País será o maior do bloco governado por populistas
ANSA
Às vésperas de ver a Itália se tornar o maior país da União Europeia governado por populistas, as forças europeístas já se levantaram para tentar conter eventuais arroubos eurocéticos por parte do primeiro-ministro encarregado Giuseppe Conte e da coalizão que o apoia.
Ter em Roma um governo guiado por partidos que sempre criticaram a UE e o euro é, para Bruxelas, mais ameaçador do que o “Brexit”. Ao contrário do Reino Unido, que nunca esteve plenamente conectado ao bloco, a Itália é um dos países fundadores da União Europeia e participou ativamente da construção política da integração no continente.
Foi em Roma, em 25 de março de 1957, que Alemanha Ocidental, Bélgica, França, Holanda, Itália e Luxemburgo assinaram os tratados que deram origem à Comunidade Econômica Europeia (CEE), uma união aduaneira que, no início da década de 1990, seria rebatizada como União Europeia.
É verdade que o programa escrito pelo Movimento 5 Estrelas (M5S) e pela Liga não prevê a saída do país da zona do euro ou qualquer rompimento com Bruxelas – contrariando antigas promessas dos dois partidos -, mas isso não diminui a preocupação dos eixos eurocéticos, da Alemanha à França, passando até pela Igreja Católica.
No encerramento de sua assembleia anual, nesta quinta-feira (24), a Conferência Episcopal Italiana (CEI) recomendou ao novo governo “fidelidade ao território e respiro europeu”.
Euro
O grande temor da UE quanto ao programa Liga-M5S diz respeito aos gastos que suas propostas demandarão, como o pagamento de um benefício mensal de 780 euros para desempregados e a redução de alíquotas no imposto de renda.
A Itália, embora esteja lentamente se recuperando da crise econômica, tem a segunda maior dívida pública do bloco, com pouco mais de 130% do PIB, atrás apenas da Grécia. Por conta disso, a UE vem forçando o país a manter seu déficit fiscal consideravelmente abaixo até mesmo dos 3% do PIB exigidos pelo bloco, de modo a iniciar um percurso de redução do débito.
Nos últimos dias, diversos países lançaram alertas para a Itália se ater aos regulamentos da União Europeia. “A França trabalhará com este governo italiano, porque a Itália é um parceiro importante, mas no respeito dos compromissos assumidos”, declarou a ministra francesa de Assuntos Europeus, Nathalie Loiseau, na terça (22).
Além disso, ela avisou que não é “desejável nem possível” que Roma aja “por conta própria” na Europa. “Nossos destinos estão intimamente ligados, trabalharemos no respeito dos valores fundamentais da União Europeia”, acrescentou.
Já o ministro de Economia da Alemanha, Peter Altmaier, disse esperar que Roma tenha um “governo pró-europeu, como nos últimos 70 anos”. Por sua vez, o vice-presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, cobrou uma política orçamentária “responsável”, lembrando da elevada dívida pública italiana.
O alerta encontrou eco nesta quinta-feira no comissário europeu para Assuntos Econômicos, Pierre Moscovici. “Há pontos sobre os quais estaremos atentos, como a dívida. Temos preocupações tangíveis sobre como colocar a dívida, que é alta, sob controle”, afirmou.
Até mesmo países menores cobraram publicamente a Itália. “Espero que o presidente não permita que o novo governo destrua todo o trabalho feito nos últimos anos na UE”, declarou o ministro das Relações Exteriores de Luxemburgo, Jean Asselborn, em um apelo ao chefe de Estado Sergio Mattarella.
O presidente da República Italiana, segundo informações de bastidores, tem resistido a nomear o professor Paolo Savona como ministro de Finanças por causa de suas posições antieuro – o candidato chegou a escrever que a moeda comum é uma criação da Alemanha para “dominar” o continente.
No entanto, Liga e M5S insistem em dar o comando da economia da Itália a Savona. “A Itália é muito importante para nós, acredito e espero que o novo governo respeite as regras orçamentárias e que não tome a zona do euro como refém por causa de promessas eleitorais”, alertou o ministro das Finanças da Eslováquia, Peter Kazimir.
Já seu homólogo de Malta, Edward Scicluna, afirmou que a Itália pode ser uma “repetição da Grécia”, embora seu novo governo possa “fazer bem à UE e ao establishment, porque levantará muitos questionamentos”.
A aliança entre M5S e Liga terá maioria relativamente folgada para implantar seus projetos no Parlamento, mas está sustentada em bases frágeis e em uma parceria que antes das eleições era rechaçada pelos dois partidos.
Além disso, Giuseppe Conte, um professor sem experiência política, terá pouca margem de manobra frente aos líderes do M5S, Luigi Di Maio, e da Liga, Matteo Salvini.