenvolvimento Econômico, Carlo Calenda, com um grupo de mais de 100 companhias para tentar ampliar os negócios entre os dois países.