Rivais no futebol, nomes de ex-jogadores brasileiros e argentinos foram exibidos em plaquinhas sobre as mesas
Ian Ferraz
Paixão e rivalidade entre brasileiros e argentinos, o futebol foi assunto para conversa e esteve presente nas mesas do Palácio do Itamaraty, onde os presidentes Jair Bolsonaro (PSL) e Mauricio Macri, da Argentina, almoçaram nesta quinta-feira (16/1). Nas redes sociais, o político do país vizinho registrou plaquinhas com nomes de craques dos dois países, como Pelé, Garrincha, Zico, Maradona, Di Stéfano, Ardiles, entre outros.
Esta é a primeira visita do argentino a Bolsonaro. Pela manhã, o militar da reserva recebeu Macri em cerimônia no Palácio do Planalto
Na mesa de Bolsonaro também sentaram Mauricio Macri; o vice-presidente Hamilton Mourão; o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo; e os ex-presidentes do Brasil, Fernando Collor e José Sarney. O almoço de cortesia foi oferecido pelo Itamaraty a autoridades, incluindo a comissão da Argentina que veio ao Brasil junto com o presidente Macri.
Destacado em um dos Stories de Mauricio Macri no Instagram, Maradona é crítico ao governo do atual presidente. O ex-craque, que atualmente comanda o time Los Dorados de Sinaloa, do México, foi cogitado como vice na chapa de Cristina Kirchner para as eleições de outubro de 2019. Sobre Macri, Maradona o acusou de colocar “seus amigos” no poder e de estarem “roubando” o país.
Acordo
Em pronunciamento conjunto, os dois governantes reafirmaram a importância de se manter os acordos firmados pelo Mercosul, inclusive com a União Europeia, para garantir a saúde do comércio entre os dois países e do bloco com as demais nações. Os dois também reforçaram a posição contrária ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro, a quem Macri chamou de “ditador”.
O presidente brasileiro disse que os dois países irão fortalecer a agenda de trabalho do Mercosul. “Falamos com franqueza, sem qualquer viés ideológico. Não há tabus na relação bilateral entre Brasil e Argentina e o que nos move é a busca de resultados concretos. Macri nos visita na condição de chefe do Mercosul. Concordamos em aperfeiçoar o bloco e propor nova agenda de trabalho. O Mercosul precisa valorizar o propósito de construir um bloco enxuto e eficaz”, afirmou o brasileiro.
Bolsonaro disse que Brasil e Argentina pretendem “revigorar o intercâmbio entre os bens de consumo”. O brasileiro fez um discurso no qual reforçou que as duas nações concordam em assuntos estratégicos. “As conversas foram extremamente produtivas, tratamos do combate ao crime organizado, defesa, ciência e tecnologia, dinamização do comércio e reformas econômicas que os países podem realizar”, reforçou.
A preocupação, por parte dos argentinos, com o tratamento a ser dado ao Mercosul existe desde a campanha, quando declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, apontavam para a não valorização dos acordos do bloco.
Macri, após a conversa com Bolsonaro, elogiou o “clima” encontrado no Brasil em relação a essa questão. “O clima foi de alegria. Teremos muitas coisas na integração das economias. Somos o segundo destino do Brasil de produtos manufaturados comerciais. Vamos cooperar com tecnologia e lutar contra a corrupção”, disse o argentino.
Mauricio Macri disse que Brasil e Argentina precisam reforçar os laços sempre focados na “criação de empregos e oportunidades”.
Maduro
Os dois presidentes reafirmaram a postura de discordar com o governo de Nicolás Maduro, na Venezuela. Macri foi mais enfático. “Compartilhamos a preocupação com os venezuelanos, com a ditadura de Maduro. Maduro é um ditador e luta para continuar no poder com eleições fictícias, prende opositores e não permite o exercício da democracia”, disse Macri.
Da mesma forma que o Brasil, o governo argentino reconhece a autoridade do presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Juan Guaidó, oposição a Maduro que se autodeclarou chefe do país. “Reconhecemos a Assembleia Nacional como a única instituição legítima venezuelana”, disse o argentino.
Bolsonaro reforçou a mesma posição: “Nesse encontro estamos comprovando a convergência de posições e identidade de valores. Nossa cooperação em relação à Venezuela é um exemplo. As nossas conversas reforçam que seguiremos no rumo certo na democracia e segurança”.
Primeira visita
A visita do presidente argentino é a primeira de um chefe de Estado ao governante brasileiro. Macri veio a Brasília acompanhado de seus principais ministros para tratar de acordos comerciais, Mercosul e da situação da Venezuela, país que, no momento, está suspenso do bloco latino-americano.
Macri subiu a rampa do Palácio do Planalto às 10h38 e foi recebido por Bolsonaro com um abraço. Os dois ouviram os hinos de ambos os países e posaram para a foto oficial. O argentino foi cumprimentado pelos ministros brasileiros Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Sérgio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia).
Os dois presidentes se reuniram sozinhos e, em seguida, com a participação dos ministros. O argentino estava acompanhado de Nicolás Dujovne (Economia), Dante Sica (Produção), Jorge Faurie (Relações Exteriores), Oscar Aguad (Defesa), Patricia Bullrich (Segurança), Germán Gravano (Justiça e Direitos Humanos), além de Fulvio Pompeo (secretário de Assuntos Estratégicos).
Mercosul e Venezuela
O bloco econômico latino-americano é formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A participação da Venezuela foi suspensa em 2016, essencialmente por razões políticas e econômicas. O país é comandado pelo presidente Nicolás Maduro, que recentemente tomou posse e ficará no cargo até 2025, seu regime é desaprovado por Bolsonaro e por Macri.
A Venezuela já foi considerada um dos países mais ricos do bloco econômico, quando dominava o mercado de petróleo, no entanto, atualmente passa por uma intensa crise social. Há uma onda de migração que leva milhares de venezuelanos a fugirem do país, que sofre com falta de alimentos e outros insumos básicos.
Para completar a instabilidade no país, o congresso classificou o governo de Maduro como “usurpador da presidência”, considerando sua gestão ilegal e ilegítima. O retorno da Venezuela ao Mercosul ficou condicionado à apresentação de condições para restabelecer o exercício dos direitos e deveres dentro do bloco.
Os dois líderes devem discutir também medidas para avançar nas negociações do bloco que já estavam em curso até o fim de 2018, como é o caso com a União Europeia, além de propor uma agenda interna que inclua a simplificação da estrutura tarifária, a convergência regulatória e a diminuição de barreiras internas entre países membros.