O fenômeno, que se intensificou com o movimento dos coletes amarelos nos últimos três meses, atinge principalmente o norte e o sudeste da França
Por RFI
Segundo dados do Observatório Nacional de Delinquência e Respostas Penais (ONDRP), publicados nesta quinta-feira (14), 110 carros são queimados por dia na França. O fenômeno, que se intensificou com o movimento dos coletes amarelos nos últimos três meses, atinge principalmente o norte e o sudeste da França.
Em 2017, 41.200 carros foram incendiados e indenizados pelos seguros. As ocorrências representam uma alta de 2% em relação ao ano anterior. Os incêndios provocaram a destruição total de 77% dos carros. Os bombeiros tiveram que fazer em média 12,8 intervenções para cada 10 mil veículos. O fenômeno não é recente, mas vem crescendo a cada ano.
O ONDRP faz uma radiografia detalhada dos incidentes, revelando o dado de cada um dos departamentos franceses. Em alguns deles, a incidência de incêndios é duas vezes maior que a média nacional.
“Triste tradição”
“Triste tradição dos incêndios voluntários na França”, lamenta o documento. O autor do estudo, Hugo d’Arbois, lembra que frequentemente esse fenômeno é associado na França à violência urbana ou a comemorações festivas, como o 14 de julho, feriado nacional, ou o Réveillon.
É verdade que nesses períodos as ocorrências tendem a ser mais numerosas, mas o estudioso ressalta que esse tipo de delito ocorre durante todo o ano, na maioria das vezes à noite. As populações das periferias, principalmente jovens, utilizam esse recurso como forma de protesto.
Os dados podem ser ainda maiores. Como nem todo mundo declara o incêndio e a perda do veículo às seguradoras, o Observatório calcula que o número real de carros queimados por ano pode atingir 50 mil, representando um grande desafio cotidiano para a polícia. Desafio também para o poder público que não consegue atender as demandas da população e diminuir os protestos.
Movimento dos coletes amarelos
O movimento dos coletes amarelos, iniciado em novembro do ano passado, influencia o balanço de 2018, ainda não divulgado, e já pesa no saldo de 2019. A delinquência explodiu nos últimos três meses, afirma o documento. De novembro a janeiro, os incêndios voluntários de bens públicos, incluindo veículos, tiveram uma alta de 45,2%.
As cenas de carros, principalmente de polícia e de marcas luxo, pegando fogo se multiplicaram nas ruas das cidades francesas durante os protestos. Associações de prefeitos calculam que as destruições provocadas pelo movimento dos coletes amarelos somam prejuízos de € 20 a € 25 milhões, somente nas 20 maiores cidades francesas.