Por RFI
Os presidentes da Argentina, Mauricio Macri, e do Uruguai, Tabaré Vázquez, se reuniram nesta quarta-feira (13) na localidade uruguaia de Colônia do Sacramento. A Venezuela foi o ponto forte de um encontro repentino. Os dois líderes emitiram uma declaração comum após as discussões.
A sensibilidade do assunto levou os governos da Argentina e do Uruguai a emitir apenas uma breve nota na qual dizem ter “analisado a situação política e social na Venezuela”. Porém, a urgência da reunião, anunciada repentinamente, apenas 40 horas antes, dá uma dimensão do que os dois presidentes trataram a portas fechadas na residência presidencial de veraneio Aaron de Anchorena, em Colônia do Sacramento, na margem uruguaia do Rio da Prata.
“Os dois países chamam a encontrar uma solução democrática com eleições livres, credíveis e com controles internacionais confiáveis”, limitaram-se a anunciar os dois governos em nota. O encontro havia sido solicitado pelo líder argentino e o pedido foi atendido imediatamente pelo uruguaio.
Assim, o Uruguai confirma a sua mudança iniciada na semana passada, quando, pela primeira vez, passou a pedir eleições livres como saída para o impasse político venezuelano, abandonando sutilmente a sua “neutralidade” no assunto. Antes disso, o governo uruguaio anunciava-se como “neutro” e defendia que a saída para a crise na Venezuela viesse dos próprios venezuelanos.
De qualquer forma, o Uruguai continua a reconhecer Nicolás Maduro como presidente legítimo da Venezuela, em contraste com a maioria dos países da região, incluída a Argentina, que reconheceu Juan Guaidó como presidente interino e indicado para conduzir um processo eleitoral.
“Se formos falar sobre a ilegitimidade de Maduro, o que dizer então da de Guaidó. Achamos inadmissível que uma pessoa se autoproclame presidente da República”, sentenciou em declarações à imprensa o chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, quem não participou da reunião entre Macri e Vázquez.
A virada do Uruguai começou na semana passada. Na quarta-feira (6), junto ao México, Bolívia e os países da Comunidade do Caribe (CARICOM), anunciou que defende uma solução por meio do diálogo, mas sem condições. Porém, no dia seguinte, também em Montevidéu, admitiu condições ao subscrever a declaração do Grupo de Contato Internacional, que pediu “eleições livres, transparentes e credíveis”, além da entrada de ajuda humanitária na Venezuela. A Bolívia não assinou a declaração por discordar das “condições” e o México preferiu não assinar, alegando que a sua Constituição impede a interferência em assuntos de terceiros países.
“Uma coisa é não pedirmos eleições em determinado momento e outra coisa é quando a crise assume tal magnitude, e que há dois presidentes”, argumentou o chanceler Nin Novoa para justificar a mudança uruguaia, agora a favor de eleições antecipadas.
O chamado “Mecanismo de Montevidéu”, defendido no dia 6 por Uruguai, México, Bolívia e a CARICOM, estabelece quatro fases para uma saída dialogada na Venezuela, mas não exige a antecipação das eleições presidenciais: 1) Início do diálogo e fixação de condições; 2) Negociação; 3) Compromisso e assinatura de acordos; 4) Concretização dos acordos com acompanhamento internacional. Já a declaração do Grupo de Contato Internacional formado por oito nações europeias (Portugal, França, Reino Unido, Alemanha, Espanha, Holanda, Suécia e Itália) e quatro latino-americanas (Uruguai, Bolívia, Costa Rica e Equador) quer que a Venezuela antecipe eleições.
Para o ministro uruguaio das Relações Exteriores, Rodolfo Nin Novoa, Montevidéu conseguiu evitar que, na declaração final do Grupo de Contato Internacional, aparecessem algumas pretensões europeias, como o prazo de 90 para a realização de eleições, além de condições prévias ao pleito, como a libertação dos presos políticos, uma composição equilibrada do Conselho Nacional Eleitoral, a eliminação de todos os obstáculos para a participação livre de todos os partidos e o estabelecimento de novos cadastros eleitorais que permitam o voto de venezuelanos fora do país.
Mauricio Macri, na Presidência rotativa do Mercosul, grupo formado ainda por Brasil, Uruguai e Paraguai, quer resolver o contraste que significa o Uruguai defender Nicolás Maduro enquanto o bloco mantém a Venezuela suspensa desde 2017 por “ruptura da ordem democrática”. Para Buenos Aires, a alegada “neutralidade” uruguaia, agora em pleno giro, significa uma conivência com o que Macri chama de “ditadura” de Nicolás Maduro.